Já pensou ser proprietário de um estabelecimento comercial e passar 179 dias fechados. Essa é a situação de bares e restaurantes de Dracena que atuam majoritariamente no período noturno.
Mesmo com o avanço da região para a fase amarela do Plano SP, o plano de flexibilização da quarentena no estado de São Paulo, os estabelecimentos deste ramo só podem abrir até às 17h. Diferentemente de outras cidades do DRS 11 (Departamento Regional de Saúde de Presidente Prudente), Dracena não permitiu esta reabertura.
De acordo com Endil Paraguai, proprietário de um bar na cidade, a prefeitura não pode fazer muito neste momento. “A prefeitura está de mãos atadas diante do Poder Público Estadual. Qualquer alteração do decreto que vá contra o Plano São Paulo, nossa prefeitura será denunciada”, disse Paraguai.
De acordo com ele, os prejuízos são grandes. “Já contabilizamos prejuízos acima de R$100.000 durante a pandemia, fora a demissão de funcionários e reflexos em seus familiares. Queremos executar nosso trabalho, que é digno, com todas as precauções necessárias para a prevenção deste vírus. Sempre estivemos dispostos a trabalhar com 40% da nossa capacidade e orientar os clientes e funcionários sobre as medidas cautelosas a serem tomadas”, explicou o empresário.
Além disso, Paraguai relata outras dificuldades. “Continuamos pagando aluguel normalmente sem nenhum desconto, energia, água, escritório, etc. A renda que entra do delivery, supre apenas o pagamento dos funcionários da cozinha. Fora isso, tivemos que vender bens, contratar empréstimos bancários para poder nos sustentar e arcar com tantas despesas”, conta ele.
Segundo ele, não existem tantas justificativas. “Supermercados, lotéricas, bancos, todos funcionando em seus horários normais, faculdades voltando parcialmente. Já estamos a quase sete meses fechados, não há explicação para isso. Agora nos resta aguardar as fases do Plano São Paulo que nos permitam trabalhar. Só desta forma poderemos honrar nossos compromissos financeiros”, concluiu Paraguai.
Já Thiago Scarabelli, proprietário de outro restaurante na cidade ressalta a falta de critério. “A gente fica chateado, pois não há muita justificativa. Meu negócio é feito para ser aberto a noite. Não existe diferença na transmissão por causa do horário. O vírus não se dissipa mais a noite do que de dia. As pessoas vêm ao restaurante para se distrair, comer um prato diferente do dia a dia, comemorar alguma data comemorativa, isso não é possível fazer até às 17h já que as pessoas ainda estão trabalhando neste horário”, disse Scarabelli.
Ele diz que o diálogo com a prefeitura já foi feito. “Logo no início da pandemia a prefeitura fez um decreto mais frouxo que o estadual e a promotoria reprovou tal medida. O executivo foi condenado à não contrariar o Plano SP. Por isso vemos em outras cidades os bares e restaurantes abertos e aqui não”, explicou.
Scarabelli conta que costuma presenciar muitas pessoas se aglomerando próximo ao seu restaurante para praticar exercícios. “Eu vejo sempre pessoas se esbarrando, fazendo cooper sem mascaras, todo dia a pista está cheia. A gente quer uma decisão racional. Vemos o comércio aberto, supermercados, lotéricas, bancos abertos e a gente não pode abrir. A gente se sacrifica todos os dias para preservar vidas, então por quê outros estabelecimentos podem abrir e o nosso ramo não”, disse Scarabelli.
Com 14 funcionários registrados e se desdobrando para manter todos empregados, Scarabelli espera que na próxima sexta o Plano SP seja atualizado com boas noticias. “Estão especulando que na próxima sexta o Estado libere o nosso funcionamento”, disse ele.
Por fim, Scarabelli faz uma ressalva: ”Sabemos da limitação e esperamos compreensão. Ainda tento entender a lógica de manter os bares noturnos abertos até às 22h, horário de pico no atendimento presencial. Acredito que isso pode causar aglomeração, pois quanto maior o tempo de funcionamento, maior o giro de clientes e mais tempo para que todos possam ser atendidos”, concluiu Scarabelli.