Quando eu era criança, eu via o mundo através da Barsa e da Conhecer (ambas enciclopédias pré-internet) que eram nossas fontes de informação para pesquisa. Eram volumes de informação que caberiam assim, no seu IPhone 1.

Mergulhado naquilo, eu era obcecado com a ideia de visitar o Egito, a Jordânia, a Síria e o Irã, os berços da civilização. Este último país foi minha primeira decepção quando da revolução islâmica e invasão da embaixada Americana. Meu subconsciente informou-me que não era lá uma boa ideia viajar pelo Irã. Ok, eu pensei. Ainda tenho o Egito, a Jordânia ou a Síria. Comprava livros e guias de viagem, embevecido com imagens românticas de Petra, Damascus ou todo o magnífico Egito. Filmes, livros, postais de amigos. Um sonho que eu alimentava com papel de folhetos da Varig.

Claro que era um sonho pois eu, menino pobre, jamais seria levado por minhas pernas além da saudosa Iguaba.

Eis que vem o passado recente e eu me vejo fazendo parte de um grupo pequeno mas valioso, que rodou por aí, mundo a fora defendendo o Rio de Janeiro como destino turístico. Eram dias de Leonel Brizola e por tamanha tristeza e decepção, não mais sobre isso eu falar preciso, como diria o Mestre Yoda.

Hoje, meu sonho foi para o saco: tenho medo de ir a Jordânia devido ao seu alinhamento com a America e o risco que isso implica. Turistas foram fuzilados em diferentes momentos e locais do Egito, riscando este belo país da minha lista também. Falando em riscar, a Síria foi apagada do interesse de todo turista ou visitante, a não ser dos milicos Russos, médicos sem fronteiras e Cruz Vermelha.

Estes são lugares aos quais eu sempre quis ir mas pelo bem da minha vida, desisti. Ainda sonho com a recuperação e a paz, com sociedades destruídas utilizando o turismo para recuperar suas economias, promovendo a verdadeira revolução árabe. Ainda sonho com o renascimento de uma civilização a luz do Q’aram, com paz, caridade e evolução.

Agora pense no meu amigo Joshua. Ele é um americano médio de pouco mais de 60 anos, viaja duas vezes por ano, conhece bem o Caribe, a América do Sul, Europa e Ásia. Sempre foi influenciado pelo cinema, por desenhos e pelas lindas propagandas a visitar o Rio. Seu sonho atravessou os anos 80 (estertores dos anos de chumbo), os anos 90 e os avisos do governo americano para evitar o Rio, e chegou no nosso presente. Este último período, vamos combinar que não ajuda muito.

Não sei se o “inverno” árabe vai passar em breve, mas se passar o que sobrará? Não sei se vamos superar o momento que vive o Rio de Janeiro, mas no meu sonho, assistíamos a “blue moon” no alto da estrada das paineiras, iluminando o Leblon e Ipanema. Conversávamos sobre a literatura que devorávamos em pé, na calçada de Copacabana comendo sanduíche de pernil com abacaxi. Assistíamos o florescer do BRock em Ipanema e depois na Lapa e o maior risco corrido era o da salmonela nos “hot-drougs” de rua.

É uma pena mas as minhas memórias não resolvem a cumplicidade de um estado corrupto, acostumado às refeições conjuntas nos cochos do crime. Eu não sei o que precisa ser feito no Rio ou nos países Árabes (eu sei, entretanto esta coluna não é um palanque político), mas o que eu sei é que eu e o Joshua não temos planos para passear em nenhum destes lugares no futuro próximo.

           

*Executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência