A taxa de homicídios no Brasil registrou uma ligeira queda nos últimos dez anos, mas a violência se transferiu das grandes cidades aos municípios do interior, segundo um relatório divulgado hoje pelo Instituto Sangari.
De acordo com o estudo “Mapa da Violência 2010 – Anatomia dos Homicídios no Brasil”, a taxa de homicídios no país caiu de 25,4 por cada 100 mil habitantes em 1997 até 25,2 por 100 mil habitantes em 2007.
Em números absolutos, o Brasil registrou cerca de 47,7 mil homicídios em 2007, com uma média de 117 mortes por dia, segundo estatísticas do Ministério da Saúde citadas no relatório.
Mas enquanto a redução da violência se registrou principalmente nas capitais regionais, a taxa de homicídios cresceu nos municípios do interior, explicou o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, um dos autores da pesquisa.
Nas capitais regionais, a taxa de homicídios caiu de 45,7 por cada 100 mil habitantes em 1997 até 36,6 homicídios por 100 mil habitantes em 2007.
Nos municípios do interior, pelo contrário, cresceu de 13,5 por 100 mil habitantes para 18,5 por 100 mil habitantes no período estudado.
De acordo com Waiselfisz, os números confirmam a tendência de “interiorização da violência”, que começou há uma década e consiste em um deslocamento da violência das grandes cidades em direção aos pequenos municípios do interior como consequência do surgimento de novos pólos econômicos e dos problemas de narcotráfico e contrabando registrados nas fronteiras.
“A violência se dirige para onde surge dinheiro e onde há menos repressão”, assegura Waiselfisz.
Segundo a pesquisa, enquanto a violência cresceu entre 1997 e 2002 a um ritmo anual médio de 5% e até uma taxa de 28,9 mortes por 100 mil habitantes, a partir desse ano houve uma redução do 12,8%, que deixou a taxa em 25,2 por 100 mil habitantes em 2007.
Os pesquisadores atribuíram essa redução tanto à entrada em vigor do Estatuto do desarmamento – uma lei mais restritiva ao porte de armas e que permitiu recolher milhares de armas nas mãos da população – como à redução da violência nas grandes cidades.
O estudo mostrou igualmente que a violência contra os jovens entre 15 e 24 anos continua crescendo desde 1980 e que esse setor da população se transformou a principal vítima dos homicídios.
Enquanto em 1980 a média de vítimas de homicídio entre jovens era de 30 em cada 100 mil, hoje essa taxa subiu para 50,1 em 2007.
“A história recente da violência que acaba em homicídio no Brasil é a história do crescimento da violência entre jovens. Uma não terá solução sem a outra”, segundo Waiselfisz.
Outra constatação do estudo é que os homens e os negros também são as maiores vítimas da violência no Brasil.
Quase 90% das cerca de 512,2 mil vítimas de homicídio no Brasil entre 1997 e 2007 eram do sexo masculino.
Por outro lado, enquanto em 2002 morriam 46% mais negros que brancos por homicídio no Brasil, essa proporção passou para 108% em 2007.
Enquanto em 2002 morriam 1,7 negros com idades entre 15 e 24 anos para cada jovem branco vítima com a mesma idade, essa proporção passou para 2,6 negros para cada branco em 2007.