O Ministério da Saúde pretende dobrar a capacidade de transplante de medula óssea no Brasil, sobretudo o alogênico – quando doador e receptor são pessoas diferentes. A notícia foi anunciada pelo coordenador-geral do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Heder Murari Borba, no 28º Congresso da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, em Belo Horizonte (MG). No evento, que começou ontem (14) e termina no domingo, Borba anunciou ainda que o ministério vai passar a regular os leitos dos hospitais transplantadores em âmbito nacional, a partir de janeiro do ano que vem.
“Se um médico não conseguir vaga para internar o paciente naquela semana, vamos remover esse paciente para um lugar onde haja vaga e assim aumentar a velocidade de progressão na lista desses pacientes”, disse o representante do ministério. A regulação nacional também vai possibilitar mensurar a sobrevida dos pacientes.
Heder Murari Borba explicou que o esforço do país, nos últimos dez anos, foi o de constituir o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) – mapas genéticos de doadores voluntários, quando não há doador na família, que é hoje o maior do mundo, com 3,4 milhões de registros. “Agora não temos mais dificuldades de encontrar doadores, a dificuldade é alocar os potenciais receptores para fazer o transplante”, comentou ele, que não divulgou os valores dos aportes financeiros. “Não estou autorizado, mas o que há é a decisão política de ampliação”, garantiu.
O ministério prevê a ampliação do serviço sobretudo no Norte e Nordeste, onde não existe nenhum hospital credenciado para esse tipo de transplante. Nas demais regiões a ideia é ampliar os leitos e equipes nos hospitais credenciados já existentes. Ao todo 70 hospitais oferecem transplante de medula do tipo autólogo, quando o paciente é o próprio doador, e 29 unidades são credenciadas para transplantes alogênicos, entre pessoas que não são parentes, que é o mais complexo.
A presidenta da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, Lúcia Silla, comemorou o aumento do número de leitos e a iniciativa de um sistema nacional para viabilizar o agendamento das 200 pessoas que atualmente aguardam por uma transplante não aparentado. “O aumento de leitos tem sido nossa bandeira há algum tempo. Há mais de dois anos houve o compromisso de liberar mais verbas para a ampliação de leitos, mas isso não aconteceu. Acho que desta vez essa situação ficou bem clara para o Sistema Nacional de Transplantes, que está bem sensibilizado ”, disse. “Não há sentido ter mais de 3 milhões de doadores voluntários se não há como atender a demanda”.
Lúcia lembrou que devido ao acúmulo de pacientes que precisam de transplante não aparentado, o transplante aparentado, que é mais simples está sendo prejudicado. A médica concorda que a construção de um centro de transplantes de medula alogênica, não aparentada, no Nordeste é necessária, mas enfatizou que não se deve pulverizar os recursos em novos centros e sim fortalecer os já existentes. “Esse tipo de transplante é muito complexo, pois as chances de rejeição são bem maiores, por isso requer uma estrutura hospitalar de última geração para o diagnóstico, além dos remédios para combater infecções virais complicadas”, explicou ela.
O transplante de medula óssea – órgão que produz as células sanguíneas, consiste na substituição da medula doente por células mãe do sangue sadias de um doador compatível. As leucemias agudas são as principais causas de transplantes no Brasil e no mundo, que devem ser necessariamente alogênicos.