As máscaras são aliadas no combate ao coronavírus, nisso os especialistas concordam. Um dos principais meios de transmissão da Covid-19 são as gotículas de saliva que se espalham na fala, no espirro ou na tosse. No entanto, há um embate sobre como e quando usar o equipamento no rosto.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que as máscaras devem ser usadas apenas por pessoas que estejam tossindo ou espirrando ou por quem esteja cuidando de alguém doente ou com suspeita de Covid-19.
As orientações do Ministério da Saúde e da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) seguem as da OMS.
Médicos e cientistas ao redor do mundo, porém, começaram a reavaliar a necessidade do uso das máscaras pelo público geral, como medida protetora mesmo na ausência de sintomas.
Na segunda (30), o diretor do Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), Robert Redfield, disse à rádio NPR (National Public Radio) que a instituição estava reavaliando suas diretrizes sobre o uso de máscaras. “É importante porque agora temos indivíduos que podem não ter nenhum sintoma e contribuem para a transmissão”, afirmou.
Em entrevista à revista Science na semana passada, George Gao, diretor geral do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da China, disse que o maior erro de Estados Unidos e Europa no combate ao coronavírus é que as pessoas não estão usando máscaras.
“O vírus é transmitido por gotículas e contato próximo. Gotículas desempenham um papel importante [no contágio]. Você deve usar uma máscara porque quando você fala tem gotículas saindo de sua boca. Muitas pessoas têm infecções assintomáticas. Se usam uma máscara no rosto, isso previne que as gotículas escapem e infectem outras pessoas”, disse.
Um estudo publicado em 2013 na revista científica Journal of Hospital Infection avaliou a performance de máscaras cirúrgicas para evitar infecção por vírus causadores da gripe. Foram testados os tipos mais comuns usados em hospitais no Reino Unido.
Na conclusão da pesquisa, o cientista responsável pelo experimento diz que embora essas máscaras tenham limitações, os dados mostraram que elas podem reduzir a exposição aos vírus infecciosos.
O uso do equipamento por profissionais de saúde é essencial. Um artigo publicado no dia 26 de março na revista científica The Laryngoscope, da área de otorrinolaringologia, indicou que os profissionais desse campo foram os que mais se infectaram com o novo coronavírus dentro dos hospitais na China. A proximidade com a qual esses médicos atendem os pacientes foi um fator determinante para o alto contágio.
O uso irrestrito das máscaras, porém, esbarra na escassez. O consumidor já não encontra mais máscaras cirúrgicas descartáveis com facilidade no mercado. Até em hospitais de referência no tratamento da Covid-19 os materiais para proteção pessoal começam a ficar escassos.
“A produção dessas máscaras no Brasil é insuficiente para o que precisamos agora. É um problema que os estoques acabem e as máscaras faltem para quem está na linha de frente do combate ao coronavírus“, diz Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e consultora da SBI.
Uma outra preocupação do uso geral das máscaras é a falsa sensação de segurança que elas podem dar. “As pessoas, sem saber fazer o uso correto, podem pensar que podem coçar o olho e descuidar da lavagem das mãos, que ainda é o mais importante”, diz Stucchi.
Para serem eficazes, as máscaras cirúrgicas devem ser feitas de TNT, com camada interna e externa, e ter um elemento filtrante, segundo o documento da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que traz orientações para prevenção e controle das infecções pelo novo coronavírus.
Embora não exista um consenso na área médica nem estudos que comprovem eficácia de máscaras caseiras, como as produzidas com tecido, Stucchi diz que no contexto de uma pandemia como a que atravessamos elas podem ser úteis para oferecer alguma proteção.
“Mesmo na quarentena, as pessoas têm de se locomover, usam o transporte público, vão ao mercado, que são ambientes fechados. Na escassez, uma máscara de pano usada sob orientação, associada ao cuidado de lavar as mãos e de manter distância de outras pessoas pode ter um papel de proteção”, afirma.
Para a otorrinolaringologista Maura Neves, é inegável que as máscaras de pano oferecem alguma proteção por criarem uma barreira física.
“Com a máscara de pano, parte das partículas de um espirro ficam retidas”, explica Neves. “Partículas menores com o vírus atravessam a barreira, mas a chance de contágio pode diminuir”, completa.
Em artigo publicado em 2013 no periódico científico Disaster Medicine and Public Health Preparedness, da Universidade de Cambridge, do Reino Unido, cientistas testaram máscaras caseiras feitas com alguns materiais. As que foram feitas de camisetas de algodão se mostraram mais adequadas.
Elas filtraram cerca de 50% das partículas infecciosas e promoveram um melhor ajuste no rosto, mas é importante lembrar que não foram testadas para o novo coronavírus.
Everton Lopes Batista – Folhapress