O Comitê de Política Monetária (Copom), formado por integrantes do Banco Central, reconhece a existência de nível de incerteza “acima do usual” na economia brasileira com impactos sobre a inflação. São riscos crescentes à “concretização de um cenário em que a inflação convirja para a meta estabelecida pelo governo”. A avaliação está na ata da última reunião do comitê realizada na semana passada, quando os juros básicos da economia foram elevados de 10,75% para 11,25% ao ano.
A atual meta de inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 4,5%, podendo variar dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Na última segunda-feira (24), o Banco Central informou que analistas do mercado financeiro e investidores já estimam inflação de 5,53% em 2011.
Para os técnicos do Banco Central, as medidas adotados pelo governo para frear o consumo e conter a alta inflacionária, embora sejam um “instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda, ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços”.
“Embora as incertezas que cercam o cenário global e, em menor escala, o doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões recentes, o comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação evoluiu desfavoravelmente”, registra a ata.
Um das preocupações do comitê continua sendo a inflação dos alimentos que, segundo os técnicos, teve sua dinâmica fortemente influenciada pelo “choques de oferta domésticos e externos”. O outro impacto negativo é decorrente das condições climáticas extremamente adversas verificadas neste início de ano em algumas regiões do Brasil. “A despeito de atribuir probabilidade significativa à hipótese de que, ao menos em parte, esse processo seja revertido no decorrer do ano”.
O comitê avaliou ainda como relevantes os riscos derivados da persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda na economia brasileira, além da escassez da mão de obra provocada pelo crescimento da economia. “Note-se, também, a estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente, de mão de obra. Em tais circunstâncias, um risco importante reside na possibilidade de concessão de aumentos nominais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade”.