Para o Brasil chegar a ser uma das cinco potências econômicas mundiais nos próximos anos, a presidente eleita Dilma Rousseff terá que tratar como prioridade a educação. Sem os investimentos necessários para oferecer uma formação de qualidade para crianças e jovens, o país não terá mão de obra preparada para enfrentar as novas demandas. É preciso aumentar não só o tempo em que o brasileiro permanece na escola – a média hoje é de 7,2 anos de estudo – mas também garantir que o aprendizado seja de qualidade.
“Agora que o Brasil terá um novo governo com mais quatro anos pela frente é o momento de pensar no que precisamos para o futuro. Um país que tem ambições políticas, econômicas e mesmo de projeção internacional, como o Brasil, tem que contar com recursos humanos à altura disso”, disse o coordenador de Educação, no Brasil, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Paolo Fontani.
Ele citou o exemplo da Coreia, que investiu muito em educação para que a qualificação dos recursos humanos acompanhasse o desenvolvimento da indústria. “O Brasil está se aventurando em terrenos como o pré-sal, que vai trabalhar com tecnologias de ponta e exigirá mão de obra para entender um nível diferente”.
Quando o Brasil foi às urnas pela primeira vez, após o fim do regime militar, cerca de 15% das crianças de 7 a 14 anos estavam fora da escola. Hoje, a taxa de atendimento dessa faixa etária beira os 98%. Com o problema do acesso praticamente resolvido, especialistas e organizações da área concordam que o desafio agora é trabalhar pela educação de qualidade para todos.
“Nos anos anteriores o foco era na oportunidade de toda a criança poder estudar, hoje tem que ser na garantia da aprendizagem das crianças. Mas a garantia da qualidade é muito mais difícil de construir porque não depende de uma caneta. É um grande mosaico de fatores que o gestor precisa levar em conta de acordo com a realidade da escola”, afirmou a diretora executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Apesar de não haver uma fórmula para construir uma educação de qualidade, os especialistas apontam o professor como peça-chave desse processo. Sem remuneração adequada e bons planos de carreira para a categoria, será difícil mudar a realidade da sala de aula, defende a coordenadora geral da organização não governamental (ONG) Ação Educativa, Vera Masagão. “A escola precisa atrair talentos e pessoas motivadas. É necessário investir na formação e na valorização para que a área se torne atrativa”, afirmou.
Garantir as mudanças necessária exigirá não apenas boa vontade, mas principalmente dinheiro. Hoje, o Brasil investe perto de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) na área. O percentual está se aproximando dos patamares dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que têm uma média de 6%. Fontani lembrou que países que lideram os rankings educacionais dão prioridade orçamentária à educação há muito mais tempo do que o Brasil, que tem uma dívida maior a sanar.
“Os países ricos que investiram muito em educação hoje investem cerca de 6%. Mas aqui é preciso uma medida de choque para injetar o dinheiro necessário para que o Brasil passe a brigar com o que se investe nos outros países”, disse Fontani.