O assunto suicídio é um tema que requer muito cuidado principalmente por parte da mídia. Neste final de ano houve registros de casos tanto em Dracena quanto em municípios vizinhos, na maioria das vezes, situações que causaram comoção na sociedade.

O Jornal Regional seguindo o princípio do jornalismo sério não faz publicações de matérias quando ocorre uma ocorrência desta, por ser a supressão da própria vida.

Há vários registros mostrando que, dependendo do foco dado a uma reportagem sobre o tema, pode-se contribuir para o registro de mais casos de suicídio. Por outro lado, especialistas afirmam que uma boa matéria retratando o assunto também pode ajudar pessoas que se encontram sob o risco de se matar, ou mesmo àquelas enlutadas pela perda de um ente querido. E mais, pode levar a discussão para as políticas públicas de saúde, que muito têm a ver com o assunto.

Foi com esse propósito que a reportagem do Regional buscou tratar o tema que vem sendo discutido na redação há algum tempo. Num primeiro momento, a reportagem encontrou dificuldades em encontrar um profissional que abordasse de maneira clara e correta o assunto tão delicado que ainda gera polêmicas na sociedade.

Posteriormente, a professora e coordenadora do curso de Psicologia da Unifadra, Andréa Frizo de Carvalho Barbosa encarou o desafio e concedeu a entrevista. Ela aponta algumas características frequentemente observadas em uma pessoa e que a leva a atentar contra a própria vida.

Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) o suicídio responde como uma das três principais causas de mortes entre pessoas economicamente ativas com idade entre 15 e 44 anos e como a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 19 anos. Os idosos também apresentam alto risco de cometer suicídio.

A psicóloga relata que os estudos nesta área revelam que cerca de 90 a 95% dos casos de suicídio acontecem em indivíduos com algum diagnóstico psíquico, tais como a depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, dependência de álcool ou de outras drogas psicoativas.

Segundo ela, a depressão vem sendo comumente associada a esses casos, e os sinais dessa patologia muitas vezes podem ser observados. Aprender a reconhecê-los precocemente poderia favorecer uma intervenção rápida e eficaz, o que tentaria evitar algumas tentativas de suicídio.

A orientação é ficar alerta a mudanças no comportamento de uma pessoa, independente da idade (adolescente, jovem e adulto), da condição financeira e estabelecimento profissional. Entre os sintomas característicos de depressão incluem-se algumas alterações do comportamento, a pessoa mostra-se frequentemente mais entristecida, com menos vontade de sair de casa, mais isolada e apática. “Tudo isso são indícios de que alguma coisa não está legal. Para caracterizar uma depressão, vai depender da frequência, da intensidade desses sinais. Percebemos que a pessoa deprimida tem uma tristeza permanente, um isolamento social, alterações comportamentais que até então não faziam parte da vida dela. Reconhecer esses sinais é muito importante, pois se reconhecidos, é possível fazer um trabalho preventivo”, explica Andréa Frizo.

O ditado popular que diz ‘quem se mata não avisa’, para a psicóloga é só um mito, segundo ela, quem se mata pode ter sim avisado, seja esse comunicado através dos sinais de isolamento e depressão ou até mesmo falando claramente que quer morrer, por não aguentar mais a vida que tem. “A questão é, o quanto a outra pessoa escuta esse sofrimento. Estudos apontam que um suicida em si, não tem vontade de morrer, mas sim de se aliviar de uma dor e um sofrimento psíquico muito grande. E para tentar se aliviar dessa dor procura um meio, como por exemplo, se matar. E algumas dessas tentativas acabam levando a morte. O número de pessoas que já pensaram ou tentaram o suicídio sem de fato morrer é muito maior do que quando comparado com aquelas que acabam se matando.”, acrescenta Andréa.

Para aqueles que se sentem ou conhecem pessoas nesta situação, fica a orientação de procurar uma ajuda através de profissionais da área da psicologia ou da psiquiatria, para que possa ser feito o diagnóstico e o tratamento específico. Na maioria das vezes, o tratamento inclui medicamentos e psicoterapia. “É preciso buscar ajuda, pois o indivíduo em sofrimento não vê alternativa ou uma saída para o alívio daquela dor e isso muitas vezes vai levá-lo a esse ato que nos assusta tanto”, diz.

Andréa Frizo cita ainda que o tratamento pode levar muito mais que um ano ou ainda para os casos graves será desenvolvido a longo prazo. Em casos de reincidência numa tentativa de suicídio, a família deve estar sempre em alerta. A orientação é buscar o quanto antes a ajuda de profissionais especializados. “Se existe uma tentativa anterior, os riscos são grandes de cometer novamente. Uma das orientações é evitar deixar esta pessoa sair ou ficar sozinha durante o período inicial do tratamento, onde normalmente a pessoa está mais fragilizada”, ressalta.

