Das usuárias brasileiras de crack, 29,3% já ficaram grávidas ao menos duas vezes desde que começaram a usar a droga, segundo o “Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil”, divulgado nesta quinta-feira (19) pelo Ministério da Justiça em parceria com o Ministério da Saúde.
A pesquisa questionou mulheres que usaram regularmente o crack e/ou drogas similares (pasta base, merla e oxi) nas 26 capitais, no Distrito Federal e em nove regiões metropolitanas e municípios de médio e pequeno porte do país em 2012. Cerca de 10% relataram estar grávidas e outras 10% disseram que não sabiam se estavam.
Entre elas, 22,8% disseram já ter engravidado duas ou três vezes desde que iniciaram o uso da droga – com percentual maior entre as usuárias das capitais (24,2%) -, 17,3% engravidaram pelo menos uma vez (15,3% nas capitais), e 6,5% engravidaram quatro vezes ou mais desde o início do consumo (7,3% nas capitais). A maioria das usuárias do país (53,4%) disse nunca ter engravidado desde que começou a consumir a droga (53,2% nas capitais).
Ainda segundo o perfil, as mulheres usam a droga por menos tempo do que os homens. Enquanto eles consomem crack por uma média de 83,9 meses, elas usam por 72,8 meses. Entretanto, as mulheres consomem mais pedras por dia do que os homens: 21, em média, contra 13.
As mulheres também lideram o ranking quando o assunto é se prostituir para sustentar o vício, isto é, trocar sexo por dinheiro ou mesmo por drogas: 29,9% das usuárias contra apenas 1,3% dos usuários.
Maioria dos usuários é jovem e vive na rua
O perfil mostrou ainda que metade dos usuários de crack do país (aproximadamente 50%) é de jovens adultos de 18 a 30 anos, predominantemente do sexo masculino (78,7%).
A maioria dos usuários é formada por solteiros (60%) e grande parte não usa preservativos quando fazem relações sexuais por via vaginal (39,5%). De acordo com o perfil, pelo menos 5% destes usuários já foram infectados pelo vírus HIV no país, sendo 5,9% entre os usuários das capitais e 3% entre os moradores dos municípios.
Ainda entre os usuários de crack, apenas 20% são brancos e 80% ‘não-brancos’ (pretos e pardos).
O perfil mostra ainda que a maioria dos usuários (55%) estudou até a 8ª série do Ensino Fundamental e menos de 5% têm nível superior completo ou incompleto.
Entre os usuários brasileiros de crack e/ou drogas similares, aproximadamente 40% vivem nas ruas; dado superior nas capitais (47,3%) e menor nos municípios (20%). E a maioria (64,9%) faz sua fonte de renda por meio de trabalhos autônomos ou bicos – dado superior nas capitais (67,6%) e também alto nos municípios (59,2%) – e por ganho de esmolas (12,8% dos usuários brasileiros no total; 13,4% nas capitais e 11,6% nos municípios).
Ainda segundo o perfil traçado pelo governo, mais da metade dos usuários de crack e/ou similares já foi presa pelo menos uma vez, sendo que 41,6% foram detidos no último ano.
As principais causas da detenção são pelo uso ou posse de drogas (13,9%), assalto ou roubo (9,2%), furto, fraude ou invasão de domicílio (8,5%) e tráfico ou produção de drogas (5,5%).
Ainda segundo o levantamento, cerca de 80% dos usuários utilizam a droga em espaços públicos, embora esses entorpecentes sejam ilegais no país. De acordo com o levantamento, entende-se como público os locais de circulação e interação de pessoas ou locais possíveis de serem visualizados ou visitados facilmente por não se tratarem de espaços privados.
Outro levantamento divulgado hoje pelos ministérios aponta que pelo menos 370 mil pessoas usaram crack ou drogas similares regularmente nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal em 2012. Destas, 14% foram menores de idade, ou aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes, de acordo o levantamento “Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País”.
As capitais do Nordeste, proporcionalmente, foram as que somaram o maior número de usuários entre os menores de idade, correspondendo a pelo menos 28 mil pessoas, segundo o levantamento que considerou as definições dos próprios usuários, sem comprová-las por exames clínicos.
Definiu-se como “uso regular” o consumo da droga por pelo menos 25 dias nos últimos seis meses, seguindo definição da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) referente ao uso contínuo de entorpecentes.
Estimativas de uso regular nos últimos seis meses de drogas ilícitas (exceto maconha) e de crack e/ou similares, nas capitais do Brasil, por macrorregião
A estimativa encontrada nas capitais e no DF para a população desses municípios que consome crack e/ou similares de forma regular é de, aproximadamente, 0,81%, o que representaria 370 mil usuários.
Nesses mesmos municípios, estima-se que o número de usuários de drogas ilícitas em geral (com exceção da maconha) foi de 2,28%, ou seja, aproximadamente 1 milhão de pessoas. Os usuários de crack e/ou similares correspondem a 35% desses consumidores de drogas ilícitas nas capitais do país.