A maioria dos pais não percebe o problema. Acha que é coisa da idade e que um dia passa. Mas crianças e adolescentes que permanecem horas diante do computador jogando ou “conversando” em sistemas de mensagem online podem ser dependentes eletrônicos.
Por isso, a Santa Casa de Misericórdia do Rio decidiu abrir um ambulatório para tratar de jovens que sofrem desse tipo de compulsão. É um dos primeiros serviços do País para dependentes eletrônicos. Em São Paulo, o Hospital das Clínicas acompanha jovens e adultos viciados em internet desde 2006 (mais informações nesta página).
“É algo tão grave quanto adultos viciados em jogo ou em álcool”, acredita Fábio Barbirato, de 40 anos, chefe da psiquiatria da Santa Casa do Rio.
O serviço começa a funcionar no próximo mês. Cerca de cem crianças e jovens estão inscritos, mas nem todos são necessariamente viciados. Há jovens que sofrem de compulsão. Outros, porém, podem ser apenas casos típicos de falta de limites.
“Os pais não foram criados na era digital. Na época deles, as crianças se reuniam para jogar War e outros jogos de tabuleiro. Não sabem muito bem como lidar com o computador e estabelecer os limites para os filhos. E os jovens que têm predisposição a desenvolver compulsão, com o tempo acabam ficando dependentes.”
Segundo Barbirato, a Associação Americana de Pediatria defende a tese de que crianças e jovens com até 17 anos não deveriam passar mais do que duas horas por dia usando o computador como diversão. Esse é o limite saudável. “O uso exagerado pode provocar sedentarismo, problemas de aprendizado e dificuldade no relacionamento social. A criança se isola, não convive mais com outras pessoas. E, pelo tipo de linguagem que eles usam no computador, ainda ficam mais propensos a cometer erros de ortografia.”
O adolescente que tem compulsão vai aumentando progressivamente o tempo que passa no computador. “Ele deixa a vida de lado para ficar conectado. Geralmente tem queda no rendimento escolar e reduz o seu círculo social. É algo que ele não consegue controlar”, completa o chefe da psiquiatria. Quando é proibido de ficar no computador, o jovem apresenta um quadro de abstinência semelhante, em alguns casos, ao apresentado por viciados em drogas. “O adolescente fica agressivo. É algo patológico.”
Os sintomas de abstinência mais comuns são depressão, isolamento, angústia, ansiedade e agressividade. “Há casos de jovens que chegam a roubar dinheiro para ir a lan house. É muito sério”, diz Barbirato.
O primeiro passo do tratamento é orientar os pais e tratar o jovem por meio de terapia. “Nos casos mais graves temos que recorrer a remédios. Esses jogos são cada vez mais estimulantes e provocam reações no cérebro.” Segundo o psiquiatra, o Brasil ainda não despertou para o problema. “Fala-se pouco disso aqui. Nos Estados Unidos já vem sendo debatido em congressos de psiquiatria. Justamente por essa razão, resolvemos implantar o serviço voltado para crianças e jovens na Santa Casa”, afirma.
DEPRESSÃO
Estudo publicado na edição mais recente da revista Psychopathology afirma que quem passa muito tempo na internet tem mais propensão a apresentar sintomas de depressão.
Mas os psicólogos da Universidade de Leeds, no Reino Unido, não sabem dizer se é o uso excessivo da rede que causa depressão ou se os deprimidos é que procuram fugir da realidade no mundo virtual.
Foram pesquisados 1.319 britânicos de 16 a 51 anos. Desses, 1,2% era viciado em internet e passava mais tempo que a média em sites com conteúdo sexual, de games ou de comunidades online. Tinham também incidência maior de depressão do que os usuários normais.
SAIBA MAIS
Segundo especialistas do HC, pessoas que se encaixem em pelo menos 5 dos 8 itens abaixo devem procurar ajuda psicológica porque podem estar fazendo uso abusivo da internet. São eles:
Preocupação excessiva com a internet
Necessidade de aumentar o tempo online para ter a mesma satisfação
Ter de fazer esforços para diminuir o tempo de uso da internet
Apresentar irritabilidade e/ou depressão
Apresentar instabilidade emocional quando o uso da internet é restrito
Permanecer mais tempo conectado do que o programado
Ter o trabalho e as relações familiares e sociais em risco pelo uso excessivo
Mentir para os outros a respeito da quantidade de horas conectadas