Era mais uma tarde tranquila na casa de Clóvis Eugênio Pinto, de 57 anos.

Como de costume, ele estava na varanda, cuidava dos pássaros e olhava o movimento da rua.

De repente uma mulher começou a passar mal.

Nessa hora, os anos de experiência como bombeiro e principalmente, a prontidão em ajudar fizeram a diferença.

Mesmo sem poder socorrê-la [Clóvis perdeu o movimento das pernas num acidente há 13 anos], ele orientou uma moça que passava no local a realizar os primeiros socorros.

Instruiu sobre a maneira correta de se fazer massagem cardíaca e a respiração de socorro, antes da chegada da unidade do Resgate dos Bombeiros.
Mais uma vez o bombeiro da reforma atuava pela defesa da vida. Agora como um instrumento.

A história de luta e superação do sargento Eugênio começa no dia 29 de abril de 1998.

O dia do seu acidente. Aos 45 anos, ele caiu sobre o telhado de uma garagem quando instalava uma torre de rádio, na sede do sub-grupamento dos bombeiros, na época, na avenida Presidente Vargas, sofrendo ferimento na cabeça e lesão na coluna.

A partir desse dia, o homem que por tantos anos esteve comprometido com a defesa da vida, da integridade física e da dignidade da pessoa humana de muitos desconhecidos, tentava defender a sua própria vida.

Foram dias internado sem recobrar a consciência. Ao despertar, a notícia da perda dos movimentos das pernas e braços. Alguns médicos não acreditavam que ele sobreviveria.

Mas, Eugênio escolheu lutar. Cinco anos mais tarde, ele recobraria o movimento dos braços. O tratamento foi e é muito exaustivo exigindo muita fisioterapia e dedicação.

Ele destaca o empenho e a ajuda do médico ortopedista já falecido Carlos Osvaldo de Carvalho Poli e da fisioterapeuta Petrô.

A lista de agradecimentos não caberia aqui, mas o bombeiro ressalta o apoio de todos os policiais militares e do Posto de Bombeiros local, que continuam o auxiliando, especialmente alguns policiais que trabalharam com ele na época – tenente Amaral, tenente Batista, Valmir, Funssati, Gerson, Oliveira, Genivaldo, Cavalheiro, Ribeiro, sargento Sinval, Natal e Sales.
A dedicação e o cuidado dos familiares e amigos, principalmente da esposa Vanir Castelani, da enteada Daniela e do filho Danilo, foram fundamentais na sua recuperação.

Atualmente, a cadeira motorizada e o carro adaptado facilitaram o seu cotidiano uma vez que possibilitam certa autonomia. As visitas dos membros da Associação dos Policiais Militares Portadores de Deficiência do Estado de São Paulo – APMDFESP são esperadas com ansiedade e alegria. “O trabalho que eles desenvolvem é muito importante”, diz.

Eugênio fez a escola de Soldados de Araçatuba e foi classificado para o 6º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano (6º BPM/M) sediado em São Bernardo do Campo. Em 1980, foi transferido para Dracena.

Atuou em vários casos, mas alguns foram marcantes, como o das fortes chuvas de março de 1988, que levaram o asfalto da vicinal Dracena-Jaciporã e provocaram um enorme buraco, que engoliu um fusca e uma camionete com 16 trabalhadores rurais, matando dois homens e uma criança.

Ele também estava presente nos dois acidentes com ônibus de estudantes na década de 90, que abalaram Dracena e região.

As ocorrências foram inúmeras e, renderiam mais matérias. A entrevista chega ao fim, a reportagem deixa a casa de Clóvis com a sensação de que ele aprendeu a se construir apesar das feridas e com a certeza de que o vermelho dos bombeiros nunca saiu dele.