Em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde (ANS) anunciaram normas para o estímulo do parto normal e redução da quantidade de cesarianas desnecessárias no Brasil.
O índice de partos cesáreas é de 52%, chegando a 88% na rede privada, enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda no máximo 15%. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe.
Arthur Chioro, ministro da Saúde, avaliou a nova medida e classificou como epidemia o número elevado de cesarianas no Brasil: “É inaceitável a ‘epidemia’ de cesarianas que vivemos hoje em nosso País. Não há outra condição, senão tratá-la como um grave problema de saúde pública. Em 2013, foram feitos 440 mil partos cesáreos. Não só temos um problema, mas um problema que vem se agravando ano a ano”
As novas medidas dizem que os obstetras devem utilizar o ‘partograma’, documento que registra os motivos da opção pela cesariana. Além de detalhar o trabalho de parto e os registros de contrações e condições do feto, sem o partograma, os estabelecimentos de saúde não poderão receber o pagamento pelo serviço.
Diante das discussões estabelecidas após a decisão do Ministério da Saúde, a reportagem do Jornal Regional procurou saber o que algumas mulheres realmente acham das normas recém estipuladas.
A cabeleireira Taynara Toyonaga, 26 anos, deu à luz ao seu primeiro filho, em maio do ano passado e durante os nove meses de gravidez disse ter sofrido muito com os sintomas da gestação e sempre esteve certa de que iria optar pela cesariana, para poupar seus últimos esforços após um período difícil.
“O parto normal deve ocorrer naturalmente e não ser induzido a ponto da criança nascer com sequelas por conta do esforço da mãe. Sofri bastante durante a gestação, mas após uma cesariana, meu filho nasceu perfeito, disse Taynara se referindo ao pequeno Felipe de apenas dez meses.
“Sou a favor do parto normal desde que a mãe esteja em total acordo”.
Mesmo optando pela cesariana, após o parto, a jovem desmaiou cinco vezes até terminar o efeito da anestesia raquidiana. Ainda assim, Taynara não se arrepende da escolha e sempre teve o apoio do marido e dos familiares.
A manicure Jéssica Lobo de Araújo, 23 anos, também optou pela cesariana. Mas essa nem sempre foi a opção dela. Antes de engravidar, Jéssica sempre dizia que escolheria o parto normal, mas após relatos de amigas e a opinião do médico, solicitou a cesariana.
Um dos maiores tabus do parto normal é a dor. Este parto é sem dúvida mais natural do que a cesárea porque é o bebê que decide a hora certa para vir ao mundo, sinalizando que está maduro e pronto para enfrentar a vida fora do útero. Contudo, alguns médicos afirmam que as novas normas do Governo não estão de acordo com a condição atual das maternidades no País. Várias delas estão em más condições de funcionamento com profissionais sobrecarregados e alguns procedimentos são até improvisados.
“Para a realização do parto normal, é necessário que um enfermeiro obstetra acompanhe a gestante durante todo o processo até o momento do parto quando o médico chega, mas com a falta de profissionais atualmente fica praticamente impossível oferecer esse atendimento”, explicou um médico obstetra da cidade que preferiu não ter o nome divulgado.
A representante comercial Suzane Barateli, 24 anos, está prestes a dar à luz ao seu primeiro filho e após optar pelo parto normal, foi informada por seu médico que o procedimento não seria possível, uma vez que o bebê se encontra sentado (posição pélvica), sendo necessária a intervenção da cesariana.
Suzane aceitou numa boa a decisão do médico, visto que nessas condições seria melhor para ela e para o bebê. Ela acredita que a decisão de normal ou cesárea deve ser exclusivamente da mãe, que em um momento tão delicado e marcante da vida, saberá o que é melhor para ambos.
A cesariana, de fato, salva muitas vidas, pois nem todo nascimento seria bem-sucedido de maneira natural, por limitações de saúde ou físicas da mãe, do bebê ou de ambos. Portanto, não se pode simplesmente taxá-la como má escolha, em defesa do parto normal. Segundo Marco Antônio Lenci, obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, o melhor parto é aquele que preza pela segurança da mãe e do bebê e garante um final feliz para todos, independentemente de ser normal ou cesáreo.