A Academia Americana de Pediatria pediu ao Facebook, ao Google e ao Pinterest ajuda para impedir a disseminação da desinformação on-line sobre vacinas. Três cartas públicas foram enviadas aos gigantes da tecnologia recentemente.
Só no EUA, em 2019, houve seis surtos de sarampo até agora. Em janeiro, o governador de Washington declarou estado de emergência para ajudar a conter um surto que incluiu 71 casos – a grande maioria dos quais em indivíduos não vacinados. E em Nova York, houve 133 casos confirmados de sarampo de um surto que começou em outubro.
As autoridades de saúde pública americana dizem que esses surtos são motivados, em parte, por desinformação sobre a segurança e a eficácia das vacinas, incluindo um estudo há muito desacreditado que vinculou as vacinas ao autismo.
A maioria dos pais, nos EUA, vacina seus filhos contra o sarampo com base nas recomendações atuais de saúde pública. As imunizações proporcionam às crianças proteção robusta contra a doença altamente contagiosa (e previamente eliminada nos EUA). 90% dos indivíduos não vacinados que entram em contato com uma pessoa que tenha sarampo contrairão a doença, e aqueles que não podem ser vacinados – incluindo crianças muito jovens ou imunocomprometidos – confiam na imunidade do rebanho para permanecerem seguros e saudáveis.
Mas em certos municípios americanos, como o condado de Clark, em Washington, o coração do recente surto de sarampo, as taxas de vacinação estão caindo – de 96% entre os estudantes da pré-escola, em 2004-2005, para 84% em 2017-2018.
“As vacinas são seguras, as vacinas são eficazes e as vacinas salvam vidas. Mas ainda persiste a divulgação de teorias, há muito tempo desmentidas, reivindicando o oposto no universo on-line“, diz a carta da Academia Americana de Pediatria enviada ao Google, ao Facebook e ao Pinterest.
Movimento anti-vacina
As razões pelas quais os pais escolhem não vacinar são multifatoriais. “No entanto, uma pesquisa revela que pais que optam por não vacinar são influenciados pelos indivíduos dos seus círculos sociais. Um estudo realizado com pais, residentes no condado de Clark, em Washington, descobriu que cerca de 70% deles que hesitavam em vacinar seus filhos tinham alguém em sua rede social que os dissuadiu de seguir os esquemas padrão de vacinação, sugerindo que essas ‘vozes e conversas’ são altamente influentes”, afirma o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.
“Reconhecemos que as pessoas estão recebendo informações de todos os tipos de fontes diferentes. Infelizmente, os pais não passam muito tempo com os pediatras de seus filhos. Como podemos elevar a voz da ciência? Eu falo frequentemente sobre vacinas na Internet, mas leigos que não fizeram Medicina, que não fizeram residência, que não entendem de vacinas e que nunca trataram uma criança com uma doença infecciosa também falam… Como podemos ajudar o internauta a perceber a diferença desses discursos?”, questiona o médico.
As gigantes da Internet parecem estar reconhecendo seu papel na disseminação da desinformação sobre as vacinas. No final de fevereiro, o Pinterest anunciou que havia bloqueado todas as buscas relacionadas a vacinas em seu site, o que descreve como uma solução temporária até que possa descobrir uma estratégia de longo prazo para coibir as informações anti-vacinação. Em seguida, o Facebook também anunciou uma repressão ao conteúdo anti-vacinação em seu site, diminuindo o ranking de grupos que divulgam desinformação sobre vacinas e rejeitando anúncios anti-vacinação. E o Google, que é dono do YouTube, também adotou o que descreve como etapas para destacar com mais eficácia fontes e matérias de notícias confiáveis.
“Temos a sensação de que pode e deve ser feito mais. Não há solução fácil nesse caso. É preciso a soma de muitos esforços. No Brasil, o Ministério da Saúde lançou, recentemente, uma campanha contra as fake news em saúde, que esclarece muitas notícias falsas sobre vacinação. Outra iniciativa no mesmo sentido é o Movimento Vacina Brasil. Mesmo assim, não estamos conseguindo combater as falsas informações sobre a vacina contra a gripe que circulam pela Internet. Os resultados parciais da campanha são insatisfatórios, revelando baixas taxas de adesão da população à campanha de vacinação contra a gripe”, diz Moises Chencinski.