O 13º salário, cujo a segunda parcela deve ser depositada até o dia 20 de dezembro, é uma renda-extra bastante esperada pelos brasileiros, mas não para atender suas satisfações pessoais e levar a realização de seus sonhos, como um presente. Pelo contrário, desde 1962, quando foi criado, muita gente aguarda ansiosamente o beneficio para cobrir o seu desequilíbrio financeiro. Muitos até recorrem aos bancos que oferecem a antecipação desse recurso como uma forma de empréstimo, para conseguir quitar dívidas ou amenizá-las.
Usar o 13º salário para isso é combater apenas os efeitos do endividamento, e não a causa. Com essa atitude, só estará mascarando o real e verdadeiro problema, que é a ausência de educação financeira em toda família. O pagamento das dívidas contraídas precisa ser feito com o próprio salário, e se houver dificuldades é necessária uma redução de gastos. Em todos esses anos de experiência, vejo que a grande maioria das pessoas que estão nessa situação não respeita o seu próprio padrão de vida.
É apenas sabendo exatamente o quanto entra e o quanto sai do bolso mensalmente que é possível administrar os gastos sem ficar no vermelho. Assim, mesmo se for necessário entrar em um financiamento para a realização de um sonho, que não seria acessível no momento desejado de outra forma, é importante avaliar se as parcelas, de fato, caberão no orçamento, levando em conta todas as outras despesas e os demais sonhos.
Portanto, antes de ir compulsivamente às compras neste final de ano, faça um diagnóstico da sua situação financeira. Relacione todas as despesas fixas e variáveis para descobrir o comprometimento dos seus ganhos com as dívidas. Investigue para onde está indo cada centavo do seu dinheiro. Só assim conseguirá saber quais são os gastos supérfluos que podem ser eliminados.
Verifique se está altamente endividado, ou seja, se já tem mais despesas do que seu bolso suporta. Certifique-se de que, mesmo estando no azul, irá conseguir pagar as compras que pretende fazer, lembrando que ao entrar em endividamentos agora, estará criando parcelas que se arrastarão pelo ano seguinte.
Portanto, faça escolhas que estejam dentro do seu padrão de vida. Se as condições não permitem, procure opções mais prazerosas e de menor valor. O ideal é não se endividar com compras e viagens de final de ano, então pesquise os melhores preços de presentes e itens da ceia e das festas e experimente estipular um valor máximo a gastar com cada item. Na hora de pagar, peça desconto, sempre.
Felizmente, nem todos estão endividados. Quem está em uma situação mais confortável, de equilíbrio financeiro, mas ainda não tem o hábito de poupar, pode aproveitar a chegada do 13º salário para iniciar uma reserva e manter essa prática de poupar.
Para quem já tem perfil investidor, o 13º é uma ótima oportunidade para incrementar o investimento. 50% pode ser destinado para alguma aplicação que já possua e os outros 50% pode servir para planejar um salto em direção à sua independência financeira, investindo, por exemplo, em previdência privada.
E lembre-se: fim de ano é tempo de fazer planos para o futuro. Aproveite para reunir a família, inclusive as crianças, para conversar sobre o que querem realizar no futuro. Definam pelo menos três sonhos prioritários que tenham diferentes prazos a serem realizados: curto (em até um ano), médio (em até dez anos) e longo (acima de dez anos). Acredite, esse será um fator de motivação, um grande estímulo para ajustar e conduzir o orçamento familiar.
Ações simples para controlar as finanças nesse fim de ano
Evite compras por impulso: Algumas perguntas devem ser feitas antes de comprar, como: estou comprando por necessidade real ou movido(a) por outro sentimento, como carência ou baixa autoestima? Se não comprar isso hoje, o que acontecerá? Tenho dinheiro para comprar à vista? Se comprar a prazo, terei o valor das parcelas? O acúmulo de parcelas colocará em risco a realização dos sonhos que priorizei com a família?
Pesquise preços e compre à vista: Pode parecer difícil, mas, com planejamento dá para comprar à vista tudo aquilo que deseja. Quem poupa dinheiro e pesquisa o melhor preço, paga menos e tem grandes chances de conseguir bons descontos. Lembre-se, as prestações também são formas de endividamento.
Peça descontos: Um grande problema do brasileiro é a vergonha na hora de negociar, assim, deixe isso de lado, não há problema nenhum em buscar o melhor preço. Se um produto custa mil reais e pode ser parcelado em 10 vezes de 100 reais, certamente à vista custará de 10% a 20% menos.
