A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) derrubou por terra um mito para pacientes e até profissionais da saúde: o de que todas as mulheres com quadros de doenças bacterianas, parasitárias ou virais devem interromper a amamentação para não contaminar o filho. De acordo com os especialistas do Departamento de Aleitamento Materno da SBP, pensar dessa forma é um erro, sendo que cada caso deve ser avaliado em função de suas características.

INFECÇÕES – O trabalho “Doenças maternas infecciosas e amamentação” mostra que a maioria das doenças infecciosas bacterianas maternas não contraindica o aleitamento materno. Por exemplo, quadros de mastite e de abcesso mamário não são considerados de infecções invasivas e, por isso, não impedem a prática do aleitamento, que poderá ser mantido se o tratamento com antibióticos for instituído e material drenado do abcesso não tiver contato direto com a boca da criança. Já infecções mais graves, como meningite, osteomielite e septicemia, exigem a interrupção temporária da amamentação por um curto período (de 24 a 96 horas) após o início do tratamento.

Muitas mães quando estão com doenças diarreicas suspendem a amamentação, o que não precisa ser feito, segundo o Departamento de Aleitamento da SBP. A presidente do DC, dra Elsa Giulianni, explica que, na verdade, os agentes que causam diarreias nas mães podem ser importantes contaminantes externos, principalmente do leite materno ordenhado. Ela acrescenta que doenças parasitárias, de maneira geral, também não configuram impedimento à amamentação, pois não há transmissão de parasita pelo leite humano.

Neste caso, a exceção conhecida ocorre na doença de Chagas, quando o parasita pode contaminar o leite humano. Para o departamento, há evidências, entretanto, de que a infecção aguda no lactente parece ter evolução benigna e a descrição de sequelas é rara. Logo, informam os especialistas, a contraindicação da amamentação deve ser aplicada apenas na fase aguda da doença.

TUBERCULOSE E HANSENIASE – Em pacientes com tuberculose, se a mãe foi tratada por duas ou mais semanas antes do nascimento do filho pode amamentar sem qualquer restrição, mas a criança deve receber a vacina BCG logo após o nascimento. Contudo, se a mãe for portadora da tuberculosa multidroga resistente, que é uma forma mais grave da doença, a separação da criança do contato da mãe deve ocorrer para evitar contaminação. Só que leite materno pode ser ordenhado e oferecido à criança até a mãe estar curada.

Mesmo a hanseníase, doença que assusta as pessoas, não indica necessariamente o desmame, dizem os especialistas. Se a doença não estiver em fase contagiosa, não há contraindicação para a amamentação. No entanto, o a criança de uma mãe infectada pela doença deve ser submetida periodicamente a exames clínicos para detectar precocemente possíveis sinais da doença, uma vez que é transmitida por meio de secreções nasais e da pele. 

DOENÇAS VIRAIS – Por sua vez, as doenças virais apresentam peculiaridades quanto à amamentação. As mais comuns – como febre amarela, Influenza e infecção por herpes – não requerem o desmame. Diante desses diagnósticos, as mães podem estar debilitadas e, neste caso, recomenda-se a ordenha. Já no caso das hepatites A, B e C as precauções variam.

Enquanto a infecção pela hepatite A não indica desmame, a hepatite B requer maiores cuidados, uma vez que é transmitida pelo sangue, esperma, líquido amniótico, fluidos vaginais, sangue do cordão umbilical e pelo leite materno.  O departamento explica em seu texto que o maior risco de transmissão ainda é pelo parto, quando a criança entra em contato com o sangue e secreções maternas infectadas. E alerta que tem sido discutido, inclusive, a realização do parto cesáreo eletivo para estes casos. Contudo, não há nenhuma recomendação oficial para uma cesárea quando a única razão for a contaminação por hepatite.

VIRUS HIV – Já no caso do vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV) é necessária cautela, porque pode ser transmitido de mãe para filho durante a gestação, no parto e através do leite materno. A amamentação está associada a um risco adicional de transmissão que pode chegar a 29% nos casos de infecção aguda.

As condutas em relação à amamentação de mães soropositivas para o HIV devem seguir as diretrizes de cada país. Desde 2010, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno para todas as mulheres que vivem com HIV e fazem o uso de drogas antirretrovirais. Essa orientação se baseia em evidências científicas de que o uso destas drogas pode reduzir significativamente o risco de transmissão por meio do leite materno. Mas, no Brasil, é contraindicada a amamentação para as mães soropositivas. Neste caso, os recém-nascidos devem ser alimentados com fórmulas infantis.