Enquanto se vive, sempre há tempo para tudo. Esse ditado popular pode valer para muitas situações, mas definitivamente não se aplica quando o assunto é maternidade. Nesse quesito, o tempo é implacável. Mesmo com os avanços fantásticos ocorridos nos últimos anos na medicina, especificamente na área de reprodução humana, e com a constatação de que estamos vivendo mais em comparação ao passado – na época dos faraós, no Egito antigo, poucas pessoas chegavam aos 45 anos e hoje, segundo o IBGE, a expectativa média de vida gira em torno dos 72 anos – ainda existem limitações para as mulheres que querem engravidar na fase madura, também chamada de idade da loba.

Não adianta. Não tem acordo. Apesar das várias conquistas no campo profissional – podemos ser engenheiras, físicas nucleares, motoristas de táxi, presidentes de empresas e exercer várias outras ocupações que eram de domínio exclusivo dos homens -, e de vitórias importantes no campo pessoal – temos a liberdade de viver a nossa sexualidade como bem entendemos, o que era impensável há apenas poucas décadas -, a biologia não nos acompanhou no mesmo compasso. A realidade tem confirmado que o tempo é mesmo um fator limitador. Se para uma mulher jovem a chance de engravidar por ciclo é de 30%, para as balzaquianas esse percentual cai para 20%. Após os 40 anos, apenas 5% terão filhos naturalmente.

É injusto, não há dúvida. Numa época em que há tanto para se fazer, em que (quase) tudo é permitido, em que a cosmética evoluiu a ponto de contribuir para que possamos parecer mais belas e jovens por mais tempo, não é de se admirar que uma mulher acabe postergando a maternidade. O universo de possibilidades se expandiu e, com isso, nada mais natural do que querer tornar-se múltipla. E nesse afã de tentar abraçar o mundo com as mãos, o tempo passa muito mais rápido do que conseguimos perceber e quando finalmente o despertador do relógio biológico toca, vemos que estamos próximas aos 40 minutos do segundo tempo, quando as possibilidades de marcar o tão sonhado gol diminuem drasticamente e podem até inexistir sem a ajuda de um técnico experiente.

A boa notícia é que as mulheres que querem ser mães já contam com vários e excelentes “técnicos”, ou seja, médicos, muitos dos quais reconhecidos internacionalmente e experts em reprodução assistida e que utilizam as mais variadas técnicas de reprodução, que se aperfeiçoam a cada dia. Em muitos casos, as chances de sucesso são grandes. Mas mesmo assim, requerem boa dose de paciência, determinação e repetição exaustiva das tentativas.

Pessoalmente não passei por isso e tenho duas lindas filhas. Mas conheço muitas mulheres que não tiveram a mesma sorte. Sei como pode ser frustrante e sofrido o processo de querer engravidar e precisar passar por uma verdadeira maratona para transformar o sonho em realidade. Se isso já é complicado para as mulheres jovens, que também apresentam essa dificuldade mas que têm o tempo a seu favor, imagine para as que já passaram dos 40, em que cada dia faz, de fato, diferença.

É importante saber que hoje existem ferramentas mais práticas e fáceis de usar que podem auxiliar as mulheres a monitorar seus períodos de fertilidade. Um dos exemplos é um auto-teste que pode ser comprado em farmácia e que tem como trunfo o de ser um importante aliado, não só da mulher que está tentando engravidar, mas também do médico que a está auxiliando nesse processo. Com ele, a mulher pode saber quando está em seu período fértil, com margem de acerto superior a 99%, porque consegue detectar qualitativamente o aumento do Hormônio Luteinizante (LH) que ocorre por um breve período, no meio do ciclo menstrual. Esse aumento, chamado de pico do LH e que pode ser identificado na urina, é o causador da ovulação.

Saber quando isso acontece, com alta margem de acerto, pode reduzir em muito o tempo gasto em tentativas de engravidar. Através de testes como esse, a mulher sabe quando está fértil e se tiver relações sexuais nesse período, suas chances de sucesso aumentam consideravelmente.

Como bioquímica, especializada em biologia molecular, sei que o auto-teste é apenas uma ferramenta coadjuvante no complexo processo de reprodução, mas seu uso pode contribuir para que uma mulher realize o sonho de ser mãe. Lobas ou gatinhas, conservadoras ou modernas, profissionais ou donas de casas, ousadas ou tímidas, não importa em qual grupo se encaixem, todas igualmente merecem concretizar este belo projeto. Que a natureza e a ciência as abençoe nessa caminhada.