Com a contribuição de diferentes centros de investigação científica, incluindo a Unoeste, estudo avaliou a evolução da Covid-19 em unidades prisionais das regiões de Araçatuba e Presidente Prudente, de março a junho deste ano. Os dados encontrados foram apresentados em conferência internacional sobre doenças infecciosas, com foco no coronavírus (Conference on Infectious Diseases Corona-Virus).
A apresentação on-line foi feita pelo médico infectologista Dr. Luiz Euribel Prestes Carneiro, um dos envolvidos na pesquisa que oferece dados para alimentar políticas públicas e na condição de professor na Unoeste, vinculado à Faculdade de Medicina de Presidente Prudente (Famepp) e ao programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências da Saúde e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.
Com o título “O coronavírus ultrapassou os muros do sistema prisional de São Paulo” (Coronavirus jumped over the walls of the prision system in the state of São Paulo), a pesquisa multicêntrica, além da Unoeste, envolveu o Instituto Adolfo Lutz, Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT-Unesp), Departamento Regional de Saúde de Araçatuba e Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
O estudo de interesse global levou em consideração que o número de indivíduos privados de liberdade tem aumentado no mundo todo, sendo que o Brasil ocupa o 3º lugar nesse ranking e São Paulo, como estado brasileiro, está no 1º lugar. Viver em ambientes fechados representa maior vulnerabilidade à transmissão da doença, o que ocorre também em relação aos idosos abrigados em lares.
Outros dados significativos e que colocam o Brasil no debate mundial da pandemia do coronavírus, são o de estar em 2º lugar no mundo em números de contaminados e mortos, com os Estados Unidos em 1º posição. Em população carcerária, o país é o 3º mundial com 773 mil, atrás apenas dos Estados com 2,1 milhões e da China com 1,7 milhão.
O estado de São Paulo está na frente do ranking brasileiro do número de encarcerados: cerca de 230 mil, conforme o Departamento Penitenciário Nacional (Depen, 2019). Servidores públicos que atuam nessa área são cerca de 40 mil. São Paulo também lidera em número da Covid-19 que até junho era de 170 mil casos e 7,1 mil mortes, tendo fechado a primeira quinzena de agosto com quase 700 mil infectados e cerca de 26 mil mortes.
Com dados obtidos junto à secretaria de saúde paulista, a pesquisa tomou como amostra as regiões noroeste e oeste do estado, nas quais estão instalados os departamentos classificados como DRS-1 e DRS-11 com sedes em Araçatuba e Ourinhos. Nestas regiões de grande concentração de unidades prisionais (45 em 28 municípios), foram avaliadas a evolução da Covid-19 de indivíduos privados de liberdade e serviços da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP).
Sobre os privados de liberdade na região noroeste, de março a junho, dos 19.195 foram diagnosticados com doença 26, o equivalente a 0,13% e todos do sexo masculino, dos quais três morreram, o que representa 11,5% de índice de letalidade. Na região oeste, de 17.999 ocorreram 25 casos, sendo 24 homens e uma mulher, com duas mortes, ficando o índice de infectados em 0,14% e de letalidade em 8%.
Os servidores públicos, de 2.517 na região noroeste foram detectados 20 casos (0,79%), em 17 homens e três mulheres, com uma morte e letalidade de 5%. No oeste paulista, de 3653 servidores, os diagnosticados foram 54, sendo 48 homens e seis mulheres, com três mortes e letalidade de 8%. O estudo concluiu como alta as taxas de letalidade dos indivíduos privados de liberdade nas duas regiões.
Quanto aos servidores, a avaliação é de que na região oeste foram encontradas taxas importantes. Conforme o Dr. Euribel, coordenador da pesquisa, o conhecimento obtido com a evolução da doença nas duas populações inseridas no sistema prisional paulista servem como ferramentas para políticas públicas de saúde nos níveis regional e estadual. Também servem como parâmetro para estudos globais.
Participaram da pesquisa Ricardo Burato Dias e Marisa Rodella Amancio, da DRS-2; Marizete Peixoto Medeiros, da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo; Lourdes Aparecida Zampieri D’Andrea, do Instituto Adolfo Lutz de Presidente Prudente; Karina Briguenti de Souza, estudante de Medicina na Unoeste em iniciação científica; e Edilson Flores, do campus da Unesp em Presidente Prudente. (Com informações assessoria de imprensa/Unoeste)