Milho safrinha: escolha da semente ou de tecnologias?

Consórcio milho-braquiária

Milho safrinha: escolha da semente ou de tecnologias?

 

Gessí Ceccon (Analista)
Embrapa Agropecuária Oeste

Sem dúvidas, a escolha da semente é um passo importante para obter altas produtividades de uma cultura, mas é na lavoura que ela expressa o seu potencial genético. A utilização das tecnologias embarcadas nas sementes e as tecnologias de conservação do solo, como consórcio milho-braquiária e plantio direto, podem proporcionar mais segurança de colheita ao agricultor.

Especialmente em milho safrinha, a escolha da semente deve ser mais criteriosa, pois não bastassem os riscos com geada e/ou estiagem prolongada durante seu cultivo, podem aparecer plantas infestantes, doenças e insetos-pragas, como a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis). Essa cigarrinha é responsável por transmitir patógenos causadores de doenças: os enfezamentos vermelho e pálido, e o vírus transmissor da virose da risca do milho, reduzindo drasticamente a produtividade da cultura.

Considerando que a longevidade da cigarrinha é de 70 a 80 dias, e que ela só se reproduz em plantas de milho, eliminar plantas de milho durante o cultivo da soja é fator importantíssimo para reduzir a população desses insetos para a próxima safra de milho. Mas isso não é tão simples. A cigarrinha se alimenta de várias espécies, como teosinto, sorgo, braquiária e plantas de milho oriundas de grãos/sementes perdidas em beiras de rodovias durante o transporte da safra.

Embora seja um problema antigo, foi em 2022 que a cigarrinha causou maiores danos nas lavouras de milho, por conta da frustação de safra da soja anterior, onde o controle de insetos-pragas não foi realizado adequadamente, multiplicando-se em plantas de milho tiguera. Os híbridos de milho com resistência genética aos enfezamentos vêm sendo identificados, mas são poucos para atender todo o mercado de sementes. Então, o manejo integrado deve ser utilizado para evitar danos maiores.

As tecnologias para tolerância e/ou resistência a insetos e tolerância a herbicidas para controle de plantas invasoras podem ser adquiridas via sementes e/ou com a aplicação de agroquímicos, mas a conservação do solo é construída gradativamente pela adoção de novas e antigas tecnologias. O Sistema Plantio Direto é a mais antiga e mais sólida dessas tecnologias, pois o cultivo com o mínimo revolvimento do solo, cobertura permanente e rotação de culturas compõem os três pilares de sustentabilidade ao sistema de cultivo.

A sucessão soja-milho safrinha ainda enfrenta resistência conceitual por não ser uma rotação de culturas perfeita, mas já quebrou paradigmas e sustenta a produção de grãos na região Central do Brasil. Ela é melhor ainda quando o milho safrinha é cultivado em consórcio com braquiária. O benefício esperado do consórcio milho-braquiária é a maior produtividade da soja em sucessão.