Nesta terça-feira (3), pela manhã, na Casa do Médico, em Presidente Prudente, ocorreu o encontro “Caps – Trabalhando para uma sociedade melhor”, organizado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) – Álcool e Droga (Caps AD). Profissionais da saúde defenderam políticas públicas eficientes para enfrentamento das drogas.

“Políticas públicas eficientes e ágeis, sobretudo por parte do governo federal, para um melhor enfretamento de drogas lícitas e ilícitas”. É assim que profissionais da área médica definem uma melhor forma de prevenção quanto ao consumo de substâncias psicoativas, tais como o álcool, o crack, entre outras substâncias químicas. No evento, que reuniu mais de 270 pessoas, o prefeito Milton Carlos de Mello ‘Tupã’ (PTB) foi representado pelo secretário municipal de Saúde, Sérgio Luiz Cordeiro de Andrade.

Sem referenciar dados regionais, justamente por não existir um estudo recente que aponta tal estatística, a médica psiquiátrica e coordenadora do Programa de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Vânia Sato Ikuhara, expôs que um levantamento nacional encomendado pelo governo federal e divulgado recentemente mostrou que em âmbito nacional, 2,3% dos jovens são usuários de crack. Droga que segundo ela, é uma das piores existentes em decorrência do alto poder de dependência química. “A maioria que fazem experimento desse tipo de substância ilícita acabam viciados, se tornam na verdade dependentes do crack para sobrevivência. Enquanto que na verdade, ao invés de trazer essa ‘satisfação’ que muitos alegam, ele traz de fato um alto poder de destruição física e principalmente social. Muitos chegam até roubar para aquisição da droga. São coisas gravíssimas que nossa sociedade está vivendo e que muitas vezes não quer enxergar”, diz.

Ainda de acordo com ela, o álcool que na maioria das vezes é considerado a porta de entrada para as drogas também preocupa em território nacional. “Cerca de 12% da população brasileira, entre jovens e adultos, são dependentes deste tipo de droga lícita. Dessa taxação porcentual, entre 6% e 7% são jovens, o que nos preocupa ainda mais. Por outro lado, vale ressaltar que 50% dos brasileiros, são absistémicos, isto é, já experimentou ou não o álcool, e que atualmente não fazem ingestão de bebida alcoólica nenhuma”, detalhou. “Enquanto não tivermos uma política pública eficiente e que surta resultados, essas estatísticas continuaram aumentando, e aí reverter esse atual cenário ficará cada vez mais difícil”, completa Ikuhara.

O pensamento é o mesmo da coordenadora técnica do Caps de Prudente, Mônica Tolomei Cassimiro. “O Caps tem uma função extremamente importante, só que o número de unidades existentes no País é ainda é muito pouco se comparado à demanda que temos hoje. Então, o que precisa nos ajudar propagar essas informações são políticas públicas que alcancem efetivamente o território nacional e que sejam bem desenvolvidas e planejadas para o contexto de cada realidade”, acredita.

Cassimiro lembra que a unidade prudentina atende atualmente 208 pacientes/mês, classificados em regimes de atendimento, de acordo com a gravidade e necessidade dos sintomas. Assim, são homens e mulheres acima de 18 anos, e adolescentes com idades entre 13 e 17 anos, que passam por tratamento nos regimes intensivo (três vezes por semana, em período integral, isto é, manhã e tarde), semi-intensivo (duas vezes por semana, também em período integral) e não-intensivo (a cada quinze dias ou uma vez por mês, dependendo do caso). “O que o município faz é extremamente importante, mas também temos a consciência de que nosso trabalho não é o suficiente, por exemplo, para vetar fronteiras que estão permitindo a entrada de drogas no Brasil, e repensar a permissão de propagandas alusivas ao álcool que passam na televisão aberta e que são altamente influenciadoras. Quem tem que trabalhar nesse sentido é o governo federal”, acrescenta.

Para o secretário municipal de Saúde, o encontro oportunizou uma atualização de diversos temas e conhecimentos relacionados ao trabalho de profissionais que lidam com pacientes dependentes químicos. “Principalmente nessa área as coisas de fato têm evoluído muito rápido. Além das drogas por si só, muitos têm feito a junção de várias delas para consumo próprio, sem contar que o consumo do crack já torna o ‘cara’ dependente em uma única semana. Este tipo de capacitação tem que ser feito com frequência, e o Caps está sabendo fazer bem isso”, diz.

O secretário municipal também frisou que o município vai implantar tão logo um novo Caps que prevê tratamento psicológico para adolescentes dependentes de álcool e drogas, e que hoje dão entrada na unidade já existente, através de encaminhamento do Poder Judiciário, por cometerem crimes ou delitos, em decorrência da dependência. “Estaremos abrindo um Caps exclusivo para este tipo de público, no prédio onde hoje, por enquanto, funciona a UBS [Unidade Básica de Saúde] da Cohab”, disse.

A psicóloga da penitenciária masculina de Emilianópolis, Maria Rita Oliveira Biazotto, marcou presença no evento e também avaliou a importância do evento. “Trabalho com uma população carcerária de mais de 1,4 mil presos. Destes, 10% são usuários dependentes de drogas. Sem contar que existem outros que alegam consumir por vontade própria. Então para nós [de Emilianópolis] é importantíssimo vir buscar informações complementares aqui [em Prudente] para que possamos aplicá-las no trabalho de acompanhamento que já fazemos na prisão, dentro da necessidade de cada detento”, opina.

A também psicóloga do Centro de Saúde de Álvares Machado, Claudia Gomes Ribeiro, era outra profissional que estava entre o público que assistiu atentamente às palestras. “Um evento dessa magnitude serve para que possamos melhor estruturar os atendimentos destes pacientes químicos na região, sobretudo com o aprimoramento dos trabalhos já realizados. Em Machado, por exemplo, não temos um Caps como Prudente. Aliás, não existe nenhum programa específico para este tipo de atendimento lá. A pretensão é implantar. Mas mesmo assim viemos colher informações para que possamos melhor orientar àqueles que nos procuram buscando informações acerca do enfretamento das drogas”, frisa.