Com um discurso firme e bem articulado, Merula Steagall, presidente da Abrale – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia abriu o 3º Congresso Brasileiro Todos Juntos Contra o Câncer, na última terça-feira (27), no Sheraton Events Center do World Trade Center, em São Paulo. Ela destacou o objetivo do evento, do qual a Abrale foi o organizadora, como um esforço para somar conhecimentos e recursos para o fortalecimento e cumprimento da política nacional de prevenção e controle do câncer. “É preciso reduzir as diferenças regionais e a mortalidade e o impacto da doença na vida dos brasileiros a médio e longo prazo, além de melhorar a gestão, regulação, fiscalização e o uso de recursos existentes”.
Outro ponto abordado por Merula foi a necessidade de ampliar a integração entre o sistema de saúde pública e privado e articulação entre as esferas federal, estadual e municipal. O médico Fernando Maluf, um dos mais renomados oncologistas do País, chefe da Oncologia Clínica da Beneficência Portuguesa – Hospital São José, e membro do Comitê Diretivo do Hospital Albert Einstein, em uma de suas palestras foi enfático ao afirmar que a “incidência de câncer no país é o próprio sistema de saúde pública”. Ele também comparou os tratamentos privados, onde pacientes têm à disposição drogas modernas e mais caras e lamentou que o SUS não possa proporcionar isso aos doentes. A judicialização dos remédios de alto custo também esteve na pauta de outras palestras.
Outros assuntos polêmicos também, como a PEC 241 que está em tramitação na Câmara – por 20 anos os gastos do governo seriam limitados para a saúde e educação, ao que foi aplicado no ano anterior mais a inflação do período – os problemas de gestão pública, o paradigma dos biossimilares, já disponíveis no Brasil e seus impactos. A formação de grupos de trabalho multisetorial como o inovador Go ONGs, cujo objetivo é proporcionar a todo cidadão brasileiro acesso aos avanços da oncologia contemporânea, a esclarecedora explanação de Advocacy, ferramenta de mobilização política para maior engajamento numa causa pública – exemplo a lei nacional anti-fumo, a humanização dos tratamentos, os cuidados paliativos, dor oncológica enfoque de vários tipos de câncer, práticas integrativas no SUS, educação a distância para o terceiro setor e profissionais da saúde, foram outros tópicos das palestras.
Fernando Maluf e o dr. Riad Younes desenvolveram o tema A nova cara do Câncer – Medicina Personalizada em Oncologia: Visão atual e perspectivas futuras. Younes, diretor clínico do Hospital Sírio Libanês abordou o tratamento personalizado: “Nos dias de hoje, o paciente chega ao consultório informado sobre sua doença. Ele não aceita mais, passivamente, o que o médico preconizava em um passado não muito distante. Ao lado dessa personalização está um tratamento humanizado com um canal de comunicação médico-paciente bem delineado”.
O congresso TJCC teve a participação, além de oncologistas de grande experiência, como Antonio Buzaid (Beneficência Portuguesa e Albert Einstein, Phillip Scheinberg (Hospital São José) Sidney Klajner, Wilson Leite Pedreira Junior, Miguel Cerondoglo Neto (Albert Einstein), de advogados, engenheiros, farmacêuticos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, especialistas em educação, profissionais de várias partes do País. Jornalistas tiveram a função de mediar os encontros: Ricardo Boechat, Sabrina Parlatore, Heródoto Barbeiro, Carlos Sardenberg, Roberto Cabrini Monica Waldvogel, entre outros.
Cerca de mais de uma centena de empresas, associações e entidades ajudaram a realizar o TJCC. O patrocínio diamante foi da Roche, laboratório que convidou a Avapac. Outros 18 laboratórios deram suporte ao evento, que reuniu mais de duas mil e quinhentas pessoas. Entidades de voluntários de combate ao câncer de vários estados brasileiros foram a maioria do público presente.
“Para nós, da Avapac, a atividade foi muito proveitosa”, comentou a presidente Mariza Buccironi. “Tivemos a oportunidade de conhecer outras associações semelhantes, numa troca positiva de experiências. O mais marcante foram as palestras nos dois dias do evento (terça e quarta). Muitas aconteciam no mesmo horário e decidir por uma delas não foi tarefa fácil. Mas tudo valeu a pena e foi muito enriquecedor”.