Alguns problemas cotidianos são citados como desencadeadores desses pensamentos e tentativas de suicídio, tais como uma desilusão amorosa, desemprego, entre muitas outras situações, no entanto, a psicóloga informa que “o que é preciso entender é que para aquela pessoa, naquele momento e diante do seu estado psíquico, o sofrimento é enorme e precisa ser acolhido, independente dos nossos valores e percepções. O cuidado com esse indivíduo fragilizado é tarefa de todos, do psicólogo, psiquiatra e família, mas infelizmente, apesar de todos os cuidados, tratamento medicamentoso e psicológico, apoio familiar, muitas vezes não será possível evitar o suicídio”, enfatiza a psicóloga.

Andréa acredita que nos dias de hoje, as pessoas estão lidando de uma maneira ‘pior’ com seus problemas. “A verdade é que a gente vive numa sociedade individualista e isso faz com que as pessoas se tornem mais solitárias e isoladas. Outro fator é que se trata de uma sociedade que prega o tempo todo, a felicidade, com isso, nem todas as pessoas conseguem ter uma vida feliz. Por isso, acredito que hoje estamos diante de uma sociedade mais frustrada, de pessoas mais decepcionadas, muitas vezes consigo mesmas, e isso acaba favorecendo não o suicídio, mas ao adoecimento psíquico”, revela a profissional.

“Nunca se falou tanto em depressão, em transtorno bipolar ou tantas outras doenças psíquicas. Em consequência disso, surgem os casos de suicídio já que as pessoas muitas vezes não encontram outra maneira de se aliviar da dor naquele momento. Pensar em prevenção do suicídio é pensar em detecção precoce de sinais e sintomas, para que recursos sejam favorecidos (psicológicos e psiquiátricos) para esse indivíduo assistido em suas necessidades”, menciona a psicóloga.

Andréa Frizo finaliza alertando que atualmente a fila de espera por atendimento de um psicólogo ou psiquiatra na rede de apoio de serviço público é enorme devido à grande demanda de pacientes. “Infelizmente tratando-se de saúde mental, no Brasil, a gente vai precisar caminhar bastante ainda para conseguir atender toda a demanda existente, melhorando o acolhimento e o atendimento das pessoas que estão em sofrimento”, conclui.

DADOS NACIONAIS – Segundo a OMS, a estimativa é que quase 3 mil pessoas cometam suicídios todos os dias no mundo – uma a cada 40 segundos. Segundo a entidade, a atitude deve ser observada de maneira coletiva entre governos e sociedade civil.

Os números da Organização Mundial da Saúde são impressionantes. A cada ano, aproximadamente 1 milhão de pessoas morrem no mundo todo por cometer suicídios, um crescimento de 60% nos últimos 45 anos. Para cada caso consumado de suicídio, há 20 tentativas.

Embora tradicionalmente o número de suicídios seja maior entre idosos, verifica-se o aumento da incidência de óbitos entre os mais jovens.

A informação mais surpreendente, entretanto, é que o suicídio é previsível em 90% dos casos. O entendimento dos especialistas é o de que a informação clara e objetiva pode salvar vidas, tal como já acontece em campanhas de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis, tabagismo, câncer, doenças do coração, dengue, etc.

AJUDA – O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza um serviço voluntário nacional de apoio emocional e prevenção do suicídio reconhecido como de utilidade pública pelo próprio Ministério da Saúde. Fundado em 1962, o CVV está presente hoje em 18 estados, incluindo o Distrito Federal, onde mobiliza um exército de 2.200 voluntários que se disponibilizam para ouvir com atenção quem liga procurando ajuda: alguém que deseja conversar, desabafar, compartilhar o que quer que seja. Há também aqueles que pensam em se matar, segundo informações do site da OMS.

O voluntário guarda sigilo da conversa e não julga aquele que faz contato. O atendimento se dá pelo telefone 141 (24 horas por dia), ou pessoalmente nos 72 postos existentes no País, ou ainda pela internet através do site – www.cvv.org.br, via chat, VoIP (Skype) e e-mail.

Toda essa estrutura é mantida pelos próprios voluntários, que recebem aproximadamente 1 milhão de ligações por ano.

NA CIDADE – Em Dracena, a Clínica de Psicologia da Unifadra, também realiza atendimento a pacientes de depressão. O atendimento é de segunda a sexta-feira, no período da manhã à noite. A clínica está situada na avenida Vitória, 209. Mais informações pelo (18) 3821-2068.

A orientação é que aqueles que precisem de ajuda procurem apoio médico o quanto antes no seu município para saber qual a maneira necessária de ser atendido, por um psicólogo ou psiquiatra.

NA REGIÃO – A Delegacia Seccional de Dracena(Deinter-8), que abrange 10 municípios da microrregião e também a Delegacia Seccional de Adamantina, divulgaram dados estatísticos, por cidade, relativos aos casos de suicídio, no período de janeiro a novembro de 2012 e 2013. O balanço revela que houve 28 casos de suicídios tanto em 2012 como neste ano na região de Dracena. Já na região de Adamantina, foram 8 casos em 2012, e 5 este ano.

Nos períodos analisados, o município de Santa Mercedes foi a única cidade a não apresentar nenhum registro. Entre os municípios com maior incidência este ano se encontra Dracena com 11 casos; Junqueirópolis e Tupi Paulista, com quatro, ambas.