O ano era 2005. Na ocasião, a revista cultural Viva Música propôs a criação de um dia em homenagem à música clássica no Brasil. De acordo com a editora da publicação, Heloisa Fischer, tudo começou com uma constatação: ao contrário de outros gêneros, a música clássica não tinha um dia nacional de celebração.
“A ideia de propor esse dia nasceu de uma constatação nossa lá do Viva Música. Meu sócio, Luiz Alfredo Morais, que me chamou atenção. Ele disse ‘porque não tem o dia da música clássica’ e eu falei ‘eu acho que não tem porque o pessoal ainda não pensou nisso, vamos propor então’. E foi assim que nasceu a ideia”, relata.
Para decidir qual seria a melhor data, foi lançada uma consulta a profissionais do setor. Com o apoio de veículos como a MEC FM e a rádio Cultura FM, a consulta se expandiu a amantes do gênero. Com quase metade dos 7 mil votos totais, a data do nascimento do compositor Heitor Villa-Lobos (5 de março) foi a escolhida. A data foi incluída no calendário da cidade do Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro e, em 2009, um decreto do governo federal instituía a data nacionalmente.
Desde então, o dia 5 de março é o Dia Nacional da Música Clássica. Para Heloisa, a data ajuda na divulgação do gênero e é uma justa homenagem a Villa-Lobos. “O dia ajuda a promover a música clássica e aumenta a visibilidade nos meios de comunicação. A homenagem é justa. Villa-Lobos é o grande nome da música clássica no Brasil e um dos maiores nomes das Américas. É um gigante e representa muito bem o Brasil”, diz. Confira a programação especial veiculada na Rádio MEC para marcar o dia.
A opinião de Heloísa é endossada por nomes de peso da música erudita nacional. Presidente da Academia Brasileira de Música (instituição que, por sinal, foi fundada por Villa-Lobos) e diretor da Sala Cecília Meirelles, o maestro João Guilherme Ripper destaca a importância de uma data para celebrar a música clássica brasileira e Villa-Lobos. “Villa-Lobos sintetiza a musicalidade brasileira. A obra sintetiza as vertentes europeia, africana, indígena. Isso tudo encontrou nele um gênio que colocou na pauta de uma forma realmente maravilhosa essa música que tanto nos representa”, afirma.
Ripper lembra que a influência de Villa-Lobos, que também era um “chorão” (músico de chorinho), também se estendeu à música popular do Brasil. “Ele encontrou um contraponto do violão no choro e a música de bar. A harmonia tem consequências na música popular. Quanto de Villa-Lobos nós encontramos em Tom Jobim?”, diz.
Confira o depoimento de João Guilherme Ripper
Para o compositor Henrique Machado, vencedor do Festival da Música Rádio MEC de 2017, o caráter da obra de Villa-Lobos torna mais justa ainda a homenagem: “Villa-Lobos tinha um lado nacionalista. De trazer paisagens em suas composições. Então nada mais justo para um compositor que tinha o nacionalismo em suas obras ter o Dia Nacional da Música Clássica comemorado no dia do nascimento dele”.
Machado também relembra que a obra de Villa-Lobos ajudou no aprimoramento de sua técnica musical. “Tocar uma composição de Villa-Lobos é sinal de ter um nível mais avançado automaticamente. Porque, geralmente, não são peças fáceis de se realizar. Acaba servindo para medir o quão avançado um instrumentista é”, diz.
O músico, porém, destaca que o legado de Villa-Lobos vai muito além da técnica. “Pelo manuscrito dele, você vê o sentimento falando mais alto. Se você tem uma peça técnica, OK. Mas se tem uma peça com sentimento, é essa que toca o público. As músicas do Villa-Lobos tinham muito disso. Era um bom equilíbrio entre a parte técnica e sentimental. Até hoje eu escuto Melodia Sentimental e vou juntinho com a melodia do começo. E quando eu ouço a Valsa da Dor, eu choro. Eu sinto a dor da melodia”, relata.
Homenageado no Dia Nacional da Música, Heitor Villa-Lobos nasceu em 5 de março de 1887, no Rio de Janeiro. Ele compôs, durante a vida, quase duas mil obras, dentre Bachianas Brasileiras, choros, concertos e obras para violão. Villa-Lobos morreu em 17 de novembro de 1959, também no Rio de Janeiro.
(Edgard Matsuki – Brasília)