A Polícia Civil de São Paulo concluiu que Elize Matsunaga não teve ajuda no assassinato do marido Marcos Kitano Matsunaga em 2012. Cópia do relatório final da nova investigação, obtida pelo G1, não aponta uma terceira pessoa na cena do crime. O recurso que seria julgado nesta quarta-feira (18) pela 7ª Câmara Criminal – foi adiado a pedido da defesa. Por enquanto, não há confirmação se quando ele será julgado.
Em 2015, o Ministério Público (MP) havia pedido para o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) reabrir o caso. A Promotoria suspeitava que a bacharel em direito não agiu sozinha na morte do empresário, apesar de ela ter confessa o contrário.
Essa outra apuração do Departamento foi concluída no fim de 2017 pela equipe B-Sul. Um ano antes, Elize havia sido julgada sozinha pela Justiça pelo homicídio e ocultação de cadáver de Marcos. Acabou condenada a mais de 19 anos de prisão por balear o marido e esquartejar o corpo dele.
Na prática, esse novo documento reafirma conclusão anterior da equipe F-Sul do próprio DHPP: após investigar outras hipóteses e supostos suspeitos, ficou comprovado que só Elize matou Marcos, sem participação de eventuais cúmplices.
O relatório de 21 páginas é assinado pelo delegado Frederico Starosta. À época do crime, o caso tinha sido investigado por Mauro Gomes Dias.
A mulher sempre alegou ter atirado na cabeça do herdeiro da empresa de alimentos Yoki para se defender dele após uma discussão no apartamento do casal, na Zona Norte da capital paulista. E que, desesperada, usou em seguida uma faca para cortar o cadáver, colocando as partes em malas, as jogando fora. Isso tudo sem qualquer colaboração.
Em contrapartida, o promotor José Carlos Cosenzo contestava essa versão e acusou Elize de premeditar o crime. Para a Promotoria, ela assassinou Marcos para ficar com a herança dele, pelo fato de ter uma filha com o marido. E teria tido ajuda para tal.
No relatório final da nova investigação do DHPP o que reforça a conclusão de que Elize agiu sozinha no crime é a maioria das respostas dadas aos 12 questionamentos feitos pela Promotoria.
O MP pede, basicamente, mais perícias no prédio, além de reouvir mais de 30 pessoas que já prestaram depoimentos no caso e outras que ainda não tinham sido ouvidas. Mas tanto as provas técnicas quanto às testemunhas voltaram a negar ou desconhecer a participação de outra pessoa na cena do crime que não fosse Elize e Marcos.
Empregadas do casal, como as babás e cozinheira, e funcionários do condomínio, disseram não ter visto mais alguém do que Elize, Marcos e a filha do casal no dia do crime: 19 de maio de 2012.
Câmeras de segurança mostram o executivo descer no elevador e depois subir com uma pizza. No dia seguinte Elize aparece nas imagens carregando a filha e malas. Marcos não aparece porque já tinha sido morto e estava esquartejado dentro delas.
A Promotoria quis saber da investigação se tinham mais filmagens de Elize no prédio, mas o síndico, zelador e responsáveis pelo prédio disseram que não havia câmeras na garagem e nas escadas.
Um porteiro comentou ainda que também não viu mais alguém com Elize no carro porque o veículo “possuía películas escuras”.
Eles também negaram ter ocorrido algum “apagão das imagens” e contaram que não havia “controle da entrada e saída de visitantes, medida que passou a ser adotada após os fatos”.
Um policial militar que havia parado o carro de Elize por excesso de velocidade quando ela carregava as malas com o corpo de Marcos, disse que ela “estava sozinha e tranquila”.
O médico-legista que fez o exame necroscópico de Marcos e tinha dito anteriormente que ao menos duas pessoas teriam cortado o corpo foi ouvido novamente. Ele foi a única voz que levantou a possibilidade de Elize ter tido a ajuda de mais alguém no esquartejamento.
Comentou que uma pessoa sozinha levaria mais oito horas para cortar o cadáver e que duas pessoas conseguiriam esquartejar o corpo em seis horas. “Pela versão de Elize de que teria durado quatro horas, o legista achou improvável”, informa trecho do relatório.
Laudo do IML
Mas o mesmo documento derruba a possibilidade de Elize ter tido ajuda quando descreve o resultado do resultado de novo exame pericial sobre os cortes no corpo do empresário. O laudo indireto informa não ser possível informar se ela teve ajuda de alguém para esquartejar o marido.
“Laudo indireto do IML [Instituto Médico Legal] a respeito da vítima Marcos (…) concluiu não ter elementos para inferir o número de agentes que promoveram o esquartejamento”, informa trecho do documento.
depoimento de um preso que chegou a contar que sua família ajudou a bacharel a se livrar do corpo, mas depois voltou atrás no que disse. “Nega ter feito referência à ocultação de cadáver de Marcos”.
O relatório final foi encaminhado à Justiça e não retornou ao DHPP.
O G1 não conseguiu localizar Cosenzo para comentar o assunto nesta quarta-feira (18). Luciano Santoro, que defende Elize, se disse satisfeito com a conclusão do novo relatório do DHPP.
“A polícia confirmou aquilo que ela mesma já tinha informado em junho de 2012: não há terceira pessoa”, disse Santoro, que criticou a posição do MP em ter pedido a reabertura do caso. “Em um país em que não punimos 92% de autores de homicídio, rasgar dinheiro e recursos humanos em um caso de ré confessa e resolvido em 1 mês pela polícia é um tapa na cara da sociedade”
Elize cumpre a pena de prisão na penitenciária feminina de Tremembé, interior de São Paulo.
Ministério Público (MP) quer anular o júri de 2016 que condenou Elize Matsunaga a 19 anos de prisão pelo assassinato do marido em São Paulo. Para a Promotoria, a mulher tem de ser julgada novamente para receber uma pena maior.
Do lado oposto, os advogados de Elize não querem a anulação do julgamento que a condenou. Eles pedem, no entanto, a redução da pena que ela recebeu. Caberá ao Tribunal de Justiça (TJ) julgar neste ano os pedidos feitos pela acusação e defesa. A previsão é que isso ocorra ainda neste mês.
As apelações deveriam ter sido julgadas nesta quarta-feira (18) pela 7ª Câmara de Direito Criminal do TJ, mas a pedido da defesa, que quis mais tempo para se inteirar do processo, o julgamento foi adiado. Ainda não há data de quando elas serão apreciadas pelos desembargadores, de acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal.