caso do garoto em Teresópolis (RJ), que morreu de febre amarela mesmo já tendo tomado a vacina há cinco anos, e o do vigilante no Distrito Federal, que morreu apesar de ter sido imunizado duas vezes (em 2000 e em 2011) são incomuns, garantem especialistas e a Fiocruz.

Os casos caem na chamada “falha vacinal”, situação especial que pode ocorrer em qualquer vacina, diz Biomanguinhos, laboratório público ligado à Fiocruz que fabrica a vacina no Brasil.

Há dois tipos importantes de falhas vacinais:

 

  • quando a pessoa desenvolve uma reação à vacina, que pode ser uma forma da doença contra a qual ela deveria imunizar.
  • quando indivíduo contrai a infecção porque a vacina acabou não funcionando.

 

 

Reação

 

O primeiro tipo de falha tem ocorrido especialmente em idosos, que tomam a vacina de febre amarela sem saber que o imunizante é contraindicado para pessoas acima de 59 anos. Indivíduos acima dessa idade e com comprometimento do sistema imune devem consultar o médico antes de tomar a vacina.

Esse cuidado é particularmente importante porque a vacina ativa o sistema imunológico com um vírus enfraquecido. O objetivo é apenas “acordar” as defesas do organismo para o caso de uma infecção por um “vírus forte” acontecer depois.

No entanto, uma pessoa saudável que tomou a vacina vai desenvolver defesas contra o contágio; mas indivíduos debilitados podem desenvolver um quadro semelhante ao da doença.

 

Morador de Valinhos, em SP, toma vacina contra a febre amarela (Foto: Reprodução/EPTV)

Morador de Valinhos, em SP, toma vacina contra a febre amarela (Foto: Reprodução/EPTV)

 

Sem ativação

 

Já no caso das duas mortes citadas acima, uma hipótese é que pode se tratar do segundo tipo de falha – quando, por algum motivo, a vacina não ativa o sistema imunológico.

 

“O primeiro ponto a considerar é que nenhuma vacina é infalível”, diz Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. “No caso da febre amarela, a eficácia é de 95%, ou seja, em 5% podem ocorrer falhas”, diz.

 

Kfouri pondera que vários fatores podem influenciar a eficácia do imunizante – como a imunidade da pessoa na hora em que ela tomou a vacina e no momento da infecção.

 

“Há a possibilidade de a pessoa adquirir uma doença crônica, ter um câncer, por exemplo, e ser infectada nesse momento, quando a imunidade dela está muito baixa”, explica Kfouri. “Isso diminui a eficácia da vacina.”

 

O laboratório da Fiocruz também aponta que é possível que a resposta imunológica sofra interferência de outros vírus e de outras infecções.

De qualquer modo, a literatura internacional, segundo Kfouri, registra 12 casos de febre amarela em vacinados. “Também foi com base nesse tipo de dado que se verificou que o reforço para a vacina da febre amarela não seria necessário”, diz.

 

“As pessoas devem tomar a vacina e é a melhor forma de prevenção. Esses casos ocorreram naquela pequena porcentagem em que podem ocorrer falhas”, diz Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Arboviroses.

 

 

Na internet, família de jovem que pegou febre amarela no Rio de Janeiro alerta sobre outras formas de prevenção, para além da vacina  (Foto: Reprodução | Facebook)

Na internet, família de jovem que pegou febre amarela no Rio de Janeiro alerta sobre outras formas de prevenção, para além da vacina (Foto: Reprodução | Facebook)

 

 

Infecção anterior à vacina

 

Um outro caso que gerou dúvidas foi o de uma mulher que morreu supostamente após tomar a vacina em São Paulo. Após a autópsia feita em fevereiro, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP descobriram que, na verdade, ela foi infectada pelo vírus um pouco antes de tomar o imunizante.

 

“A vacina só vai fazer efeito 10 dias depois. Para uma resposta imune completa, é necessário um mês”, explica Timerman.

 

De fato, há a possibilidade de que a pessoa se infecte quando a vacina não fez efeito ou até mesmo antes de tomar a vacina – o caso também é definido como um tipo específico de “falha”, mesmo que não esteja diretamente relacionado ao imunizante.

Segundo o “Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação”, podem ocorrer falhas quando há “infecções preexistentes com o mesmo patógeno presente na vacina” ou quando a “imunização ocorreu durante o perído de incubação de uma infecção” – como é o caso da mulher em São Paulo.

Os sintomas da febre amarela só começam a surgir entre 3 e 6 dias após a infecção. Pode ser que a pessoa procure a vacina sem saber que já está infectada. Como a vacinação está sendo feita em áreas de risco, onde já há a circulação do vírus, é possível que alguns casos ocorram no Brasil.

 

Erondes Osmar Silva, de 58 anos, morreu na quarta (3) com febre amarela. Ele tomou duas doses da vacina.  (Foto: Arquivo Pessoal)

Erondes Osmar Silva, de 58 anos, morreu na quarta (3) com febre amarela. Ele tomou duas doses da vacina. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

 

Exame para detectar a eficácia é falho

 

Mas seria possível fazer um exame para saber se a vacina funcionou?

De acordo com Kfouri, é possível verificar a eficácia da vacina por meio de um teste que analisa se foram desenvolvidos anticorpos contra o vírus.

No entanto, o teste é falho, pouco exato e não valeria a pena implementá-lo.

 

“Há quem possua a quantidade de anticorpos necessária, mas não fique totalmente protegido. Também pode ocorrer o contrário, de a pessoa ter quantidade insuficiente de anticorpos, e estar protegida”, continua.

 

O especialista explica que essa diferença pode ocorrer por inúmeras variáveis, entre elas, a diferença de imunidade entre indivíduos. No entanto, vale lembrar que as chances de falha são infinitamente menores do que de a vacina funcionar.