A oposição e o governo da Venezuela voltam a medir suas forças nas ruas, nesta quarta-feira (23), depois de duas semanas de crescente tensão. Ambos convocaram manifestações, no aniversário do golpe cívico-militar que derrotou a ditadura do general Marcos PérezJiménez, em 1958.

Para o argentino Rosendo Fraga, especialista em estudos militares, não deve se confirmar a  expectativa da oposição venezuelana que deposita no crescente descontentamento dos militares com a crise a possibilidade de revolta nos quartéis e a queda do regime do presidente Nicolás Maduro.

“Acho pouco provável que isso aconteça”, disse o especialista à Agência Brasil. “A Venezuela mudou. Deixou de ser um país governado por um populista autoritário, que era o caso do ex-presidente Hugo Chávez, para virar um regime totalitário, ao estilo cubano. Com isso, as Forças Armadas deixaram de estar a serviço da nação, para estar a serviço do Partido Socialista da Venezuela.”

Análise

Fraga lembrou que o regime comunista cubano resistiu a mais de meio século de boicote, imposto pelos Estados Unidos, à dissolução da União Soviética, seu principal aliado na Guerra Fria, e a sucessivas crises econômicas.

“A Venezuela, além de ter as maiores reservas mundiais de petróleo, conta com financiamento da China e da Rússia”, disse. “Os Estados Unidos, o Brasil e os países da região estão aumentando a pressão política, mas acho difícil que participem de uma intervenção militar até porque qualquer plano para derrubar Maduro vai requerer dinheiro para ajudar o novo governo a endireitar a economia, ajuda de alimentação e forças de paz.”

No momento em que os Estados Unidos retiram suas tropas da Síria, reduzindo a sua presença no Afeganistão, Fraga avalia como pouco provável que atuem militarmente na Venezuela.

Nova oposição

Os opositores têm como líder o jovem deputado Juan Guaidó, de 35 anos, do partido Vontade Popular – o mesmo de Leopoldo Lopez, que cumpre prisão domiciliar, acusado de ter incentivado a violência nos protestos de 2017, que resultaram na morte de mais de 120 pessoas.

Ontem (22), o ministro da Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, sinalizou que Guaidó pode sofrer as mesmas represálias que Lopez. Ele responsabilizou os “terroristas da Vontade Popular” pela rebelião de 27 integrantes da Guarda Bolivariana (a policia militar venezuelana), na segunda-feira (21).

Segundo o ministro, os rebeldes – que  foram detidos – roubaram armas para ajudar o partido opositor “a organizar atos de violência (na manifestação de hoje) e um eventual assalto ao Palácio (presidencial) de Miraflores”.

EUA

Ontem também, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, enviou mensagem de apoio aos que “levantarem a voz” contra o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, a quem chamou de “ditador”. Pence elogiou Guaidó por comandar o Parlamento venezuelano. Segundo ele, Guaidó teve uma atitude corajosa ao declarar Maduro um “usurpador”.