O corpo de Emílio Santiago chegou à Câmara dos Vereadores no Rio por volta das 14h desta quarta-feira, 20. Os amigos e parentes presentes – cerca de 100 pessoas – aplaudiram de pé o cantor, que morreu pela manhã. O velório será aberto ao público até as 21h. O corpo vai passar a noite no local, que será reaberto na quinta-feira, 21, das 7h às 10h. Depois, será levado para o Memorial do Carmo, onde acontece o enterro.
Soca, secretário pessoal de Emílio, passou mal minutos depois da chegada do caixão, sentado ao lado de Zélia Duncan e Alcione. Ele foi atendido por uma médica da Câmara e levado, amparado e tremendo muito, para outro local.
A cantora Alcione foi a primeira a se aproximar do corpo de Emílio Santiago, que está coberto por uma bandeira do Botafogo e outra da Mangueira, que homenageia o centenário de Cartola. Chorando muito, ela fez uma oração e precisou ser amparada pelas irmãs. Ao deixar o local, Alcione falou novamente sobre o amigo.
“Tem horas em que eu me sinto viúva do Emílio, nós eramos uma família. Ele era um grande irmão, amigo e grande cantor desse país. Perdemos uma voz. Agora o Brasil ficou sem voz. Só temos o Cauby Peixoto”, disse.
Marília Pêra, Marcos Valle, Nana Caymmi, Elba Ramalho também estão no velório. “Em todo espetáculo que fiz, eu via o Emílio na plateia. Ele sempre ia prestigiar. Ele tinha uma técnica vocal especial, um timbre especialíssimo, uma coisa divina. Era a maior voz do país, segundo a Nana Caymmi. Para mim, era uma das maiores, porque a Nana também é”, disse Marília. Na saída do velório, ela fez mais elogios a Emílio: “Nós éramos amigos profissionais. Minha mãe era amiga íntima dele. O Brasil perdeu o veludo da voz e a técnica perfeita.”
Muito abalada com a perda do amigo, Nana precisou ser amparada a se aproximar de seu caixão e foi levada para se sentar em uma cadeira. “O Brasil vem perdendo muitas vozes. Essa agora do Emílio foi uma surpresa para todos. Foi uma fatalidade. Desde o dia 7 eu estava rezando para que isso não se estendesse porque o dano foi muito grave”, disse a cantora, lembrando que foi madrinha de formatura de Emílio: “Estou perdendo um irmão. Ele era a voz mais importante do Brasil depois de Jamelão. Acho que o Brasil sabe disso.
Nana também exaltou o trabalho do amigo: “A coisa mais importante para ele era a qualidade, o que é raro na música brasileira. As pessoas cantam suas bobagens, fazem sucesso fora do país e acham que estão criando uma grande coisa. Mentira. A música no Brasil parou depois de Tom Jobim”, afirmou ela, acrescentando que o cantor esteve em seu último show: “Mas ele não foi ao meu camarim porque tinha uma fila grande. Eu vou sempre lembrar da valsa que dancei com ela como principal amiga na formatura. Ele queria que o Brasil racista visse formado um advogado negro”.
Evandro Jr., amigo do cantor há mais de 30 anos, também falou emocionado sobre a morte de Emílio. “Perder um amigo depois dos 50 anos é complicado, são mais de 30 anos de amizade. É um amor de amigo. É como amor de tesão, fica a vida toda”, disse.
Emocionada, Alcione falou com a imprensana porta do hospital. “Eu o vi pouco antes de ele ser levado para o CTI. Passei a mão no braço dele e falei: ‘Estou aqui’. Ele respondeu: ‘Que bom, minha irmã'”, disse Alcione.
“Como que o Brasil vai poder viver sem essa voz? Como eu vou poder viver sem meu amigo? Sempre cantamos juntos, mas agora, com certeza, ele está com seu Luiz e dona Ercília, os pais dele, que gostavam muito dele. Está lá junto de muitos cantores maravilhosos, que estão fazendo festa para ele. A gente tem mais que se conformar, pedir a Deus que seja bem recebido, aos espíritos socorristas nesse momento. Ele deve estar muito bem, porque nunca fez mal a ninguém. Só cantou o amor e a beleza desse país. Agora vamos nos conformar e rezar”, lamentou a cantora.
Emílio Santiago estava internado no CTI do Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, desde o dia 7 deste mês, veio a óbito às 6h30, como informa boletim divulgado pela assessoria do hospital.
“Emílio Santiago, 66 anos, faleceu hoje, dia 20 de março, às 06h30, no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O cantor teve complicação no quadro clínico de AVC isquêmico, o que causou sua morte. Ele estava internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do hospital desde o dia 07 de março de 2013. Márcio Ananias – Clínica Médica e Terapia Intensiva”.