Professora doutora Carolina Bonini compartilha história de vida e valores pessoais no Dia do Mulher

LETÍCIA PINHEIRO

DA REDAÇÃO

Quando a vó Tita decidiu conversar com a direção do Colégio Objetivo, em Tupi Paulista, sobre uma oportunidade de uma bolsa de estudos para a neta Carol, que era muito estudiosa e tinha boas notas, sem saber, ela também abria a estrada do conhecimento que seria percorrida pela neta até o doutorado e em breve, a livre-docência.

No fim da década de 1990, a estudante Carolina dos Santos Batista Bonini, que vivia com a família em Santa Mercedes, começava o Ensino Médio (antigo colegial), em Tupi Paulista e descobria sua vocação para a área das Ciências Agrárias, para o espanto das colegas de sala, que queriam a área da Saúde. A ideia de estudar Engenharia Agronômica estava bem clara em sua cabeça e jovem prestou várias vestibulares. Aprovada no vestibular da Unesp em Ilha Solteira, começou a graduação em 2003.

Assim que terminou a graduação, Carolina foi convidada pela orientadora da graduação, a professora doutora Marlene Cristina Alves para continuar as pesquisas e fazer mestrado. Ao terminar o mestrado, prosseguiu os estudos com o doutorado. Por se tratar de um doutorado sanduíche – quando o estudante realiza parte de seu trabalho em uma universidade no exterior – a jovem pesquisadora passou um período na Espanha, na Universidade da Coruña, o que para ela foi uma grande realização uma vez que bisavós dela vieram da Espanha.

A professora doutora faz questão de lembrar que durante todo o período da graduação deu aulas de Espanhol e vendia trufas, que a vó fazia, alternativas encontradas para se manter em Ilha Solteira já que os pais residiam em Tupi Paulista. No mestrado e doutorado, Carolina contou com incentivo por meio de bolsas do governo para as pesquisas.

Terminado o doutorado, prestou concurso para professor substituto na Unesp de Ilha Solteira e foi aprovada. No mesmo ano, prestou o processo seletivo de uma universidade particular em Fernandópolis, onde também foi aprovada, lecionando nos dois municípios. “A mulher que mais me inspirou profissionalmente foi minha orientadora.Educada, delicada,  ela sabe conversar, quando precisava chamar a atenção,  fazia de uma maneira tão sutil, que levo comigo até hoje. Se você perguntar para qualquer orientado meu, vai saber que prezo por isso,  não falo mais alto com o aluno, procuro respeitar, entender, saber a história dele também. A gente não precisa humilhar as pessoas para ter o respeito, o respeito a gente consegue se a gente tratar o chefe ou o faxineiro da mesma forma”, avaliou.

Em 2014, Carolina foi aprovada no concurso da FCAT – Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas – Unesp Dracena como professora assistente doutora, atuando como docente, no ensino, pesquisa e extensão.

O trabalho de orientação de alunos de graduação e pós-graduação é encarado com muita responsabilidade pela professora doutora. “Nossa responsabilidade na formação de recursos humanos é grande, é importante ensinar ética, ensinar a lidar com os problemas e frustações, contar o que a gente já passou para que os alunos não pensem que tudo é um mar de rosas”, explicou.

Recentemente, a professora assistente doutora, do Departamento de Produção Vegetal, atual coordenadora do curso de Engenharia Agronômica e tutora do PETZoo, da Unesp de Dracena foi uma das 174 mulheres que receberam indicação para a avaliação pela banca do prêmio Ester Sabino para Mulheres Cientistas 2022. A premiação ocorreu no mês passado.

Carolina também recebeu a indicação para um prêmio da Unesp, Prêmio a Mulheres docentes-pesquisadoras da Unesp, que será neste mês. “Foi uma honra estar entre as 174 mulheres indicadas, a sensação foi única, é muito importante ser lembrada e reconhecida. Também é um honra representar o campus, espero lograr o prêmio, mas só a indicação, a nomeação do campus já foi  um diferencial na minha carreira”, considerou.

Não bastasse uma trajetória profissional tão próspera, Carolina conseguiu conciliar a vida profissional e a vida pessoal. Casada há 17 anos com o professor doutor Alfredo Bonini Neto, com quem teve dois filhos João Manuel, 7 anos, e Luiz Maurício, 4 anos, a professora ressalta o apoio do marido. “O fato dele também ser professor ajudou muito a entender essa rotina tão doida. Casei ainda na graduação, fiz mestrado, doutorado, fiquei um tempo fora (do país) e a gente conciliou isso muito bem. Acho que sem o apoio dele, não tinha conseguido metade das minhas conquistas, das coisas que tenho até hoje. A vida é aprendizado, na verdade, porque não tem receita, ela é tão cheia de surpresas e a gente sempre tenta fazer o melhor, mas às vezes, a gente não sabe o que é o melhor”, refletiu.

Ainda sobre a família, o pequeno Luiz Maurício nasceu com lábio leporino. “ Descobri já na gravidez, fazemos tratamento na USP  em Bauru, é importante esclarecer que o tratamento é  gratuito, todos têm acesso  e é de boa qualidade. Aqui, em Dracena, temos uma rede de assistência, a gente também vai aprendendo e sempre que possível passando informações para outras mães da cidade e da região”, comentou.

Na pandemia, Carolina – que sempre se considerou muito sedentária – descobriu a corrida e participa de provas. Também gosta de cozinhar e costurar. Para levar as coisas com um certo equilíbrio, a professora doutora destaca a organização – mantém os compromissos diários, mensais e anuais anotados num caderninho – e o apoio da família e da funcionária Maria, que a ajuda com a casa e as crianças. “Venho de uma família de professoras, do magistério, minhas duas irmãs são professoras de formação e minha mãe entrou na faculdade, na mesma época que eu, ela estudou Matemática. Então, eu acho que está no sangue, o ensinar. Fui pra Engenharia Agronômica e desde a graduação, meus professores já falavam que eu tinha todo o jeito de professora. Isso foi muito importante, esse legado da família. Eles são extremamente importantes, meu pai e mãe que não mediram esforços para meu estudo porque consideravam a maior herança que poderiam deixar; minhas irmãs apoiando e a avó que conseguiu a bolsa de estudos pra mim. Meu sonho pessoal é ter saúde para curtir a família e proporcionar uma boa vida para eles, agora que tenho uma condição um pouco melhor”, revelou.

Para encerrar a entrevista tão generosa e cheia de sabedoria, a neta da vó Tita deixou uma mensagem para as mulheres no Dia da Mulher. “Desejo que as mulheres sejam felizes e livres, que não deixem ninguém limitar o sonho delas, nunca. A gente precisa ser feliz, ser realizada e não pode se esconder atrás de ninguém. Acho tudo o que custa a nossa paz não vale a pena, a gente precisa colocar os nossos sonhos e criar nossas famílias bem, é o mais importante”, concluiu.

Cedida Acervo pessoal Carolina Bonini
Carolina com os pais, irmãs, esposo, filhos e demais familiares
Cedida Acervo pessoal Carolina Bonini
Casada há 17 anos com o professor doutor Alfredo Bonini Neto, na foto com os filhos João Manuel e Luiz Maurício
Cedida Acervo pessoal Carolina Bonini
Vida de mãe: Carolina concilia o trabalho, os estudos e os cuidados com os filhos