Na edição do Jornal Regional do dia 23 de maio, uma matéria sobre os apicultores foi publicada. Para complementar o assunto, a reportagem do JR entrou em contato com um especialista no assunto.

O professor da Unesp, Daniel Nicodemo, explicou que as abelhas são essenciais para o ecossistema e importantíssimas para a produção de diversos alimentos. “As abelhas são os principais agentes polinizadores, tanto em ecossistemas naturais como em ecossistemas agrícolas. O valor econômico do serviço de polinização realizado por animais em culturas agrícolas no Brasil é de US$ 12 bilhões por ano. Culturas como acerola, abóboras, melão, melancia, maçã, entre outras teriam redução de 90% ou mais sem animais polinizadores”, disse Nicodemo.

Ele ressalta que o uso incorreto de agrotóxicos pode acabar dizimando culturas de abelhas pelo país. “Os agrotóxicos são produtos utilizados para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas. Esses produtos são fundamentais para a condução de culturas agrícolas, de acordo com o sistema convencional de exploração agrícola. Embora sejam muito importantes para que bons índices de produção sejam alcançados, há grande risco ambiental em decorrência do uso de agrotóxicos, pois, certa quantidade acaba atingindo o solo, fontes de água e ou outros seres vivos que não prejudicam as culturas agrícolas. Em alguns casos, 95% da quantidade de produto aplicado são perdidas no ambiente, sendo o restante (5%) aproveitado pela cultura vegetal alvo”, explicou.

Para ele, as abelhas que produzem o mel que nos alimentamos não correm tantos riscos de extinção graças à produção dos apicultores. Porém, muitas espécies de abelhas nativas sofrem com os agrotóxicos. “Apiários inteiros podem ser dizimados em poucos dias. Mas não podemos esquecer que existe uma grande quantidade de espécies de abelhas nativas que não são exploradas comercialmente. No Brasil, são cerca de três mil espécies. Essas são as mais vulneráveis. O que pode contribuir para a mitigação do efeito dos agrotóxicos sobre tais abelhas é a consciência ambiental do produtor, do engenheiro agrônomo e do consumidor que pode escolher adquirir ou não tal produto agrícola em virtude do sistema de cultivo adotado para a sua produção. Entendo que as abelhas melíferas não devem desaparecer porque há quem as cultiva e consegue replicar as colmeias. Quem corre grande risco de serem extintas são as abelhas nativas”, ressaltou Nicodemo.

Sobre os apicultores, Nicodemo diz que eles são grandes defensores da diminuição dos agrotóxicos e da preservação ambiental. “O apicultor é alguém preocupado com a preservação das florestas e a diminuição do uso de agrotóxicos. Além de obter produtos, os apicultores também podem alugar suas colmeias para agricultores que precisam que suas plantas sejam devidamente polinizadas. Embora esta atividade seja pouco demandada no Brasil, nos Estados Unidos é a principal fonte de renda dos apicultores. Lá muitos agricultores têm conhecimento da importância das abelhas para a obtenção de boas safras agrícolas. Aqui ainda precisamos difundir mais o papel fundamental dos polinizadores, gerando riqueza tanto para apicultores quanto para agricultores, além de contribuir com maior oferta de alimentos para a população”, finalizou Nicodemo.