O médico David Uip, coordenador do Centro de Contingência para Coronavírus do Governo do Estado de São Paulo, pediu nesta quarta-feira, 8 de abril, em entrevista coletiva realizada no Palácio dos Bandeirantes, que o presidente Jair Bolsonaro respeite a decisão dele de não divulgar detalhes do seu tratamento para Covid-19 (leia abaixo).
O infectologista disse ter respeitado a decisão do presidente de não mostrar o resultado de seu exame para coronavírus – Bolsonaro havia dito apenas que o teste deu negativo. “Respeite o meu direito de não revelar meu tratamento.
Ainda durante a entrevista, Uip esclareceu que esteve na semana passada com o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, e recomendou que o Ministério adotasse um novo protocolo para o uso da hidroxicloroquina nos hospitais, estendendo esse tratamento para todos os pacientes internados desde que com prescrição médica e autorização por parte do paciente. Essa medida já está valendo em todo o Brasil. Antes o Ministério recomendava o medicamento apenas para casos graves, de pacientes internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva)
O coordenador do Centro de Contingência paulista ainda alertou sobre os efeitos colaterais da cloroquina e afirmou que a medicação só deve ser usada mediante prescrição e observação médica.
David Uip é médico formado pela Faculdade de Medicina do ABC e especializado em infectologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Fez sua residência médica na Divisão de Moléstias Infeciosas no HCFMUSP. Possui mestrado, doutorado e livre docência pela FMUSP entre 1989 e 1996 e se tornou professor titular da FMABC em 2001.
Entre os cargos que ocupou, estão o de diretor da Casa da Aids do HC-FMUSP, diretor-executivo do Incor (Instituto do Coração), presidente da Fundação Zerbini e diretor técnico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Foi secretário de Estado da Saúde de São Paulo entre setembro de 2013 e abril de 2018. Atualmente é reitor da Faculdade de Medicina do ABC e coordena o Centro de Contingência do Coronavírus do Governo do Estado de São Paulo.
Entre as atividades científicas de David Uip, destacam-se 68 participações em bancas universitárias, orientação de mestrado e doutorado, 315 aulas em cursos de especialização, graduação e pós-graduação, 578 conferências no Brasil e no exterior, 345 trabalhos científicos apresentados no Brasil e no exterior e 450 capítulos de livros e artigos publicados no Brasil e no exterior.
Veja trechos da fala do infectologista David Uip nesta terça-feira, durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes
“Presidente, eu respeitei o seu direito de não revelar o seu diagnóstico. Respeite o meu direito de não revelar o meu tratamento. Eu nunca revelei tratamento dos meus pacientes. Nunca revelei doença dos meus pacientes sem ser autorizado. Então, presidente, por favor, me respeite e respeite o meu direito de privacidade. A minha privacidade foi invadida e a privacidade da minha clínica, que lida com doentes sob sigilo absoluto, foi invadida. Tomarei as providências legais adequadas para essa invasão da minha privacidade e dos meus pacientes”.
“Na reunião de quinta-feira passada com o ministro Mandetta, eu sugeri que ampliasse o uso da cloroquina para todos os pacientes internados em duas condições: desde que o médico receitasse e o paciente aceitasse. Da mesma forma, que a cloroquina continuasse sendo usada nas pesquisas que estão em andamento. Outro fato é que a cloroquina não é um remédio inócuo, ele tem efeitos adversos cardíacos, hepáticos e visuais. Portanto é um medicamento que deve ser usado com critério e com cuidado, sempre sob observação do médico que prescreveu.”
“A cloroquina foi distribuída pelo Ministério da Saúde para todos os estados, inclusive São Paulo. A cloroquina, desde a semana passada, está indicada para pacientes internados, desde que prescrita por médicos e com aceite formal no papel assinado pelo paciente. Nós temos uma enorme experiência com cloroquina. Nós, que trabalhamos com medicina infecciosa e medicina tropical, usamos a cloroquina há muitos anos no tratamento da malária. Eu trabalho em Angola desde 2003 e tenho uma enorme experiência com cloroquina e posso afirmar que é uma droga importante com efeitos colaterais não desprezíveis. Já citei vários deles. Portanto esse é um medicamento que deve ser utilizado sob prescrição e observação médica. Não há um trabalho científico até agora que concluiu a eficácia e eficiência deste medicamento. Nós aguardamos os resultados. Do ponto de vista off-label e do ponto de vista do uso compassivo, é uma droga autorizada ao seu funcionamento.”