De acordo com dados divulgados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em cada 100 partos nos hospitais privados no Brasil, 88 são realizados por meio de cirurgias cesarianas. Em maternidades públicas, são 46.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, classificou recentemente como epidemia o número de cesárea que vem ocorrendo no País. Em virtude disso, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) quer que as clientes de planos de saúde tenham acesso a informações como, as taxas de cesarianas por estabelecimento de saúde e por médico, a fim de orientar a escolha do profissional que as atenderá. A proposta da ANS prevê também que os hospitais privados serão obrigados a apresentar um documento detalhando o trabalho de parto, o chamado partograma, que registrará as contrações e condições do feto. A intenção é que exista um documento registrando os motivos da opção pela cesariana. Sem partograma, os estabelecimentos de saúde não poderão receber o pagamento pelo serviço.
As propostas da ANS não preveem mudança nos valores pagos aos médicos por partos normais nem por cesarianas. Segundo o ministro, as diferenças de valores não são causa determinante do predomínio de partos cirúrgicos. Chioro destacou que é preciso mudar a cultura do País nesse aspecto.
O atual texto da resolução da ANS exige o preenchimento e a apresentação do partograma, mas não impede que um estabelecimento de saúde receba o pagamento por cesariana comprovadamente desnecessária. As propostas ficarão abertas a consulta pública até o próximo domingo, 23. Interessados podem acessar www.ans.gov.br
Em conversa com a reportagem do Jornal Regional, a ginecologista e obstetra, Luci Carla Pereira Cuchereave, conta que a categoria médica está muito desvalorizada pelo SUS e devido a isso, acaba acumulando vários cargos, a maioria opta por atender mais pacientes de uma vez só. Por isso, na maioria das vezes, os médicos acabam induzindo a paciente a fazer a cesárea, por se tratar de um procedimento muito mais rápido, fácil e seguro.
Luci Carla, que também é professora do curso de Medicina na Unoeste (Presidente Prudente), pontua que as vantagens do parto normal são fisiológicas, porque toda mulher foi preparada para ter o parto normal. “Esse tipo de parto tem muito mais vantagem, porque logo após, a mãe pode amamentar o bebê. Isso também faz com que o útero contraia mais rápido e tenha menos sangramento”, diz.
Em alguns casos é necessário fazer os pontos no períneo (grupo muscular que fica na base da pelve), onde mais tarde os pontos acabam caindo sozinhos. “A dor que a mulher for sentir no períneo é irrisória em relação à cesárea. Atualmente existe analgesia de parto (para paciente sentir menos dor), o que também já é disponível no SUS”, explica a médica.
O problema e a maior preocupação que afligem boa parte das mulheres são em relação à dor do parto. Para se ter uma ideia, o trabalho de parto pode levar até 12 horas, no caso normal. A vantagem é que a recuperação é rápida, e na maioria dos casos em uma semana a puérpera já está liberada para retomar todas as atividades diárias, garante a ginecologista e obstetra.
CESÁREA – O parto cesáreo representou 84,6% dos nascimentos via planos de saúde em 2013. Na rede pública, esse percentual ficou em 40%. E, na saúde como um todo, em 55,6%. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que não passe dos 15%.
De acordo com o Ministério da Saúde, as cesarianas triplicam o risco de morte materna e aumentam em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido.
Luci Carla avalia que a cesárea é ‘salvadora’, tem indicação para salvar a mãe ou o bebê. É algo estabelecido, porque não deixa de ser uma cirurgia, mas atualmente esse tipo de parto está banalizado, na maioria dos casos a mãe vai preparada para o parto, com os cabelos escovados e maquiagem, como se fosse a algum evento social.
Na cesárea, o corte na barriga é feito em sete camadas da pele até chegar ao bebê. Alguns pontos podem levar até 60 dias para serem absorvível, os feitos do lado externo da pele precisam ser retirados pelo médico, havendo um risco maior de infecção caso o local não seja higienizado adequadamente pela paciente.
A médica pontua que quando a cesárea é programada e a mulher não entra em trabalho de parto, o bebê pode ter uma insuficiência respiratória, o que pode levar a necessidade de uma UTI. O maior problema é que na microrregião de Dracena, a UTI neonatal mais próxima está situada em Presidente Prudente e o deslocamento até a outra cidade pode gerar alguns transtornos.
“Quando a mãe opta pela cesárea existe a possibilidade de haver lesões em alguns órgãos internos. A vantagem deste tipo de parto é que em aproximadamente 40 minutos é feito todo o procedimento da cirurgia. No entanto, o pós-cesárea é extremamente doloroso e a recuperação é bem lenta, na qual, a mulher não pode fazer qualquer tipo de esforço físico”, avalia.
Outra vantagem deste tipo de parto é uma maior segurança para gestantes com hipertensão, diabetes, com fetos em posição inadequada ou em sofrimento.
PARTO DOMICILIAR – Trata-se de procedimento onde é possível ter o bebê na banheira ou em cócoras. Esse tipo de parto ainda gera muita polêmica entre os médicos.
De acordo com Luci Carla, a Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) tenta informar as pacientes em relação a esse tipo de parto devido ao alto índice de procura por esse tipo de procedimento e os diversos riscos que pode ocasionar tanto ao bebê quanto a gestante.
“Há uma chance grande do parto não evoluir para o parto normal ou ter uma complicação e isso pode acarretar vários problemas, já que a paciente não está em ambiente hospitalar. Por isso, a Febrasgo não aceita esse tipo de parto e tenta orientar as pacientes quanto ao risco com a falta de estrutura técnica e mão-de-obra profissional que pode até acarretar na morte do recém-nascido”, analisa.
CONVÊNIOS – A ginecologista e obstetra pontua que no Sistema Único de Saúde (SUS) a paciente não tem direito de escolher se irá querer ter normal ou cesárea. A gestante faz todo o acompanhamento no posto de saúde e irá ser encaminhada quando entrar em trabalho de parto para o plantonista que estiver naquele dia na Santa Casa. No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que 15% de cesáreas ocorram pelo SUS, o restante, é necessário parto normal.
No convênio, já é possível a gestante escolher o tipo de parto que ela quer, e em conversa com o obstetra decidirem a melhor via de parto para essa paciente.
O Brasil hoje é o campeão de cesárea. Pelo menos, 75% dos partos são cesáreas, até mesmo no SUS. No convênio esse número pode chegar a 90% desse tipo de parto, que faz o País ostentar o nada honroso título de campeão mundial de cesarianas. “Mas isso geralmente é a paciente que quer, por falta de informação e por ter essa falsa impressão de que a cesárea vai ser mais tranquila. A mulher hoje trabalha e deixa para engravidar mais tarde, e ouve o relato de uma conhecida que fez cesárea, por exemplo, e ela acha melhor pela história da conhecida optar pela cesárea, com medo do parto normal por sentir dor”, conta.
A médica avisa ainda, que cada organismo reage de uma maneira e que cada tipo de parto deve ser abordado com o médico durante as consultas.