Artigo – A colheita do pasto na hora certa garante os melhores resultados
Janaina Martuscello Vieira da Cunha- Giovana Alcantara Maciel- Embrapa
Sistemas de produção sob pastejo são complexos e envolvem vários componentes – como solo, planta forrageira, clima, animais, manejador, entre vários outros – que interagem entre si em diversos processos que resultam na produção de carne ou leite em pastagens.
Devido à complexidade desse sistema, a chance de erros serem cometidos é muito grande. Mas essa dificuldade não dá ao pecuarista “passe livre” para que o pasto seja manejado sem planejamento e objetivo, como infelizmente vemos em muitas propriedades pecuárias no Brasil. Ao contrário, a alta complexidade do sistema de produção pastoril aumenta a responsabilidade do manejador no sentido de fazê-lo buscar estratégias que possam otimizar as produções do pasto e do animal em pastejo. Portanto, o manejo da pastagem deve sempre focar na otimização e não na maximização da produção de forragem.
Diferentemente do que muitos pensam, um pasto alto e com muita massa de forragem não significa, em hipótese alguma, um pasto bom. Pastos mantidos com essa característica são muito lignificados, têm poucas folhas e muito talo (colmo). Embora possa parecer que isso seja uma boa disponibilidade de forragem, haverá limitação do seu aproveitamento pelos animais, devido ao excesso de fibra e ao baixo teor proteico, com consequente limitação na produção animal.
Embora pastos altos possam apresentar maior massa de forragem (maximização), esse capim, pelos motivos já explicados, não alcança o objetivo de maximizar a produção animal. Portanto, em relação ao manejo do pastejo, quebramos um paradigma: pasto alto, manejado acima da altura recomendada, não é um pasto bom.
Por outro lado, temos o outro extremo, o pasto rapado, com baixíssima massa de forragem. Esse pasto também não nos ajuda a maximizar a produção animal porque a reduzida disponibilidade de forragem não permite que o animal consuma o pasto em quantidade suficiente. Como consequência, ele não consegue ingerir a quantidade de nutrientes necessária para expressar seu potencial genético de produção.
Pastos rapados são consequência de uma taxa de lotação acima daquela suportada pela área. O pasto superpastejado cresce menos e, portanto, não cobre bem a superfície do solo, o que cria oportunidade para plantas daninhas ou indesejáveis entrarem no sistema e, dessa maneira, um início de um grande problema. Plantas daninhas são oportunistas e muitas vezes de difícil controle. Quando presentes na pastagem, inicia-se uma luta árdua para exterminá-las. O processo de roçada, muito usado pelos manejadores, só ajuda a aumentar a produção delas.
Outra opção é a aplicação de herbicidas com essa finalidade. Mas, o caminho para a cura dessa mazela deve contemplar análise de solo, correção e adubação de acordo com os resultados dessa análise e o adequado manejo do pastejo. Todas essas ações são fundamentais para que o pecuarista possa favorecer a produção do capim e o capim bem manejado consiga cobrir melhor a superfície do solo e tenha melhores condições de vencer a competição com as plantas invasoras.
Outro ponto que merece destaque: de nada adianta trocar os animais por um grupo geneticamente superior se o manejo do pasto não estiver adequado. Em uma escala de prioridade, o manejo está em primeiro lugar. Só depois deve vir a preocupação com a troca de genética animal e da planta forrageira, adubação e irrigação. Saber colher o pasto é o fator mais importante. A maior parte do desempenho animal é explicado pelo consumo que, sob pastejo, é favorecido por uma boa estrutura do pasto. Portanto, manejar o pasto para que a colheita pelo animal seja facilitada maximiza a produção animal. De nada adianta alta produção de forragem se a colheita for ineficiente. Portanto, antes de adubar o pasto é necessário saber manejá-lo adequadamente.