Inferir com precisão o que acontecerá nos próximos meses e anos no país com relação à zika não é tarefa fácil, mas as previsões são preocupantes. O boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde, que leva em consideração o ano de 2015, confirma a transmissão autóctone do vírus em 19 estados da federação. Se traçarmos uma comparação com os dados disponíveis para chikungunya, que computam 2014 e 2015, com autoctonia em apenas 9 estados naqueles anos, veremos que em um período tão curto de tempo a zika avançou de uma forma que impressiona até mesmo os mais otimistas. Em meio a tantos debates e embates sobre o avanço da doença, há aqueles que, como Andrew Haddow, virologista do Departamento de Defesa americano, sugerem que devemos nos preparar para conviver com a zika de forma endêmica, assim como já ocorre com a dengue. Não creio que ele esteja errado.
Historicamente o ser humano tende a temer o que desconhece. No caso em questão, não há outro meio de desvendarmos o inimigo senão através de um investimento maciço e coordenado em pesquisas relacionadas ao vírus zika. Nesse sentido, o desenvolvimento de vacinas, terapias e diagnósticos específicos, baratos e rápidos são peças fundamentais para vencermos a batalha. São, contudo, medidas de médio-longo prazo, como por exemplo a vacina contra zika, que, na melhor das hipóteses, estará disponível apenas daqui a três ou quatro anos.
Por isso, não podemos nos esquecer do combate ao elo mais importante entre o vírus e nós, seres humanos: o mosquito vetor. É fundamental a adoção de políticas públicas mais eficientes, que promovam o fortalecimento das secretarias municipais, estaduais e federais de vigilância e a capacitação de agentes de saúde. Além disso, juntos, governo e academia precisam adotar um diálogo mais intenso, franco e responsável com a sociedade, a fim de orientá-la e conscientizá-la, desde os mais jovens até os mais velhos. E finalmente, quando necessário, adotar medidas consideradas impopulares, tais quais multas e penalidades para aqueles que de forma negligente permitem a formação de criadouros do mosquito em suas propriedades.
Sem detrimento ao desenvolvimento das pesquisas já mencionadas acima, que devem continuar a ser incentivadas e priorizadas, é fundamental refletirmos sobre o que disse Anthony Fauci, Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, em entrevista concedida à Folha de São Paulo: “Para o Brasil, a prioridade máxima deve ser o combate ao mosquito”.
Jayme Souza-Neto é Jovem Pesquisador Fapesp e Coordenador do Laboratório Vectomics do Instituto de Biotecnologia da Unesp.