Produção animal:  Por mais silagem e cordeiros

Silagem em tempo de seca: possibilidade real na elevação da bovinocultura de corte

Produção animal:  Por mais silagem e cordeiros

 

Rodrigo da Costa Gomes, zooctenista e pesquisador em nutrição animal-Embrapa.

Na época da seca percebemos na Embrapa um aumento no número de consultas de produtores procurando alternativas para manter o rebanho de gado de corte no período seco. Uma das respostas clássicas, o uso de forragens conservadas na forma de silagem, não é nem um pouco nova ou desconhecida. Nestes momentos, inquieta refletir sobre o porquê desta técnica ainda não ser adotada como poderia.

Uma observação interessante sobre o assunto envolve uma experiência com um pequeno produtor de ovinos. Ele teve uma oportunidade de comprar silagem de milho de uma granja leiteira, que produz grandes quantidades e comercializa seu excedente. O produtor buscou com seu veículo, usou para seu rebanho e conseguiu mais cordeiros prontos para venda no Natal. Era a primeira vez que utilizava silagem para alimentação do seu rebanho.

O que há de interessante neste fato? Aquele produtor em específico sabia o que era silagem e sabia de seus benefícios, senão não teria tanto ímpeto a fazer a aquisição do alimento naquela forma. A provocação é: qual era a principal barreira então para que ele próprio pudesse confeccionar silagem na sua propriedade naquele momento? Seria o fato de não ter estrutura ou acesso à estrutura necessária para confecção da sua própria silagem? Me pergunto quantos produtores têm uma situação parecida e se essa não seria uma das barreiras mais importantes para adoção da prática de produção e uso de silagens.

A partir do ano passado, intensificamos nossas pesquisas sobre silagem de capim. Ela pode ser uma alternativa barata de volumoso, apesar de, muitas vezes, ter valor nutricional pior do que as tradicionais silagens de sorgo ou milho. Na Embrapa, temos excelentes materiais forrageiros lançados para pastejo ou corte (exemplos: Mombaça, BRS Zuri, BRS Quênia, BRS Capiaçu), com grande potencial de ensilagem e o objetivo será evoluir na prática.

A ideia de fortalecer a prática entre produtores de gado de corte tem enfoque também na facilidade de adoção. O fato de o capim ser uma cultura perene, de menores riscos climáticos e que, de certo modo, exige menos investimentos e mecanização, nos leva a pensar que pode ser de mais fácil acesso. Considerando que há uma parcela de produtores que não dominam práticas agrícolas ou não possuem a estrutura necessária, o manejo do capim, mal ou bem, já é algo familiarizado, o que vemos reduzir possíveis barreiras para adoção.

A silagem de capim já tem aplicações importantes na produção de gado de corte. São conhecidos seu uso na terminação de animais em confinamento e no “confinamento estratégico de recria”, também conhecido como “sequestro”, utilizado para redução da lotação da fazenda em momentos críticos da seca. Em países com inverno rigoroso, entretanto, a silagem é mais amplamente utilizada, incluindo a manutenção do rebanho de cria. No Brasil, vemos o aumento de sua adoção como uma possibilidade real para elevação da produtividade na bovinocultura de corte, ou mesmo em outras culturas.