O Brasil precisa de investimentos de R$ 40 bilhões para atender à demanda de carga ferroviária prevista para os próximos anos, segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Caso contrário, as exportações brasileiras poderão ficar comprometidas, de acordo com o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Fabiano Pompermayer. Ele também alerta para a necessidade de melhoria nos portos nacionais.
“O país pode ter suas exportações comprometidas, caso não sejam implementadas obras ferroviárias. Para atender essa demanda serão necessários, no mínimo, investimentos de R$ 40 bilhões e uma extensão de cerca de 10 mil quilômetros em relação à malha atual”, disse Pompermayer, hoje (19), durante a divulgação do estudo Transporte Ferroviário de Cargas no Brasil: Gargalos e Perspectivas para o Desenvolvimento Econômico e Regional. “Consideramos ainda como desejáveis outros R$ 59,4 bilhões para obras que não estão entre as prioritárias.”
Entre as prioridades destacadas pelo estudo, boa parte está ligada aos R$ 21 bilhões em investimentos públicos e privados previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para expandir a malha dos atuais 28 mil quilômetros para pelo menos 40 mil quilômetros até 2020.
O pesquisador destaca como prioritárias as obras da Ferrovia Norte-Sul, que vai ligar a Região Norte à Centro-Oeste, chegando ao estado de São Paulo. Segundo ele, a integração da Ferrovia Bahia Oeste também é necessária, por ligar a Ferrovia Norte-Sul ao litoral do Nordeste. “Para que a produção de soja e demais grãos do Mato Grosso do Sul e dos outros estados do Centro-Oeste sejam atendidas será necessário também que a Ferroeste seja estendida até a Rondônia”, avalia.
“Precisamos adequar também a malha ferroviária do Sudeste, como a Ferroanel, em São Paulo, e as malhas em Minas Gerais e Rio de Janeiro”, acrescenta Pompermayer.
Outro estado que, de acordo com o estudo, carece de investimentos é o Paraná. “Lá, será necessária uma grande adequação de malha e a ampliação de capacidade. Só assim será possível atender toda a produção de soja do oeste do estado. Em função de a ferrovia já estar operando no limite de sua capacidade, boa parte já foi canalizada para as rodovias”.
“A capacidade do transporte ferroviário no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina também precisa ser ampliada para escoar a produção de grãos”, completa Pompermayer. “E é fundamental que chegue em portos com boa infraestrutura para evitar maiores problemas”.
Ele aponta os portos de Rio Grande (RS), Paranaguá (PR), Santos (SP) e Itaguaí (RJ) como os que mais carecem de investimentos. “Hoje, o acesso ferroviário para a maioria desses portos já está no limite. A coisa só não estourou ainda porque está se aumentando a fila de navios [aguardando os serviços portuários], e porque parte da produção foi escoada para as rodovias”.
“Há também o caso do porto de Itaguaí. A ferrovia já chegou ao porto, mas ele ainda não tem estrutura suficiente para dar conta dos grãos que chegam lá para serem exportados”, afirma Pompermayer.
De acordo com o coordenador de Infraestrutura Econômica, Carlos Campos, o comércio internacional cresceu, em valores, 130% entre 2003 e 2008. Os portos só não estrangularam por conta do investimento privado em novos equipamentos, como contêineres, transtêineres e guindastes para os terminais.
“Na verdade, o que foi melhorado foram as operações portuárias. Mas isso tem um limite e ele está próximo de ser alcançado”, disse. “O próprio setor privado acha que crescendo 5% em três anos os portos terão problemas.”