A entrevista do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta ao Fantástico, da Rede Globo, na noite de domingo, 12, foi encarada por interlocutores e integrantes do Palácio do Planalto como uma provocação ao presidente Jair Bolsonaro, com quem uma trava uma guerra pública sobre medidas de enfrentamento ao novo coronavírus. Na avaliação inicial deles, Mandetta não apenas voltou a contrariar as opiniões do presidente, mas a fala à emissora que o presidente costuma classificar como “inimiga” também foi vista como uma afronta.

Outro ponto que não passou despercebido foi o fato de a entrevista ter sido gravada no Palácio das Esmeraldas, na sede do governo de Goiás. O governador Ronaldo Caiado (DEM) rompeu no mês passado com o presidente, após Bolsonaro se referir à covid-19 como uma “gripezinha” e ter incentivado as pessoas voltarem à “normalidade” para evitar um colapso econômico.

No sábado, 12, Mandetta e Caiado condenaram a atitude de Bolsonaro, que após visitar ao lado deles a construção de um hospital de campanha em Águas Lindas (GO), foi a encontro de apoiadores, cumprimentou pessoas e tirou a máscara, que usava inicialmente. Depois que Bolsonaro voltou para Brasília, o ministro e governador seguiram juntos para Goiânia.

Os desdobramentos sobre a entrevista de Mandetta são esperados para o início da manhã desta segunda-feira. Um integrante do alto escalão do governo, que acompanha de perto o desentendimento, considerou a entrevista “menos grave” do que se esperava. Ponderou, no entanto, que é preciso aguardar a reação de Bolsonaro. Na crise do novo coronavírus, o presidente tem se aconselhado com os três filhos mais velhos. Principalmente, com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que viajou com o presidente a Águas Lindas.

Dubiedade. Na avaliação de políticos, Mandetta usou a entrevista para marcar posição e mandar recado que não vai ceder. O ministro cobrou uma unificação do discurso para orientar a população. “Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e que a gente possa ter uma fala única, uma fala unificada. Isso leva para o brasileiro uma dubiedade. Ele não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente, quem é que ele escuta”, disse Mandetta.

Mandetta também criticou o comportamento de pessoas que têm furado o isolamento social. Citou como exemplo uma ida a padaria, exatamente como o presidente fez na semana passada, acompanhado do ministro da Infraestrutra, Tarcísio de Freitas, e o filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. “Quando você vê as pessoas entrando em padaria, supermercado, fazendo fila, piquenique isso é claramente uma coisa equivocada”, avaliou o ministro.