Nos últimos dias, a população está em alerta em decorrência do grande número de casos de dengue em Dracena. Os moradores estão assustados e o medo de contrair a doença é visível, apesar de que alguns ainda parecem não ter entendido o quão grave é a situação, já que insistem em não colaborar com a limpeza de seus quintais.
Apesar de todos os cuidados estarem sido direcionados a epidemia de dengue na cidade, a população não pode se esquecer também da existência da leishmaniose.
Em menos de um mês, a médica dermatologista Marilda Milanez Morgado de Abreu atendeu neste ano, seis pacientes diagnosticados com leishmaniose tegumentar (ou cutânea). Os infectados foram pessoas de diversas faixas etárias, entre eles jovens, adultos, idosos e até mesmo uma criança, sendo os pacientes das cidades de Dracena, Tupi Paulista, Nova Guataporanga e Junqueirópolis.
De acordo com a dermatologista, a maioria dessas pessoas contraiu a doença em áreas com muito mato e próximo a rios, onde há grande quantidade do mosquito palha.
Diferente da leishmaniose visceral transmitida ao homem por meio da picada do inseto vetor Lutzomyia longipalpis, a leishmaniose cutânea é transmitida ao homem pela picada das fêmeas de flebotomíneos infectadas. Esses insetos têm hábitos noturnos e vespertinos, atacando o homem e os animais principalmente no início da noite e ao amanhecer.
Marilda explicou que os principais reservatórios da leishmaniose tegumentar são os animais silvestres. Porém, a população da zona urbana deve se atentar por que o mosquito está se adaptando próximo a áreas desmatadas.
Um morador de Dracena, 63 anos, que preferiu não se identificar também realiza o tratamento contra a leishmaniose desde o início do ano. O dracenense ficou assustado com a ferida que começou a crescer em na pele dele e a família preocupada acreditou que poderia ser até mesmo um câncer de pele devido ao tamanho da úlcera. O morador fez a biópsia e confirmou a leishmaniose cutânea.
Este paciente não possui cães em na residência onde mora e a limpeza do quintal está sempre em dia. Entretanto, a família se preocupa com as condições de alguns quintais e lotes, próximos a casa.
Segundo a médica ainda não há uma prova exata de que o cão seja importante na transmissão da leishmaniose cutânea como ele é na leishmaniose visceral. No entanto, o rato doméstico pode ser um dos principais hospedeiros da doença na zona urbana. “Antigamente contraía a doença apenas aqueles que iam para o mato, mas hoje está cada vez mais comum nas áreas urbanas, devido à adaptação do inseto nessas áreas. Inclusive os humanos podem conviver normalmente com um cão infectado, desde que não haja o mosquito naquela área”.
Assim que o indivíduo é picado pelo mosquito, no local da picada começa a aparecer uma bolinha vermelha, que aumenta de tamanho, se torna um nódulo, formando uma ferida, popularmente conhecida como Úlcera de Bauru. Marilda ressaltou que a úlcera não cicatriza com o uso de medicamentos, sejam eles pomadas ou antibióticos.
A leishmaniose tegumentar é uma doença de notificação compulsória. Todos os casos devem ser comunicados aos órgãos de saúde pública. O tratamento dura aproximadamente 20 dias e é fornecido pelo SUS com injeções de metil glucamina. “É importante que a pessoa faça as injeções em um ambiente preparado para emergência, porque a medicação possui determinada toxicidade e pode ser cardiotóxico, hepatotóxico, nefrotóxico e para fazer a aplicação do medicamento o paciente passa por avaliações, exames e eletrocardiogramas”, contou a médica.
Marilda ainda avisou que em pacientes com problemas cardíacos a injeção de glucamina é descartada e no lugar são aplicadas substâncias de segunda linha.
Para identificar a leishmaniose cutânea é necessário realizar uma biópsia de pele para encontrar o protozoário no tecido, entretanto, a leishmania só pode ser encontrada na fase inicial da doença. Para a fase mais avançada da leishmaniose, existe um teste reativo mais conhecido como Reação de Montenegro de grande valia na identificação da infecção.
Contudo, Marilda informou que muitas vezes o diagnóstico é clínico e o médico procura saber os locais em que o paciente esteve nos últimos dias. “Se a pessoa vai para uma área endêmica não há um medicamento que impeça o contágio então é necessário se proteger ao máximo, com calças compridas, camisetas com mangas longas, botas e em prevenir com repelentes nas áreas que ficaram expostas como mãos e face”, comentou.
Já na área urbana é importante principalmente manter os terrenos limpos. E se cuidar com repelentes e inseticidas. “A prevenção da leishmaniose é exatamente a mesma da dengue: acabar com o vetor”, salienta a dermatologista.
Marilda disse que já atendeu alguns casos esporádicos de leishmaniose tegumentar, mas está surpresa com o número de casos neste início de ano. “Desde quando estou em Dracena, nunca atendi tantos casos ao mesmo tempo”.
Se não diagnosticada ou tratada incorretamente, a leishmaniose tegumentar pode até cicatrizar, mas o paciente continuará com a doença e ficar ainda mais grave e se tornar a leishmaniose cutâneo-mucosa, com manifestações nas mucosas nasal e oral, com lesões na pele, no nariz, destruição da cartilagem nasal, desabamento do nariz, lesões na boca com perfuração do palato e feridas na garganta.
O paciente ainda deve ter acompanhamento médico durante todo o tratamento, e se dentro de três meses houver dúvidas sobre a cura, repete-se o tratamento. Caso haja resistência do protozoário ao medicamento, opta-se por um segundo tipo de tratamento com outros medicamentos.
FISCALIZAÇÃO – Assim como a dengue, a Vigilância Epidemiológica (VE) realiza visitas de rotina os Agentes de Controle de Vetores fazem orientações de Manejo Ambiental de como manter os quintais limpos e longe do mosquito palha. Quando a equipe constata muita sujeira, matéria orgânica em decomposição, galhos e folhas em excesso – criadouros do mosquito palha – o agente entrega uma ficha de orientação com providências que o morador deve tomar, como por exemplo: varrer e rastelar folhas e frutos, ensacar e colocar para a coleta do lixo; capinar o quintal; eliminar ou enterrar adubo orgânico armazenado ou em produção e recolher fezes de animais.
Nesta ficha é dado um prazo ao morador e na data marcada o agente retorna ao domicílio, e caso as providências não sejam tomadas, o supervisor entra em contato para tentar resolver o problema, se mesmo assim o caso não for resolvido, é encaminhado ao setor de competência (promotoria, assistência social, etc).
Em 2014, houve quatro casos de leishmaniose visceral e dois casos de leishmaniose tegumentar, em Dracena. Neste ano, a Vigilância contabiliza apenas um caso da visceral.
Quando há casos positivos da doença em humanos é realizada a nebulização na casa do doente e nas casas próximas com o inseticida da leishmaniose, conhecido como Alfacipermitrina. Assim como a dengue, há multa fixada no valor de quatro Unidades Fiscais do Município (UFMs), para aqueles que não cumprirem as medidas estabelecidas pela VE.
A VE em parceria com a Secretaria de Agricultura disponibiliza caçambas (para famílias de baixa renda) para a realização de limpeza dos quintais, além de realizar semanas de mobilização com palestras e vídeos educativos em escolas, associações e panfletagens em lojas do comércio, postos de saúde, feira livre, entre outros pontos estratégicos.