Como se forma um atleta? Dedicação absoluta aos treinos, alimentação balanceada e boa hidratação são a base de uma performance esportiva de alto impacto. Os esportistas consultam com frequência ortopedistas e fisioterapeutas para manter a saúde física; nutricionistas, para obter melhor desempenho a partir da alimentação; mas se esquecem, normalmente, de um cuidado fundamental: a saúde bucal. A impressão que se tem é de que, enquanto não surgir uma dor de dente, uma inflamação, ou até mesmo uma infecção, ninguém se dá conta do quanto manter uma boca saudável pode evitar diversas doenças e garantir melhor resultado. Mais ainda: com a ingestão frequente de bebidas esportivas e a grande vulnerabilidade aos traumas na região da boca, o papel do cirurgião-dentista vai muito além de tratar – sendo fundamental também na prevenção. Caso contrário, essa é uma conta que todo atleta terá de pagar.
De acordo com o doutor Alexandre Barberini, que integra a Comissão de Saúde Bucal nos Esportes da APCD (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas), além de manter uma perfeita higiene oral, o uso do protetor bucal durante atividades físicas – principalmente aquelas que expõem o atleta ao risco de traumas, como esportes de contato e jogos de equipe – deve ser uma preocupação constante. “O protetor bucal separa os arcos ao ser encaixado ao longo dos dentes. Não somente age absorvendo o choque, como também evita que a tensão e o estresse levem o paciente a fazer força de oclusão, pressionando a mordida. Mais recentemente, estudos demonstraram como o uso dessas peças de proteção bucal também pode ser benéfico para melhorar o desempenho durante exercícios, lazer e trabalho”.
Estudo desenvolvido na Universidade do Tennessee demonstrou que os homens podem melhorar sua capacidade de agarrar e defender bolas em 67% e as mulheres em 93% ao inserir um mordedor entre os dentes – que acaba atenuando a pressão. “Esse hábito de apertar os dentes, forçando a mordida, não é comum apenas em quem sofre de bruxismo noturno. Costuma ocorrer com mais frequência do que se imagina em pessoas sob forte estresse, quer seja durante atividades esportivas, quer seja durante outras atividades, já que o corpo tenta minimizar o estresse provocado pela cobrança e pela ânsia de se sair bem”, diz Barberini.
O especialista em odontologia nos esportes diz que muitos atletas com excesso de cortisol no organismo acabam sofrendo de bruxismo (ranger de dentes noturno que, se não tratado a tempo, pode amolecer todo tecido de sustentação dos dentes), enxaqueca, insônia, fadiga crônica, hipertensão, depressão e baixa no sistema imunológico. “Como um sintoma leva ao outro, o ranger de dentes é o primeiro a ser tratado, já que o paciente vai sentir alívio imediato, podendo dormir com melhor qualidade de sono e recuperar as forças para o dia seguinte, podendo focar mais em suas atividades”.
Outro problema odontológico comum em atletas provém do consumo excessivo de bebidas esportivas, cujas fórmulas prometem a reposição dos sais minerais e nutrientes perdidos durante intensa atividade física. Estudos revelam que o pH dessas bebidas acelera a erosão dos dentes, aumentando a incidência de cáries. “A erosão dental é a perda do tecido duro da superfície dos dentes. Essa é uma perda muito agressiva para a saúde oral, levando o paciente a sentir dor e sensibilidade exagerada (sensação de pequenos choques ao contato com bebidas quentes ou geladas). O problema, quando não tratado devidamente e no tempo certo, pode levar à perda dos dentes e ao comprometimento da aparência como um todo”, diz Barberini. O especialista dá uma dica para os atletas que não abrem mão de bebidas energéticas e esportivas: “Além de fazer bochechos sempre após a ingestão dessas bebidas, o atleta deve fazer uso de canudinhos para restringir ainda mais o contato do líquido com os dentes”. (Fonte: Dr. Alexandre Barberini, membro da Comissão de Saúde Bucal nos Esportes da APCD – Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas – www.apcd.org.br)