Todo início de ano, o mesmo cenário se repete: os indefectíveis carnês de IPTU e IPVA já chegaram, com reajustes de 4,2% e 8% em média –, isso sem contar a “ressaca financeira” gerada pelas festas de fim de ano, confraternizações de “amigo secreto” e presentes para as famílias. Some-se a isso as contas de janeiro com material escolar, matrícula (10% em média para o próximo ano letivo) e o “cobertor” do orçamento doméstico vai ficando cada vez mais curto para as famílias.

Diante do dilema, o Correio do Estado reuniu dicas de especialistas para poder atravessar este período de turbulência financeira de forma menos dramática. “Levando-se em conta o cenário nacional, que mostra um País em crise, com alta taxa de desemprego, juros altíssimos, economia estagnada, é bom planejar os gastos para evitar mais endividamento”, destaca o pesquisador e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes) da Uniderp, Celso Correia de Souza.

Segundo o economista, é bom fazer um planejamento, uma reeducação financeira e uma dica é usar a tecnologia ao próprio favor. “Já é possível, por exemplo, encontrar muitos aplicativos que nos ajudam nesse empreendimento, pois, um gasto alto de início de ano para quem não foi planejado, pode se tornar um gasto do ano inteiro, pois, poderá ser necessário parcelar com contas a vencer o ano todo”, alertou.

IMPOSTO DE RENDA

O Imposto de Renda (IR) deve ser declarado entre março e abril por pessoas com renda anual maior que R$ 28.559,70.

O que dizem os especialistas: o Imposto de Renda não ocorre no início do ano, mas o consumidor tem de estar atento, pois pode ser uma despesa pesada para o orçamento. Parte desse imposto já é costumeiramente recolhida na fonte. Caso exista imposto remanescente na fonte, este também deverá ser pago à vista ou em até 8 parcelas, a partir de 30 de abril de todo ano. Se for retido na fonte um imposto superior ao devido, há a possibilidade de restituição de parte do valor, trazendo assim uma renda extra.

IPTU

O porcentual de reajuste para o tributo imobiliário apresentou variação de 4,28% entre os meses de outubro de 2017 até setembro de 2018.

O que dizem os especialistas: o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) é pago independentemente de quem tem imóvel próprio ou paga aluguel – neste último caso, muitas vezes ele já está incluso no valor do aluguel. Esse imposto é cobrado pelas prefeituras, de modo geral, a partir do mês de fevereiro, podendo ser pago à vista, com desconto, ou parcelado, para ser pago ao longo do ano. “Geralmente, esse desconto para pagamento à vista é muito vantajoso, com índice de desconto superior à inflação do período”, destaca Correia.

De acordo com as regras de pagamento para o exercício 2019, para quem optar por à vista, até 10 de janeiro, o desconto será de 20%. Já para o pagamento à vista até 11 de fevereiro, o desconto será de 10%.

O contribuinte também pode optar pelo parcelamento, que pode ser feito em até 10 vezes para os carnês com valores superiores a R$ 500.

IPVA

Neste ano, 1,5 milhão de contribuintes receberam carnês para pagamento do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). A alíquota do imposto foi mantida pelo governo do Estado, assim como os descontos para pagamento à vista. Com o abatimento de 30% no índice de 5% válido em MS, o porcentual para veículos automotores ficará em 3,5% sobre o valor venal, conforme tabela elaborada pela Fipe. Os porcentuais aplicados são os mesmos praticados no ano de 2016, 2017 e 2018.

O que dizem os especialistas: o IPVA é cobrado a partir de 31 de janeiro e oferece um valor com desconto quando pago à vista muito vantajoso também, ou em parcelamento em quatro vezes mensais. “Conforme o fim da chapa do veículo, ainda tem o licenciamento obrigatório, com pagamento do seguro obrigatório do veículo. Esse montante não costuma ser muito alto, a não ser que o veículo tenha multa, que até o ano passado deveria ser pago à vista”,  explica o pesquisador do Nepes.

O especialista em educação financeira Reinaldo Domingos destaca ainda que para decidir a melhor condição de pagamento é preciso saber em que situação financeira o consumidor está: endividado, equilibrado financeiramente ou investidor.

“Se for a primeira ou segunda opção, dificilmente conseguirá fazer o pagamento à vista, restando o caminho do parcelamento. Lembrando que se deve evitar ao máximo recorrer a empréstimos, limites do cheque especial ou qualquer outra maneira de crédito do mercado financeiro, pois isso apenas se tornaria uma bola de neve, em razão dos juros altíssimos. Agora, caso a situação financeira esteja mais confortável, sendo investidor, recomendo, sem dúvida nenhuma, que o pagamento seja feito à vista. Mas é importante ficar atento aos compromissos futuros; muitas pessoas se deixam levar pelo bom desconto e acabam esquecendo que haverá outras contas a serem pagas”, alertou.

FAÇA UM DIAGNÓSTICO

Segundo Reinaldo Domingos, doutor em Educação Financeira e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), antes de ir compulsivamente às compras, é aconselhável que o consumidor faça um diagnóstico da sua situação financeira. “Se as condições não permitem, procure opções mais prazerosas e de menor valor. Na hora de pagar, peça desconto, sempre”, ressaltou.

Educação: mensalidade e material escolar

Somente para as mensalidades das escolas particulares de MS, a estimativa de reajuste para 2019 é de 10%.

O que dizem os especialistas: além da matrícula, é preciso ter consciência do quanto poderá dispor para a aquisição do material escolar. Após fazer o diagnóstico financeiro, é fundamental ir às compras com antecedência para não precisar ser obrigado a pagar mais caro de última hora, destaca Reinaldo Domingos.

“Procure conversar com outros pais e tentar fazer a compra em conjunto, pois, assim, a probabilidade de conseguir preços menores aumenta; junte o material escolar do ano anterior e veja a possibilidade de reutilizá-lo; faça uma lista do que precisa comprar para não se perder e não ceder aos impulsos consumistas; converse com os filhos antes de sair às compras. Sempre pergunte quanto aquele produto custa à vista, para conseguir descontos. Se tiver de pagar a prazo, veja se as parcelas caberão no orçamento mensal”, orientou.

O consumidor deve anotar em uma planilha, ou aplicativo, a sua renda mensal, fazendo em seguida o levantamento de todos os gastos. São eles: residência (como prestação da casa ou aluguel, água, energia, telefone, IPTU); alimentação; saúde; transporte; despesas pessoais (roupas, calçados, cosméticos, etc); educação; dívidas (como fatura do cartão de crédito, crediário, empréstimo); e lazer (viagem, restaurante, jogos, etc.).

“Feito esse levantamento, some todas essas despesas e subtraia-a do total da renda. Se não sobrou dinheiro, o negócio é mais complicado, pois, certamente, se recorrerá a empréstimos, começando muito mal o ano. Se sobrou, parabéns, pois o excedente pode ser guardado”, explicou o especialista Celso Correia de Souza.