Enquanto a cura da AIDS não vem, dezembro é o mês de conscientizar a população sobre os sintomas e formas de prevenção e contágio do vírus HIV. Apesar do número de pessoas infectadas estar em queda nos últimos anos, de acordo com relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU), o índice vem crescendo em mulheres entre 15 e 19 anos e também entre aquelas com mais de 60 anos. Só para se ter uma ideia da gravidade da situação na população mais velha, na última década, no Brasil, foi registrado um aumento de 103% no número de casos de AIDS entre pessoas idosas, segundo o Ministério da Saúde.
“Infelizmente hoje muitas pessoas estão deixando de se preocupar com a AIDS e não usam camisinha durante o ato sexual. O crescimento da AIDS entre adolescentes mostra a inconsequência de não usar preservativo durante o sexo. O mesmo ocorre entre as idosas com mais de 60 anos. Praticar sexo depois dos 60, dos 70 anos, exige os mesmos cuidados indicados aos mais jovens. É importante que todas as mulheres conversem com seus parceiros sobre o uso de preservativo”, alerta Juliana Pierobon, ginecologista da ALTACASA Clínica Médica, em São Paulo.
A especialista explica que as mulheres na pós-menopausa muitas vezes deixam de usar o preservativo por não correrem mais o risco de engravidar e isso acaba abrindo portas para que contraiam o vírus da AIDS. “Além de serem de uma geração anterior à AIDS e por isso muitas não têm o hábito de exigir o preservativo, ainda tem essa questão de não mais engravidar. Por isso o índice de mulheres com HIV após os 60 anos tem crescido tanto”, ressalta a médica.
Mas o mundo mudou. Hoje, a oferta de estimulantes sexuais, lubrificantes e mesmo o surgimento de aplicativos de relacionamento transformou drasticamente as relações, o que vem impactando no número de parceiros sexuais, inclusive entre mulheres mais maduras. Por isso, o uso de preservativo, seja ele o preservativo masculino – o mais usado – ou o feminino, é fundamental em todas as relações, principalmente nas casuais. É uma questão de hábito e adaptação.
O que dificulta a vida da maioria das pessoas com AIDS é o preconceito. No caso das mulheres, na maioria das vezes, a visão do HIV está ligada à promiscuidade. No Brasil, de 1980 até junho de 2017, 306.444 mulheres contraíram o vírus da Aids. “O preconceito e o medo aumentam os riscos do contágio. Muitas vezes, as mulheres se questionam se devem pedir ao parceiro para usar camisinha ou não, ou até mesmo se devem contar para ele sua condição de soropositiva. É preciso se informar, conversar com o parceiro e confiar. A segurança é a chave para uma vida sexual plena”, pontua a ginecologista da clínica Altacasa, que faz um outro alerta: “Mesmo que as chances do homem transmitir o HIV sejam maiores, as mulheres também podem ser transmissoras do vírus”.
Uma vez contraído o vírus, ainda é possível ter uma vida com qualidade. A ONU estima que, atualmente, 75% dos indivíduos que vivem com o HIV conhecem seu estado sorológico. Essa condição é importante porque, com o tratamento e o vírus indetectável, a pessoa não é capaz de transmiti-lo e ainda consegue manter uma boa qualidade de vida, sem manifestar os sintomas da Aids. O que faz com que um soropositivo tenha o vírus indetectável é o tratamento com medicamentos antirretrovirais, chamado ‘coquetel antiaids’.
No Brasil, 92% das pessoas que fazem esse tratamento já atingiram o estado de vírus indetectáveis.
E para os quase meio milhão de brasileiros em tratamento, desde janeiro de 2017, o Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou uma nova geração de medicamentos, mais eficiente e com menos efeitos colaterais.
Mesmo assim, a ginecologista explica que os cuidados devem ser permanentes e que o uso do preservativo é fundamental também na relação sexual entre duas pessoas com HIV, já que as mutações e resistências do vírus são diferentes, de acordo com cada organismo. “A infecção acontece por meio de uma quantidade pequena de vírus, que sofre mutações. O sistema imune pode eliminar alguns desses vírus modificados e manter aquela mutação que mais se adaptou ao corpo. Ao fazer sexo sem preservativo com outra pessoa soropositiva e com o vírus ainda detectável, há o risco da transmissão de um subtipo de vírus mais resistente”, explica Juliana Pierobon.
O vírus HIV infecta células do sistema imunológico, destruindo ou prejudicando seu funcionamento. A infecção resulta em uma progressiva deterioração das defesas do paciente, facilitando o surgimento de outras infecções e problemas de saúde, quando não há tratamento. O vírus pode ser transmitido pelo sangue, sêmen, secreção vaginal, no ato sexual ou ao compartilhar agulhas e seringas com alguém com o HIV.
Diante de todo esse cenário, a prevenção é fundamental. Duas ações são importantes: manter hábitos que tornam o sexo seguro e fazer exames de sangue periódicos para uma detecção precoce do vírus, em caso de contaminação. O exame pode ser feito na rede pública de saúde, de forma gratuita, e o resultado é seguro e estritamente sigiloso.
Dados do UNAIDS (Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids) mostram que cerca de 870 mil mulheres se infectam com o HIV todos os anos no mundo, colocando a AIDS como a maior causa de mortes entre mulheres em idade reprodutiva (de 15 a 49 anos).