As sucessivas revoltas de trabalhadores em canteiros de obras das hidrelétricas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal vêm preocupando o Palácio do Planalto. Embora exista um monitoramento por parte da segurança institucional, a presidenta Dilma Rousseff preferiu tratar o assunto por meio da Secretaria-Geral da Presidência da República e escalou o ministro Gilberto Carvalho para tratar de perto a questão.
Gilberto Carvalho tem um bom trânsito e manteve conversas com os movimentos sociais na última semana, preocupado com a possibilidade de uma reação em cadeia que possa paralisar as obras em um setor estratégico para o governo, que é o de geração de energia.
Depois da revolta que parou a construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, na tarde de ontem (24) foi a vez dos trabalhadores da Usina de São Domingos, em Mato Grosso do Sul, se revoltarem. Houve tumulto entre os trabalhadores contratados para as obras da usina, no limite dos municípios de Água Clara e Ribas do Rio Pardo. Os seis pavilhões usados como alojamento foram incendiados.
Os trabalhadores queimaram ainda o centro ecumênico, o refeitório, a guarita e uma sala de informática que os funcionários usavam para manter contato com as famílias.
O ministro Gilberto Carvalho marcou uma reunião com as centrais sindicais na próxima terça-feira (29) e vai ouvir dos sindicalistas que o governo precisa ter uma fiscalização mais efetiva sobre as condições dos trabalhadores nos canteiros de obras do PAC.
“Não se pode ter nas obras do PAC condições análogas à escravidão”, disse Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), em entrevista à Agência Brasil. “É preciso que o governo fiscalize e que cumpra o que nós vamos acordar nessa reunião. Do contrário, podemos ter uma reação em cadeia”, disse Patah ao defender que não acredita em ações coordenadas dos trabalhadores, mas que teme um “efeito dominó”.
A reação em cadeia é muito provável, na opinião dos sindicalistas, porque os problemas trabalhistas que afetam os canteiros de obras de Jirau, Santo Antônio e São Domingos são parecidos.
“Os problemas têm a mesma origem. São trabalhadores em péssimas condições de trabalho. Existem situações discriminatórias de trabalhadores que exercem a mesma função. É necessário que haja um tratamento mais isonômico entre trabalhadores contratados pelas empreiteiras e aqueles contratados pelas empresas terceirizadas. São pessoas que largam suas vidas, suas famílias, e vão trabalhar para o crescimento do país. Não podem ser tratados como escravos”, destacou Patah.
A Eletrosul Centrais Elétricas S.A., responsável pela construção da usina em Mato Grosso do Sul, informou, por meio de nota, que o quebra-quebra no canteiro de obra foi causado por um grupo isolado de trabalhadores contratados pelo consórcio construtor, composto pelas empresas Engevix e Galvão. Os trabalhadores disseram que estão descontentes por causa de pendências trabalhistas.
As obras da Usina Jirau, em Porto Velho, estão paradas há mais de uma semana, desde o início dos conflitos que destruíram os alojamentos. A Usina Santo Antônio também passa pela mesma situação.
Patah afirmou que participará da reunião, na terça-feira, com Gilberto Carvalho, e que as centrais sindicais querem também conversar com o representante do Ministério Público do Trabalho. O encontro com o Ministério Público ainda não está confirmado.
As centrais também adotaram a estratégia de conversar com as empresas. No início da semana, uma das empresas do consórcio de Jirau, segundo Patah, admitiu que empresas contratadas para fornecer alimentos e remédios aos trabalhadores estariam cobrando preços abusivos dos trabalhadores, que eram obrigados a comprar somente dessas empresas.