Em 1º de Maio, o Dia do Trabalho (ou Dia do Trabalhador) é comemorado em muitos países. Há motivos para festa? Sim, porque é um dia dedicado a reafirmar a importância do trabalho na vida de cada pessoa e a repensar os direitos de milhões de trabalhadores, nem sempre respeitados, em especial dos mais pobres e das vítimas de migrações forçadas. E há motivos para reflexão? Muito mais. O avanço avassalador do uso de novas tecnologias está criando novas profissões, mas, principalmente, fazendo desaparecer quase que da noite para o dia milhões de postos de trabalho.
Você se considera seguro em sua profissão? Mais do que em qualquer outra época da história da humanidade, como ocorreu nas grandes descobertas que levaram à revolução industrial, o mundo vive hoje um período turbulento e de profundas transformações. Com uma visão futurista do mercado de trabalho, o autor japonês Ryuho Okawa deixa recado sintomático aos jovens profissionais em seu livro Trabalho e Amor: “Devem escolher intencionalmente trabalhos que os outros não querem fazer. Devem sentir prazer em navegar por mares desconhecidos e apostar seu futuro em áreas menos conhecidas.”
Tarefas que você está executando com muita dedicação, baseado no que aprendeu durante anos de formação e pela experiência, podem ser substituídas a qualquer momento por um robô ou um software. Há dezenas de exemplos. Quase ninguém mais recorda de funções como telefonista, alfaiate, costureira, sapateiro, arquivista, digitador, cobrador de ônibus e todas aquelas ligadas à indústria e substituídas por robôs. Nos serviços públicos, dezenas de funções burocráticas estão sendo engolidas pela informatização. E a automação dos serviços bancários já está eliminando milhares de empregos no setor. Até mesmo no campo, lavradores estão sendo substituídos por máquinas.
Há mudanças mesmo em profissões criativas, consideradas quase intocáveis por exigir grande volume de conhecimento e experiência. Ninguém mais está totalmente protegido. É o caso do jornalismo, da advocacia e até da medicina. Alimentados por grande quantidade de dados, há computadores capazes de escrever um texto ou de montar um processo de defesa.
Na área médica, equipamentos com finalidade diagnóstica já são vendidos com programas baseados em algoritmos que podem ajudar, por exemplo, um ortopedista a detectar alguma anormalidade em um raio-X ou em outros exames de imagem, como aqueles que mapeiam a retina em busca de degenerações. A Inteligência Artificial pode se igualar e até superar o homem quando o assunto é saber quem é doente e quem não é (Folha de S.Paulo, 22/2/2018). Cada vez mais, o médico divide sua rotina com o computador.
Nós trabalhadores devemos ficar de olhos abertos, nunca deixar de estudar e ter a consciência de que precisamos constantemente nos reinventar e apostar em áreas que ainda não tenham alcançado o pleno desenvolvimento. É impensável em um mercado de trabalho em constante evolução achar que teremos 30 ou 40 anos de profissão sem enfrentar tropeços. Ainda de acordo com Okawa, uma das condições para o sucesso neste novo mundo dominado pela tecnologia é “progredir num campo absolutamente desvinculado de qualquer coisa que tenha sido feita, e então combinar o novo com o velho para criar algo totalmente original”. Para ele, a tendência atual é o fortalecimento de profissões e trabalhos capazes de trazer felicidade ao ser humano, com menos consumismo e mais sustentabilidade – uma reação aos excessos da economia atual.
As tendências do futuro são voltadas para coisas que brotam de uma diferente maneira de pensar. Crianças e jovens precisam ser conscientizados dessa realidade desde o início de sua formação. Como líderes da sociedade do futuro, deverão ser capazes de guiar a humanidade por caminhos desconhecidos. Que o Dia do Trabalho seja um momento de festa, de reivindicar direitos, mas acima de tudo de reflexão.
*Consultor de novos negócios da editora IRH Press do Brasil, que publica em português as obras de Ryuho Okawa.