Oito em cada dez funcionários de bancos do país afirmam que o assédio moral é o maior problema que enfrentam no trabalho. É o que mostra uma pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) em junho do ano passado, com 1.203 empregados de bancos de todo país. Para a grande maioria, o combate aos abusos dos chefes é a ação mais importante a ser promovida por empresas e sindicatos.
Os resultados desse levantamento foram levados a mesas de negociação entre bancários e bancos. As discussões sobre o assunto culminaram em um acordo que visa a reduzir casos de assédios moral em instituições financeiras.
Esse acordo será assinado na quarta-feira (26) entre a Contraf e Federação Nacional de Bancos (Fenaban). O compromisso prevê a criação de um canal de comunicação entre sindicatos de bancários e bancos para que qualquer tipo conflitos entre funcionários e chefes, inclusive os assédios, possam ter a solução acompanhada pelas entidades de classe.
Para o secretário-geral da Contraf, Marcel Barros, a assinatura do termo é o reconhecimento dos bancos de que os abusos são um problema recorrente do setor. Segundo Barros, os bancários reclamam com frequência da cobrança excessiva quanto ao cumprimento de metas estabelecidas pelas empresas do setor financeiro. Reclamam também de serem expostos a situações vexatórias quando não alcançam os objetivos fixados. “Houve um caso em que um trabalhador foi indicado como o pior colocado em um ranking de resultados no meio de uma reunião com funcionários de várias agências. Ainda recebeu uma vaia dos colegas e chefes presentes”, exemplificou Barros. “Isso é uma humilhação e um tipo de assédio moral.”
O juiz Francisco Pedro Jucá, do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP), apoia o acordo entre Contraf e Fenaban, principalmente por tratar dos abusos ocorridos no setor bancário. “A questão do assédio moral é mais perceptível nos bancos”, disse ele, que afirma estar acostumado a julgar casos do tipo. De acordo com o juiz, as denúncias de assédio que chegam à Justiça têm aumentado ano a ano e partem de trabalhadores de todos os setores da economia, não só o financeiro.
O magistrado espera que o acordo entre bancos e bancários estimule a discussão do assunto e, por consequência, a redução dos casos de assédio. “Assédio moral é um assunto relativamente novo nos ambientes de trabalho do Brasil”, disse Jucá. “Precisamos aumentar a consciência de patrões e empregados sobre isso. Assédio não é uma questão somente trabalhista, mas também de dignidade humana.”
O diretor de Relações do Trabalho da Fenaban, Magnus Ribas Apostólico, admite a existência de casos de assédio no setor bancário, mas afirma que não têm relação direta com a atividade financeira. “Os gerentes são alguns dos milhares de empregados dos bancos e, às vezes, cometem erros. Os abusos ocorrem em bancos como em outras empresas.”
Apostólico ressalta que a assinatura do acordo demonstra que os bancos estão comprometidos com a redução do número de casos de assédio e têm “total tranquilidade” para tratar do problema. “Este acordo é muito importante, inclusive, para mostrar que os bancos têm grande preocupação com a transparência de como esses casos são tratados pelas empresas.”