Neymar oficializou nesta sexta-feira a criação do seu instituto social no Jardim Glória, periferia de Praia Grande, Litoral de São Paulo. Os meninos do bairro onde o atacante passou parte de sua infância terão acesso a espaço para estudos, quadra poliesportiva, piscina e claro, um campo de futebol. A custo de pelo menos R$ 10 milhões será criada uma megaestrutura que a curto prazo pretende beneficiar 300 crianças da região e em cinco anos pode ajudar até 10 mil garotos.

Ueslei Silva, 11 anos, mora desde que nasceu no terreno em que está prevista a construção do Instituto Projeto Neymar Jr e sonha em ser jogador profissional, mas não poderá usufruir da novidade. Ueslei e sua família estão prestes a ser despejados. No dia 10 de dezembro do ano passado funcionários da prefeitura estiveram a ponto de retirar as 17 pessoas que vivem no local. Os moradores se mobilizaram e conseguiram impedir a ação. Mas o adeus é iminente.

Ceslino Silva, vô de Ueslei, se instalou no terreno há 40 anos e ali construiu sua casa e criou seus quatro filhos. Com a ajuda deles Celinho, como é conhecido, preparou e cercou um gramado, construiu um vestiário e a sede social do Grêmio, tradicional time de várzea da região que se orgulha de ter visto os primeiros toques de um craque, mas que em breve deve acabar.
 
“Uma senhora trouxe o menino aqui dizendo ser a avó dele. O moleque arrebentava. Eu avisei logo: ‘se encostarem no Neymar eu pego vocês”, diz o orgulhoso Seu Cilinho com a foto da estrela do Santos e da seleção brasileira ainda jovem usando a camisa do Grêmio da Praia Grande.

O ‘presidente’ do clube amador jamais imaginaria que aquela criança seria a responsável indireta pelo fim da paixão da sua vida. “O Neymar nunca disse que era daqui. Ele nunca fez questão de aparecer depois que ficou famoso”, responde ele depois de saber que o jogador escolheu o Jardim Glória como sede do seu instituto por ter passado parte da infância no final da década de 1990 no bairro. Cilinho tentou encontrar o pai de Neymar para sensibilizá-lo com sua situação, mas não teve sucesso.

Os Silva não reclamam pelo atacante ter decidido construir o projeto em sua casa. A bronca deles é com a prefeitura. Depois de muita negociação na Justiça o máximo que os moradores do terreno conseguiram foram três apartamentos no distante bairro Melvi a serem pagos em parcelas por 25 anos. Além do número ser insuficiente – quatro famílias vivem no polêmico terreno – o local dos imóveis cedidos não agrada.
“Minha mãe faz faxina nas casas por aqui, todos os clientes dela moram na região. Meu pai faz ‘bico’, e é a mesma coisa. Todo muito conhece ele por aqui. Querem mandar a gente lá para longe. Cuidamos desse lugar por toda a vida sem ajuda de ninguém. Não podem conseguir alguma coisa para a gente por aqui? Não sou contra o Neymar. Só queria que meu filho pudesse aproveitar isso tudo”, lamenta Alice, mãe do menino Ueslei.

Rodrigo, outro filho de Seu Cilinho, tem dedicado seu tempo para impedir a ação da prefeitura. Mas ele não demostra esperança em vencer essa luta. Para Rodrigo o fato de seu pai ter concorrido como vereador de Praia Grande pelo PT nas últimas eleições explica a má vontade da prefeitura com sua família. O prefeito eleito, Alberto Mourão, é de um partido adversário, o PSDB.
 
Rodrigo alega ainda que a câmara municipal aprovou a cessão do terreno para o instituto de Neymar em menos de 48h, abaixo do período exigido. O prazo para o pedido de usocapião, direito decorrente do uso de um bem por um determinado tempo, foi perdido, diz ele.

Contatada pelo ESPN.com.br, a prefeitura de Praia Grande declarou que não existe direito de usucapião sobre área pública já que a área é da prefeitura, que as famílias invadiram a área, mas foram contempladas com programa habitacional do Município e que todos os trâmites legais foram seguidos para a cessão do terreno. 

Os Silva devem ser retirados até março do lugar por onde viveram nos últimos 40 anos. “Não sei se aguentamos até lá. O Cilinho está mal de diabetes desde que surgiu todo esse problema. Tenho pressão alta, minha saúde também piorou”, lamenta a matriarca da família, Dona Alaíde.