Quando Corey Haas tinha sete anos, a doença na retina, congênita, já tinha roubado grande parte de sua visão. “Ele sempre ficava agarrada a mim ou minha mulher”, disse o pai de Corey, Ethan Haas.
O garoto dependia de uma bengala e de adultos para guiá-lo. Incapaz de ver o que estava escrito na lousa da escola, ele contava com a ajuda de um professor, tela de computador com fontes grandes e materiais em Braille.
Legalmente cego, esperava-se que Corey acabasse perdendo toda a sua visão. Então, há 13 meses, após seu 8º aniversário, ele passou por um procedimento de terapia genética experimental, recebendo uma injeção em seu olho esquerdo.
Sua visão naquele olho melhorou rapidamente. Agora com nove anos de idade, Corey joga beisebol, dirige carrinhos, percorre trilhas na mata perto de sua casa, em Hadley, NY, e lê a lousa na aula. “Melhorou muito”, disse ele.
Especialistas em problemas de visão afirmam que, embora não esteja claro quantas pessoas com defeitos na visão a terapia genética pode ajudar, eles consideram a pesquisa promissora para alguns tipos de cegueira, e um progresso para a terapia genética, que tem tido muitos obstáculos.
O estudo, relatado no jornal “Lancet”, envolveu cinco crianças e sete adultos, da Bélgica, Itália e Estados Unidos, com um tipo de amaurose (cegueira parcial ou total) congênita de Leber, uma doença congênita da retina bastante rara, mas muito séria.
Os pesquisadores injetaram nos olhos dos pacientes um vírus com a versão normal do gene REP65 inserido em seu genoma. Quando o vírus invadiu as células fotossensíveis no olho e inseriu seu próprio DNA no DNA das células, o gene humano crucial foi incluído.
Começando em cerca de duas semanas, “todos os 12 participantes apresentaram melhoras significativas”, disse Stephen Rose, principal diretor de pesquisa da Foundation Fighting Blindness, que ajudou a financiar o estudo. Isso significa que o gene inserido estava funcionando. “Você não recupera toda a visão, vamos ser realistas”, disse Rose, “mas recupera uma quantidade tremenda da visão”.
Dr. Jean Bennett, professor de oftalmologia da Universidade da Pensilvânia e líder do estudo, disse que os participantes podiam “ler placas ou ver números em seus celulares, listras em suas roupas, texturas em móveis, madeira no violino ou mármore em uma mesa”. Alguns leem muitos mais linhas na tabela de letrinhas do oftalmologista.
As crianças apresentaram as maiores melhoras, talvez porque menos fotorreceptores tenham se deteriorado. Porém, até mesmo a paciente mais velha, Tami Morehouse, 44 anos, que às vezes ficava confinada em casa, agora caminha para encontrar seus filhos saindo da escola e “viu sua filha marcar um ponto no beisebol”, disse Bennett.
Em uma explosão de novas pesquisas sobre a recuperação da visão, a terapia genética é um dos métodos mais próximos para alcançar resultados, mas não irá ajudar a todos porque algumas doenças oculares destroem células fotorreceptoras, que são cruciais para permitir que a terapia genética funcione. Além disso, genes específicos devem ser identificados para variações diferentes de doenças.
“A terapia com genes é ótima, mas só vai funcionar quando os pacientes tiverem células fotorreceptoras viáveis”, disse Dr. Gerald Chader, diretor científico do Doheny Retina Institute, em Los Angeles, que não esteve envolvido no estudo. “Há uma grande limitação no número de pacientes”.
Rose afirmou que o número de pessoas pode ser maior do que o esperado anteriormente, pois alguns pacientes tinham “ilhas de fotorreceptores vivos” onde a terapia genética pode restaurar parte da visão.
Dr. Katherine High, outra líder do estudo e diretora do Centro de Terapias Celular e Molecular do Hospital Infantil da Filadélfia, disse que, no futuro, os pesquisadores podem injetar genes em crianças de 3 anos de idade, até 6 meses de idade, em ambos os olhos. “Isso nos daria a melhor probabilidade de salvar o que for possível da função visual”, disse High.
O experimento teve sucesso em parte porque o corpo não armou uma resposta imunológica que destruiu o vírus invasor. Bennett disse acreditar que isso se deva ao fato de que “o próprio olho é fechado” e “protegido da irrigação sanguínea”, para que o composto injetado “não escape”.
High disse que, embora os pesquisadores esperassem melhorias visuais se estabilizassem depois de cerca de oito semanas, “muitas pessoas relatam uma melhoria contínua”. Isso sugere que seus cérebros podem estar se adaptando continuamente a seus novos sistemas visuais.
“Não é apropriado chamar isso de cura, pois não sabemos quanto tempo isso vai durar”, disse ela. “Porém, é certamente uma reversão da cegueira”.