Considerada sistêmica, doença pode acometer a saúde do coração; No Brasil, o número de casos do novo coronavírus já ultrapassou a marca de 6 milhões de pessoas
A pandemia de Covid-19 tem afetado não somente a saúde respiratória da população mundial. Por se tratar de uma doença considerada sistêmica – que atinge múltiplos órgãos – especialistas observam cada vez mais casos onde a infecção acomete também o coração.
Um estudo publicado pelos membros do Conselho de Cardiologia do Esporte Americano, na revista médica JAMA (The Journal of the American Medical Association), mostrou que até 22% dos pacientes hospitalizados com a Covid-19 apresentam lesão cardíaca aguda, o que é significativamente maior se comparado à taxa de apenas 1% registrada em pacientes de outras doenças virais graves.
Por isso, de acordo com o cardiologista e médico do esporte do HCor, Nabil Ghorayeb, o retorno de pacientes recém-curados da Covid-19 aos treinos requer atenção. “Apesar de o exercício físico ser considerado um grande aliado na redução do risco cardiovascular a longo prazo, a prática de atividades de alta intensidade também pode ser um gatilho para doenças cardiocirculatórias silenciosas”, destaca o médico.
O especialista reforça que pessoas que tenham sido infectadas pelo novo coronavírus essencialmente devam realizar uma avaliação cardiológica antes de iniciar novas atividades físicas, ou mesmo de retomar exercícios e esportes que já executavam, sejam eles recreativos ou competitivos.
A orientação também foi descrita em um posicionamento recente divulgado pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), assinado por Ghorayeb e outros grandes nomes da medicina esportiva.
O documento sugere que essa avaliação contemple anamnese, exame físico e eletrocardiograma para todos, e sustenta que a indicação de exames complementares varia a depender da gravidade do quadro clínico prévio da Covid-19, podendo incluir: dosagem de níveis séricos de troponina, teste ergométrico ou cardiopulmonar de exercício, ecodopplercardiograma e ressonância magnética cardíaca, sendo a recomendação de rastreamento mais abrangente nos esportistas competitivos e atletas.
Além do cuidado clínico necessário em quaisquer casos, dos assintomáticos àqueles que foram hospitalizados, a retomada de pacientes que foram infectados pelo novo coronavírus também deve respeitar um prazo certo.
Segundo Ghorayeb, nada de pressa. Para quem testou positivo, mas permaneceu assintomático, recomenda-se evitar o treinamento físico por pelo menos duas semanas a partir da data do resultado positivo do teste, além do seguimento das diretrizes de isolamento. Já para aqueles que desenvolveram sintomas leves ou moderados, também é orientada uma interrupção mínima de 15 dias, iniciada a partir do desaparecimento dos sintomas.
“As pessoas que ficaram mais gravemente doentes e tiveram lesões cardíacas associadas ao quadro de Covid-19 também podem voltar a se exercitar nesse prazo, no entanto, as atividades físicas deverão respeitar as recomendações médicas comumente atribuídas a quadros de miocardite”, ressalta.
Ao redor do mundo, o número de casos da Covid-19 já ultrapassou a marca de 58 milhões. No Brasil, mais de 6 milhões de indivíduos já foram diagnosticados com a doença.