Logo após serem despejados de um prédio que ocupavam há quatro meses, na esquina das avenidas Ipiranga e São João, no centro da cidade de São Paulo, cerca de 400 pessoas se espalharam pelas vias próximas. Parte dos sem-teto fizeram acampamento na Avenida São João.
A retirada das famílias começou a ser feita no início da manhã e ocorreu de forma pacífica e negociada entre os líderes da ocupação, a Polícia Militar e o oficial de Justiça que compareceu ao local para o cumprimento da ordem de reintegração de posse expedida pela juíza Raquel Machado Cardeal de Andrade, da 20ª Vara Cível da Justiça estadual de São Paulo.
No final da manhã, surgiu um clima de tensão quando agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) tentaram desmontar os barracos erguidos por uma parte dos desalojados no acampamento que o grupo improvisou na calçada da Avenida São João, próximo à Galeria Olido, a 100 metros do prédio desocupado. Mas não chegou a ocorrer conflito já que os agentes municipais foram convencidos pela própria PM a acompanhar a movimentação a distância, permitindo que os acampados permanecessem no local.
Durante toda a manhã, fogões, geladeiras, colchões, móveis e outros objetos iam sendo retirados do prédio que vinha sendo ocupado pelos sem-teto desde o dia 7 de novembro do ano passado. A maioria desses objetos estava sendo transportada por caminhões alugados pelos proprietários do imóvel para um depósito autorizado pela Justiça para que os bens fiquem guardados sob proteção, à espera de seus donos, por pelo menos 30 dias. Algumas pessoas, no entanto, preferiram carregar os seus pertences para outros locais.
O prédio ocupado pelos sem-teto pertence à empresa Afim Brasil Eventos e Promoções Ltda. De acordo com um dos advogados da companhia Cleber M. Perrone, na época em que o imóvel foi invadido, os proprietários, que atuam na área de confecções, preparavam-se para reformá-lo. O edifício de quatro andares está bastante deteriorado e com a fachada toda pichada.
O coordenador da Frente de Luta por Moradia (FLM), Osmar Borges, disse que a maioria dos despejados não tem para onde ir e que eles não poderiam aceitar ir para os abrigos municipais já que têm o perfil de morador de rua. “Eles têm o núcleo familiar e, no albergue, iria desestruturar esse núcleo familiar”, argumentou. Borges defendeu o direito a um espaço mais adequado até que as famílias sejam atendidas pelos planos habitacionais.
Segundo ele, a prefeitura deixou de cumprir essa obrigação. Por isso, os líderes da FLM procuraram o Ministério Público para denunciar o fato e pedir providências.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Habitação disse que ofereceu abrigo municipal e fez uma lista com os nomes dos sem-teto para posterior cadastramento nos programas habitacionais.
No comunicado, a prefeitura confirmou que a Justiça a obrigou a conceder abrigo e a incluir os desalojados nos programas habitacionais. No entanto, advertiu que a Justiça entendeu também que atender à reivindicação de moradia na região central, como querem os líderes do movimento, “seria injusto com os [demais] munícipes cadastrados na Cohab [Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo], que somam cerca de 1 milhão de famílias, que também aguardam moradia, mas, nem por isso, ocuparam imóveis particulares”.