Benefícios decorrentes do aumento da longevidade dos canaviais
José Rubens Almeida Leme Filho (Pesquisador)
Embrapa Agropecuária Oeste
Uma das diversas propriedades que tornam a cana-de-açúcar tão competitiva entre as diversas matérias primas sucroalcooleiras e energéticas (tais como milho, sorgo sacarino, sorgo biomassa, beterraba açucareira, entre outras) é, sem dúvida, o vigor de suas rebrotas. Enquanto a maioria dessas culturas precisa de um plantio para cada colheita, a cana-de-açúcar, após ser cortada rente ao solo (e os colmos levados para industrialização, enquanto a palha, na maioria dos casos, é deixada sobre o solo), rebrota espontaneamente, formando um novo canavial para a próxima safra, conhecido como “cana soca”, que só precisa de alguns tratos culturais, mas não de um novo plantio.
A produtividade da cana, porém, tende a cair de um ano para outro, até que se torna tão baixa a ponto de demandar a reforma do canavial, que consiste em um novo plantio. A longevidade do canavial é o número de cortes (safras) que se consegue viabilizar, após um plantio, antes que a baixa produtividade imponha a necessidade de reforma. Usualmente, considera-se baixa a longevidade de 4 safras ou menos. 5 é aceitável em solos mais fracos, enquanto a longevidade ideal é 6 ou mais, desde que se mantenha produtividade em nível viável. A maior longevidade tem benefício econômico facilmente perceptível, já que dilui os custos de plantio entre um maior número de safras. Mas, além deste, proporciona também diversos benefícios ambientais.
De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA), o etanol reduz cerca de 90% das emissões de CO2, comparado à gasolina. Se a gasolina é combustível fóssil derivado do petróleo, ou seja, todo o carbono que sua queima libera na atmosfera é proveniente do subsolo, enquanto o etanol é renovável, ou seja, todo o seu carbono foi captado da própria atmosfera pela fotossíntese da cana, seria natural perguntar: então por que o etanol não evita 100% das emissões? Desses 10% de emissões ainda restantes, a maior parte deve-se ao consumo de diesel nos processos agrícolas e nos transportes. Portanto, o aumento da longevidade dos canaviais, com consequente redução das áreas canavieiras em reforma, além da redução de custos, diminui também o consumo de diesel, o que por sua vez contribui para redução das emissões de gases do efeito estufa, tornando o etanol ainda mais eficiente do que já é em mitigar essas emissões.
Outro benefício ambiental decorrente do aumento da longevidade é a redução da erosão do solo. Na realidade, esse benefício é também econômico e ambiental, já que a erosão leva embora justamente o solo da camada mais superficial, que é a parte mais fértil