O Brasil tem o desafio de, nos próximos anos, consolidar o biocombustível como alternativa de energia limpa e auxiliar os outros países a adotarem essa tecnologia. A análise foi feita hoje (28) pelo diretor da Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Francisco Paletta, ao participar da Conferência Internacional de Biocombustíveis. O evento foi realizado pelo Centro de Estudos em Energia e Sustentabilidade (Cees), da Faap.
Ele observou que o Brasil ocupa uma posição de destaque na tecnologia do biodiesel porque lida com projetos na área há mais de 35 anos. Com isso, tem chance de assumir uma posição sólida de liderança tecnológica nesse processo. “O Brasil precisa ocupar um papel importante na América Latina e, a partir do momento que conseguir fazer dos [países] vizinhos adeptos do uso dessa energia alternativa, passaremos a construir uma massa crítica importante para o sucesso da adoção da alternativa energética”.
Outro desafio, de acordo com Paletta, é avaliar o papel dos biocombustíveis na matriz energética global, já que há uma série de debates em torno da capacidade do mundo de produzir biocombustível e, ao mesmo tempo, atender à agricultura e à pecuária. O mais difícil, na avaliação do pesquisador, é mostrar que o biocombustível é economicamente viável. “Para isso, o Brasil precisa adotar uma postura estratégica na demonstração de um modelo econômico que justifique a matriz energética como alternativa [para produção] do biocombustível, com a equação da agricultura e pecuária”.
O professor de engenharia da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Moreira, destacou que o etanol tem mais força no quesito viabilidade econômica porque a cana-de-açúcar para produção de álcool combustível não compete com a produção de açúcar, já que o plantio atual atende aos dois mercados. “Quando se fala em biodiesel, fala-se em óleo vegetal. Quanto mais óleo vegetal fizermos, mais as pessoas o usarão como alimento. Então, pegar o óleo vegetal e colocar em diesel, aí, sim, estaremos competindo com o alimento”.
Ele observou que embora haja a possibilidade do Brasil usar até 30% de óleo vegetal no diesel, isso ocorreria à custa de não exportar óleo e, assim, reduziria a sua oferta como alimento. “Isso seria muito complicado e até antiético. O biodiesel deveria ficar em 5% no diesel e nunca chegaria às proporções a que chegou o etanol, que hoje são 52% da gasolina e, em 2019, serão 85%”, disse Moreira. Ele destacou que o biodiesel ainda não tem um papel comercial porque, como sua produção é menor, o custo é alto e, por consequência, seu preço também.
Para o professor, uma solução seria ter motores a diesel funcionando com etanol, o que poderia abrir um caminho para ampliar o uso do biocombustível. “Temos em São Paulo dois ônibus rodando com motor diesel, mas que utilizam etanol, o que tem sido um sucesso”.