O presidente Michel Temer ouve muita gente. Ouve assessor, ouve amigo, ouve aliado. Mas toma decisões importantes baseadas em conselhos de um pequeno núcleo. Poucas pessoas deste restrito grupo são ouvidas para assuntos gerais e irrestritos, e dois personagens são praticamente onipresentes nas decisões de Temer. Um é o ministro Moreira Franco. O outro, o marqueteiro Elsinho Mouco. É a dupla responsável por fazer Temer acreditar – e discutir a sério – uma candidatura à Presidência da República em outubro.

Aliados de Temer ouvidos desde esta terça-feira (1º) pelo blog afirmam que partiu do marqueteiro a “sugestão” para que o presidente comparecesse ao local do prédio que desabou em São Paulo. Temer acabou hostilizado, e precisou sair às pressas. O Planalto busca culpados para a “exposição” do presidente. A decisão, no entanto, foi política. Nada a ver com logística. Quase um desafio de Temer a Temer: o presidente queria mostrar que, contrariando críticos, consegue sim sair às ruas.

A estratégia, explicam os emedebistas, era rebater críticas recentes de que Temer não pode sair de Brasília por dois motivos: denúncias e impopularidade. E os dois fatores combinados enterram a plataforma de qualquer político que se diga pré-candidato, uma vez que postulantes a cargos públicos precisam pedir votos na rua.

Há dois dias, Temer cancelou, pela segunda vez, uma viagem ao Sudeste Asiático – que ocorreria no final desta semana. Temer cancelou a viagem para monitorar de perto os desdobramentos da investigação contra ele sobre o Porto de Santos, que agora miram também familiares do presidente. Para os próximos dias, o Planalto já trabalha com o cenário de, Raquel Dodge, procuradora-geral da República, opinar pela prorrogação do inquérito dos Portos, por mais 60 dias.

O Planalto diz que, oficialmente, Temer cancelou a viagem por motivos de votações no Congresso. O governo não tinha expectativa de votar nada nem antes nem depois do giro de Temer no exterior. O motivo único do cancelamento é a repercussão das investigações.

 

Ao avaliar o episódio envolvendo Temer nesta terça-feira (1º), em São Paulo, assessores do presidente repetiam o que tentam propagar desde o início do inferno astral de Temer quando da delação da JBS, em 2017: “o problema do presidente é o seu entorno, são os conselheiros, é que ele atende a todos”.

A clássica tentativa de terceirizar a responsabilidade do desgaste. Quando o governo acerta, os louros são do presidente, como divulgou no primeiro momento o próprio Temer, ao avaliar como “jogada de mestre” a intervenção federal no Rio. Quando o Planalto erra, buscam-se culpados. Como o que ocorreu na capital paulista.

O problema é que Temer escuta a todos mas gosta de repetir que a palavra final é sua. Como na sexta (27), em que, contrariando assessores, decidiu fazer um pronunciamento acusando a Polícia Federal de vazamentos do inquérito dos Portos. Ou como na terça, em que, após ouvir conselhos daqui e dali, decidiu passar no local do desabamento, sem conseguir ficar.

Como em outras situações de “desgastes” para a imagem presidencial, quando Temer abriu as portas de casa para receber Joesley Batista e foi gravado. Foi também uma decisão de Temer estar em São Paulo, no local do desabamento. Mais uma escolha do presidente.