Retenha 10% dos rendimentos: Para começar a construir a independência financeira, é preciso guardar cerca de 10% daquilo que ganha. Com o tempo, pode-se partir para um plano de previdência privada e conseguir complementar a aposentadoria pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Se atente às dívidas: É importante sempre investigar o que o leva a gastar mais do que ganha, deixando assim de poupar para a realização de sonhos. Partir para a renegociação ou buscar acordos com o(s) credor(es) sem antes saber qual é a sua real capacidade de pagamento, sem cortar excessos ou ajustar o orçamento ao verdadeiro padrão de vida, é um grande risco, além de uma medida paliativa que apenas atrasa a solução do problema.
Como economizar na compra do material escolar
Para quem tem filhos, um dos maiores gastos no início do ano é com a compra do material escolar. Mas, devido à falta de educação financeira, muitas despesas se acumulam e as famílias se perdem em meio a tantas contas para pagar, ultrapassando, muitas vezes, o limite do seu orçamento financeiro.
A maior dúvida nesse momento é como economizar sem ter que abrir mão de obter os itens que as crianças necessitam. Para começar, sempre recomendo que pensem o quanto precisam trabalhar para conseguir o seu salário. A partir daí, fica fácil valorizar esse dinheiro, aprendendo a pesquisar preço e, principalmente, a negociar os valores das compras.
Além de ter consciência do quanto poderá dispor para a aquisição do material escolar, após fazer o diagnostico financeiro, é fundamental ir às compras com antecedência para não precisar ser obrigado a pagar mais caro de última hora. Elaborei algumas orientações sobre o assunto. São elas:
- Procure conversar com outros pais e tentar fazer a compra em conjunto, pois, assim, a probabilidade de conseguir preços menores aumenta;
- Junte o material escolar do ano anterior e veja a possibilidade de reutilizá-los. É possível ainda reaproveitar livros didáticos do filho mais velho para o mais novo, se for o caso. Se não der, faça uma boa ação e doe o material para crianças ou jovens de famílias que não possuem condições de comprá-los;
- Faça uma lista do que precisa comprar para não se perder e acabar rendendo-se aos impulsos consumistas, deixando de economizar para os sonhos;
- Converse com os filhos antes de sair às compras, explicando a situação em que a família se encontra e o quanto poderão gastar com os materiais. Caso contrário, eles poderão achar que é possível comprar tudo na loja e acabará sendo mais difícil não ceder aos pedidos – o que levará a um gasto maior do que o planejado;
- Quando estiver na loja, seja sincero e explique ao vendedor de forma clara o que você precisa, buscando sempre a melhor opção de pagamento. Sempre pergunte “quanto aquele produto custa à vista?”, para conseguir bons descontos. Se tiver que pagar a prazo, veja se as parcelas caberão no orçamento mensal.
Comprar materiais escolares requer cuidados, mas o investimento vale a pena, pois é o que dará a base necessária para os estudos. Preocupar-se em economizar sem deixar de proporcionar o que a família precisa faz parte do processo de educação financeira. Passe esses ensinamentos aos pequenos, pois, se aprenderem agora, se tornarão adultos mais conscientes e saudáveis financeiramente.
Como planejar pagamento de IPVA e IPTU
Dois dos gastos que mais “atrapalham” a vida financeira dos brasileiros são o IPVA e o IPTU, mas não precisa ser assim. O grande erro está em não programar seu pagamento com antecedência. Como a maioria das pessoas não traçam um planejamento anual, acabam começando um ano novo com dificuldades financeiras, já que no período há também gastos com matrícula e material escolar, entre outros.
Uma dúvida muito comum em relação ao IPTU e ao IPVA é sobre a condição de pagamento: é melhor à vista ou a prazo? Antes de ter essa resposta, é preciso saber em que situação financeira você se encontra: endividado, equilibrado financeiramente ou investidor.
Se for a primeira ou segunda opção, dificilmente conseguirá fazer o pagamento à vista, restando o caminho do parcelamento. Lembrando que se deve evitar ao máximo recorrer a empréstimos, limites do cheque especial ou qualquer outra maneira de crédito do mercado financeiro, pois isso apenas se tornaria uma bola de neve, devido aos juros altíssimos cobrados.
Agora, caso a situação financeira esteja mais confortável, sendo investidor, recomendo, sem dúvida nenhuma que o pagamento seja feito à vista, já que obterá 3% de desconto no IPVA e 6%, em média, no IPTU. Mas é importante ficar atento aos compromissos futuros; muitas pessoas se deixam levar pelo bom desconto e acabam esquecendo que haverá outras contas a serem pagas naquele mesmo mês ou nos próximos. De que adianta pagar à vista e conseguir desconto em uma despesa e não ter dinheiro suficiente para quitar as outras?
Isso nos leva a outro importante aspecto da educação financeira: ter reserva financeira. Isso evita problemas como esse e nos deixa mais seguros, em caso de imprevistos. Enfim, com planejamento, é possível terminar e começar o ano com segurança de uma vida financeira saudável e muitas realizações.