Moradora de Pirapozinho é presa por engano pela Polícia acusada de assassinato no nordeste. O caso foi relatado no domingo (2), no programa Fantástico da TV Globo. Ela diz que foi confundida com uma mulher chamada Maria da Foice e jura que não cometeu crime algum.

Uma família destruída, que tem uma única certeza. “Minha mãe é honesta e não deve nada”, afirma o filho de Maria das Dores, Adriano Lima Pinheiro.

Maria das Dores Lima Pinheiro, quatro filhos, oito netos, moradora de Pirapozinho, 24 mil habitantes, a 600 quilômetros da capital paulista. A dona de casa está presa há dois meses, acusada de um crime que, segundo os parentes, ela não cometeu.

No dia 28 de setembro, dois investigadores em um carro de polícia tinham uma missão: prender Maria das Dores, conhecida como dona Dorinha, de 62 anos. Ela estava cuidando da mãe, de 90 anos, e do irmão doente.

Os policiais tinham um mandado de prisão. Nome, endereço, data de nascimento. Tudo conferia. Dona Dorinha foi presa, acusada de participar de um assassinato em 2005, em Pernambuco.

Para tentar esclarecer essa história, o repórter Amorim Neto esteve na cidade onde aconteceu o crime: Tacaimbó, no agreste de Pernambuco, a mais de 2700 quilômetros da cidade de dona Dorinha.

OUTUBRO DE 2005 – Antônio José da Silva, líder do MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, é assassinado.

Antônio foi morto a facadas durante uma discussão na estrada, a três quilômetros do centro da cidade de Tacaimbó. O que ainda marca o cenário do crime é o que sobrou de uma capelinha feita em homenagem a ele.

Testemunhas acusaram duas pessoas: uma senhora, conhecida na região como “Maria da Foice”, e o sobrinho dela, Geraldo Miguel da Silva, que já foi preso.

Sexta-passada (30), o Fantástico localizou uma das principais testemunhas do crime. Ela é irmã de Geraldo Miguel da Silva e sobrinha da tal Maria da Foice.

Logo depois do assassinato, a acusada fugiu. Segundo a Justiça de Pernambuco, na época, parentes da Maria da Foice passaram os seguintes dados dela para a polícia: nome, local, data de nascimento, e RG. Todos exatamente iguais aos da dona Dorinha, a senhora de Pirapozinho, que teve a prisão decretada.

“Todos os dados da sua qualificação são corretos. Então, é uma situação atípica. Agora, é um erro”, afirma o advogado de dona Dorinha, João Postigo.

O certo é que, recentemente, parentes da própria Maria da Foice entregaram uma foto à Justiça, dizendo se tratar da verdadeira assassina.

Antônio José dos Santos, filho do líder assassinado dos Sem Terra, também é taxativo. “A mulher que matou meu pai é essa de branco. Eu conheci ela, só andava em um jeguinho branco direto aí. Agora, essa daqui tá presa inocente”, fala ele ao comparar duas fotos.
Presa há dois meses em uma cadeia em Tupi Paulista, dona Dorinha divide cela com duas acusadas de tráfico de drogas.

Para o juiz Hildemar Macedo de Moraes, a Justiça não foi lenta e o assassinato ainda está sendo investigado: “Eu tenho certeza que a gente vai conseguir elucidar essa situação”.
Dona Dorinha deveria sair da cadeia ontem (3). No próximo dia 13, ela estará em Tacaimbó, para ficar frente a frente com as testemunhas do processo.