A carne bovina, tão presente no dia a dia da população brasileira pode se tornar artigo de luxo nos próximos meses. Não que ela terá grande reajuste de preço como visto no passado, mas principalmente pela crise econômica enfrentada devido à pandemia da COVID-19.
Em estimativa da Itaú BBA, o consumo de carne bovina tende a cair 10% neste ano e consequentemente os mais afetados serão as pessoas das classes D e E.
De acordo Bruno Troyano, representante de uma rede de supermercados locais e na região, o reflexo para essas classes já é notório. “Pessoas de classes D e E já estão migrando para outro tipo de proteína nas misturas. Notamos um aumento nas vendas de ovos, calabresas e salsichas para essas classes”, explicou Troyano.
Outra movimentação que já foi sentida nos açougues da rede foi o aumento das vendas de carnes de aves e suínos. “Notamos que essa subida se da também pela crise econômica. É possível comprar carnes de aves e suínas em maior quantidade pelo mesmo preço que pagaria numa carne bovina, porém em menor quantidade”, disse Troyano.
Apesar disso, ele disse que as vendas de carne bovina não diminuíram em sua rede. “A pandemia não refletiu até agora. Nos últimos quatro meses seguem estáveis, sem grandes mudanças”, disse ele.
Quanto ao preço, Troyano explicou que a desvalorização do real perante o dólar e a falta de boi gordo para o abate podem interferir nos preços. “A arroba do boi gordo vem subindo, porque as exportações cresceram muito. Porém, os mercados não estão absorvendo essa subida da arroba do boi gordo”, explica.
Segundo relato de Troyano, a carne bovina é um produto estratégico para a imagem dos mercados. “Assim como o arroz e o óleo de cozinha, a carne bovina é um produto estratégico comercialmente. Então, subir os preços destes produtos no meio da pandemia prejudica a imagem do supermercado”, concluiu Troyano.
Já Flavio Ceballos, proprietário de uma casa de carnes em Dracena, disse que em seu açougue as vendas aumentaram cerca de 30% durante a pandemia. “As pessoas estão mais em casa, então consequentemente comem mais. A gente já sentiu esse reflexo aqui no açougue, principalmente nas vendas de carne bovina”, disse Ceballos.
Porém, ele alega que por ser uma loja de cortes nobres, seus clientes são mais elitizados, segundo ele. “Os mercados irão sentir essa diminuição nas vendas de carnes bovinas. Aqui, a clientela é mais elitizada e o tipo de cliente interfere muito nas vendas. Eu sempre digo que quem mais consome carne bovina é quem sempre tem mais dinheiro”, disse Ceballos.
Em contra partida, o setor de atacado de seu açougue vem sofrendo com a pandemia. As vendas para restaurantes estão em queda. “Com os bares e restaurantes fechados, nossas vendas de atacado em 60%”, concluiu Ceballos.